Fadiga e futuro

Fadiga e futuro

O viés esquerdista na imprensa francesa não é segredo, sendo um país conhecido por sua tradição de greves, sindicatos e protecionismo.

Guilherme Baumhardt

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O pendor francês pela esquerda é público e histórico. É o país das greves, dos sindicatos, do funcionalismo público e do protecionismo no seu mais alto grau. E na capital Paris isso é ainda mais forte. Neste mesmo país, sobram publicações na imprensa com linha editorial canhota. O Le Monde Diplomatique é um dos principais expoentes. Mas há outros. E, ao que tudo indica, até eles estão cansados de Lula.

Durante a semana, o jornal Libération estampou na capa: “Lula: La Decepção”, assim mesmo. E na linha de apoio, o seguinte texto, em tradução livre: “O presidente brasileiro, com dificuldades internas e no cenário internacional, e defendendo posições contrárias ao Ocidente, cumpre agenda hoje em Paris”. O mundo está mesmo do avesso. Quando franceses veem o óbvio, mas norte-americanos entram em campo para chancelar as urnas e o sistema eleitoral brasileiro (segundo reportagem do Financial Times, que acusa interferência dos EUA por aqui), é hora de olhar para o céu e ver se não há nenhum disco voador chegando.

Em meio a um cenário caótico, algumas leituras são possíveis. Internamente, parece bastante claro que há um redesenho de forças políticas. O famoso centrão continua dando as cartas por aqui, mas brasileiros liberais, conservadores ou “de direita” não se escondem mais. É um segmento com representação bem definida na política, em todos os níveis. Se até 2018 éramos levados a acreditar que o PSDB era a direita nacional, hoje ficou claro que isso é página do passado. Politicamente (e aqui está a ironia) nosso maior embate hoje está no STF. Sim, porque o Supremo resolveu fazer... política! Ele julga, legisla e, especialmente durante o governo Bolsonaro, ele tentou (e em alguns casos conseguiu) governar. Para isso só há, neste momento, um remédio: povo na rua, mesmo com medo das arbitrariedades produzidas até aqui.

Externamente há uma tentativa de reconfiguração de forças. A China não vê a hora de se tornar a maior potência global. E, pelo visto, os Estados Unidos, sob liderança democrata, estão dispostos a se curvar a Pequim. É por essas e outras que o nosso futuro (interno) passa muito mais pela próxima eleição norte-americana, do que por aspectos internos que, sim, bagunçam a nossa vida, trazem incerteza e segurança, mas são decisões de impacto e efeito mais imediato. O que seremos pelas próximas décadas estará em disputa no ano que vem, nos nossos vizinhos do norte. Se quisermos a manutenção de valores tipicamente ocidentais (liberdade de expressão e de mercado, para ficar em apenas dois exemplos), uma vitória do partido Republicano – seja com Donald Trump, seja com Ron DeSantis, é fundamental.

Em 2016, Trump foi acusado de receber ajuda russa para se eleger. A história mostrou exatamente o oposto: que Joe Biden foi auxiliado por forças externas. Pelo bem do Ocidente, é saudável que os americanos estejam atentos e, principalmente, mandem os socialistas do partido Democrata para bem longe da Casa Branca.

Até os esquerdistas franceses da imprensa já se deram conta disso, após as críticas feitas a Lula.

 


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