Dividir para conquistar

O lulopetismo tem, até agora, uma única conquista relevante no Congresso nacional: a bastante previsível aprovação de Cristiano Zanin, advogado do atual presidente da República, a uma cadeira no Supremo Tribunal Federal. Aos que imaginavam uma maioria conservadora entre os parlamentares, os exíguos dezoito votos contrários a Zanin mostram o tamanho (pífio) da resistência daquilo que poderíamos chamar de direita, conservadora e liberal. Ou seja, o restante é esquerdista, possui dobradiça na espinha ou tem preço – algo bem diferente de ter valor.

Se não há solidez na oposição, o que serve de alento é que do lado governista as coisas não andam fáceis. Ainda bem. O famigerado arcabouço fiscal não deve ser aprovado da maneira como desejava o Palácio do Planalto. O projeto de lei da mordaça (vendido propositalmente como PL das Fake News, para maquiar o caráter de censura embutido na proposta) não foi votado e não há previsão de que seja levado a plenário. A gritaria contra o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, até agora não passou de esperneio de criança mimada, um alívio.

Isso ajuda a explicar as constantes viagens (carregadas de luxo e ostentação) de Lula, Janja e grande comitiva ao exterior. É um escape, uma rota de fuga da realidade. Se a situação no Brasil é difícil, “bora” embarcar em avião da Força Aérea Brasileira, torrar a grana do pagador de impostos em hotéis de luxo e vender a ilusão de que somos protagonistas mundiais, e não um anão diplomático.

A tentativa de repetir o “Brasil Maravilha” não está dando certo. O único passo dado neste sentido foi na direção de baratear alguns veículos zero quilômetro. A indústria automobilística certamente vai aumentar as vendas (após o represamento provocado pelo anúncio precipitado de que haveria redução de preços). Quem mais sairá beneficiado? Alguns consumidores finais, mas quem deve fazer a festa mesmo são as locadoras de veículos, que agora já podem adquirir carros com preços reduzidos.

Como dinheiro não dá em árvore, prepare-se para o aumento de carga tributária. A partir do dia 1º de julho, serão retomadas as cobranças de PIS/Pasep e Cofins sobre gasolina e etanol. O menor impacto projetado aponta um aumento de R$ 0,22 no preço do litro, enquanto outros estimam reajustes superiores a R$ 0,30. O governo dá com uma mão e tira com a outra, como sempre fez quando resolve se meter de pato a ganso e gerir a economia.

Em um cenário de dificuldade no Congresso, com Lula viajando para escapar da dura realidade de Brasília e sem poder entregar picanha e cervejinha ao povão, as fichas agora estão todas na reforma tributária, tema discutido há décadas no país. E, neste caso, a estratégia governista é antiga e bastante conhecida: dividir para conquistar, algo que remete ao imperador romano Júlio César.

Como vivemos sob a égide esquerdista, mais uma vez a ordem é elevar tributos e, para aumentar as chances de vitória, o lulopetismo já definiu a estratégia: promover um racha entre os setores da economia. Segundo um trabalho realizado pelo economista Paulo Rabello de Castro, a atual proposta pode aumentar em 20% a tributação sobre o agronegócio (alimentos mais caros) e até triplicar a arrecadação com serviços – o maior setor e empregador da economia brasileira. Em contrapartida, a indústria seria beneficiada.

Pergunta para a qual o leitor, inteligente que é, tem a resposta: não seria muito mais inteligente criar as condições para produzir redução geral, a todos os setores? É, sim, importante aumentar a competitividade da indústria, especialmente diante da concorrência chinesa, mas sem onerar e prejudicar os demais setores.

Se estivéssemos em um governo liberal, primeiro veríamos uma simplificação do sistema, que reduziria incertezas e produziria maior segurança. Com maior segurança, a sonegação e a inadimplência cairiam e, a partir daí, poderíamos discutir redução de carga tributária.

No Brasil, o câmbio parece ter apenas a marcha à ré.