O retorno

O retorno

Guilherme Baumhardt

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Após quase três meses nos Estados Unidos, Jair Bolsonaro tem desembarque previsto no Brasil nesta quinta-feira. Aos que diziam que o ex-presidente não sabia fazer política, a quinta-feira talvez reserve uma surpresa. Tudo depende da recepção que Bolsonaro terá, com a expectativa criada em cima do seu retorno. Como não poderia deixar de ser, o assunto já nasce em meio a polêmicas. O governo federal quer claramente esfriar a chegada e, para isso, pode determinar bloqueios, com a intenção de evitar aglomeração de conservadores no aeroporto e adjacências. Do outro lado, fala-se até em desfile em carro aberto para celebrar o retorno do ex-presidente e dar uma demonstração de força.

Não poderia ser diferente, já que a eleição no Brasil parece não ter encerrado. Com uma tensão que se arrastou por meses, alimentada pela concentração de brasileiros em frente aos quartéis, a sensação de disputa permanece. E vai além do mero debate político, muito, também, pelos equívocos do atual ocupante do Palácio do Planalto, com um festival de erros, especialmente na área econômica. As más escolhas fizeram despertar a saudade por Paulo Guedes até mesmo em antibolsonaristas, que não simpatizavam com Lula, mas acalentavam a esperança de um governo moderado. Deram com os burros n’água, assistindo a um festival de interferências na economia, de uma gestão que ainda não saiu do lugar.

O retorno ao Brasil e a receptividade que terá o ex-presidente representam um termômetro. Saberemos o grau de popularidade de Bolsonaro, assim como o nível de insatisfação de parcela dos brasileiros com Lula e o petismo. Neste momento, Jair Bolsonaro ainda é o principal nome de resistência à esquerda. Se continuará assim pelos próximos anos é outra história.

Três anos e meio nos separam da próxima disputa presidencial. É tempo demais. Neste período muita coisa pode acontecer. No campo político e ideológico bolsonarista, outros nomes podem buscar a condição que atualmente é de Bolsonaro, a começar pelo governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas. O ex-ministro de Infraestrutura comanda uma locomotiva (o Estado mais rico do país), mostrou que é bom de voto e já deu mostras de capacidade gerencial. No Senado podem surgir outros potenciais candidatos (Sergio Moro, Hamilton Mourão, entre outros). Nos estados, alguns governadores (Eduardo Leite entre eles) também tentam conquistar espaço como alternativas à polarização.

Dentro do governo federal há elementos que não podem ser ignorados. O primeiro deles é a saúde lulista. Goste-se ou não, o Lula que hoje está no Palácio do Planalto é 20 anos mais velho do que aquele que assumiu a presidência pela primeira vez, em 2003. O atual presidente completará 78 anos em outubro, já enfrentou um câncer e recentemente adiou uma viagem à China por causa de uma pneumonia. Não é mais um menino. Vale lembrar que o próprio Bolsonaro (por razões diferentes) ficou afastado da Presidência em inúmeros momentos por questões de saúde, reflexo da facada que levou na campanha de 2018.

O segundo elemento, que vem a reboque do primeiro, chama-se Geraldo Alckmin, que até hoje não foi completamente aceito pelo petismo, especialmente os mais radicais, que veem no ex-governador de São Paulo uma espécie de traidor em potencial. A comparação com Michel Temer é feita nos bastidores, desde o período de campanha. A sombra de um impeachment com aval do vice (muito mais afável a determinados setores da economia do que o próprio Lula) é um fantasma presente nos pesadelos da esquerda.

A partir desta quinta-feira teremos algumas respostas. Inclusive para a pergunta: Bolsonaro corre o risco de ser preso e se tornar inelegível?


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