Humoristas sem graça

Humoristas sem graça

Sério mesmo? Só se for para defender a nomenklatura vigente.

Guilherme Baumhardt

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Depois dos isentões, dos liberais de fachada e de algumas empresas de mídia, chegou a vez de parcela da classe artística se arrepender de ter feito o “L”. A censura imposta ao comediante Léo Lins tem digitais típicas de uma ditadura construída a passos lentos, como ocorreu na Venezuela. Com base em lei sancionada pelo presidente Lula, em janeiro deste ano, Ministério Público e Justiça encontraram razões para proibir um comediante de fazer humor. E foram além: Lins teve o seu direito de ir e vir limitado.

Nos dias seguintes à censura, alguns comediantes (não todos) saíram em defesa do colega e criticaram a decisão. O que assusta é o silêncio de outros tantos, em especial daqueles que fizeram campanha para o atual presidente da República. Não gera surpresa, mas talvez seja revelador de caráter. E alguns ainda esperavam coerência desta turma.

Sério mesmo? Só se for para defender a nomenklatura vigente. O jornalista Fernando Gabeira já nos ensinou há bastante tempo: a esquerda jurássica brasileira nunca quis restabelecer democracia alguma durante o regime militar. Queria apenas trocar uma ditadura por outra.

Aos que não assistiram, eu faço o convite: vejam a apresentação que motivou a ação contra Lins enquanto ela está no ar em alguns canais. Não há nada ali que justifique a decisão tomada pela Justiça. O caminho, caso alguém tenha ficado ofendido, é buscar reparação, inclusive financeira. Jamais o banimento do conteúdo. O histórico brasileiro neste sentido sempre foi o de preservação da liberdade. Ao menos no passado. Em outros países, um episódio assim, de censura, viraria escândalo nacional. Em Banânia, a atenção dedicada ao tema ficou muito longe da gravidade do caso e do foco que ele merece.


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