Cães de pastoreio a exemplo de raças como Border Collie e ovelheiro-gaúcho, que estiveram expostos 45ª Expointer, são alguns dos melhores companheiros do criador de animais, em especial para o trabalho de pastoreamento de ovinos e bovinos. Dóceis, habilidosos, inteligentes e com sentidos extremamente aguçados, estes animais têm uma capacidade de ir onde os seres humanos muitas vezes não conseguem estar, desempenhando tarefas que pessoas não conseguiriam executar. Por isso, circulam pelos rebanhos de maneira tão eficiente quanto um pastor faria no campo.
Os Border Collie são considerados cães “empurradores”, ou seja, voltados naturalmente de frente para o rebanho. No Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, onde estiveram cerca de 20 exemplares da raça, os border foram 20 participantes de provas envolvendo ovelhas e gado. Originários da Escócia e da Inglaterra, foram introduzidos no Brasil na metade da década de 1990, onde rapidamente se adaptaram. “As vantagens do manejo estão na tranquilidade do rebanho. Um cão consegue manejar até 400 cabeças de gado, ou até 500 de ovelha em uma propriedade de mil hectares, por exemplo”, afirma o criador e ex-presidente da Associação Gaúcha de Criadores de Border Collie (AGBC), Thorbes Moreira.
De acordo com Moreira, há técnicas distintas que podem ser adotadas para que o animal responda a determinados comandos. Como a raça é inglesa, há quem acredite que é melhor usar expressões em inglês para treiná-lo, contudo, o português é muito bem compreendido por ele. “Começamos a treiná-los no redondel (arena usada para a doma de equinos), com ovelhas já acostumadas aos cães, que não são ariscas. Depois, fazemos o treinamento corporal. Na sequência, introduzimos comandos de voz e, depois, ainda, o apito”, conta. Até que o cachorro esteja pronto para trabalhos de fazenda, os treinamentos podem levar de seis meses a um ano.
O Banrisul tem, desde 2019, uma linha de crédito específica para a aquisição de cães Border Collie, cujo valor do exemplar pode variar entre R$ 8 mil e R$ 15 mil, ou ser até mais caro. “É um cão superdócil com as crianças, e pode ter uma convivência muito tranquila com elas. Porém, ele demanda exercício, porque é um cachorro de trabalho. Muitas pessoas tentam criar em apartamento, como cachorro de companhia, e algumas até conseguem. mas ele precisa de espaço, caminhar bastante para gastar sua energia”, comenta Moreira.
O ovelheiro-gaúcho, na nobre função de vigia dos rebanhos, veio à Expointer 2022 com seis exemplares. Conforme indica a denominação da raça, ela é originária dos pampas do Rio Grande do Sul e apareceu no Estado há pelo menos dois séculos. “Ele é um cão que lida com a família. Se você o trata com carinho, ele vai te dar carinho de volta”, conta Herodes Acosta, criador e avaliador da Associação dos Criadores de Ovelheiro Gaúcho (ACOG). De acordo com Costa, quando o botânico e naturalista Auguste de Saint-Hilaire passou em suas famosas viagens pela então capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul, por volta de 1820, já teria visto ovelheiros no entorno do município Mostardas, no litoral médio do Estado.
Foto: Alina Souza
É uma raça igualmente de fácil trato para com o criador, mas astuta na presença de predadores, intimidando possíveis ameaças aos rebanhos. “O ovelheiro é um cão caseiro, não é tanto de ficar guardando o rebanho. Ele é muito mais ligado ao dono e seu patrimônio, e é o cão que vai com ele no campo, ao lado do cavalo, e fica na sua sombra. Tive um cão que, quando eu desencilhava meu cavalo, ele deitava ao lado, e ninguém chegava perto”, conta Costa. Em que pese a proximidade que o cão tem com o dono, esta característica campeira faz com que o ovelheiro trabalhe comumente sozinho, diz o criador. “Praticamente não é preciso ensiná-lo. Ele não precisa de grandes comandos”, afirma, citando a grande diferença em relação ao Border Collie.
Em feiras como a encerrada em Esteio há uma semana, é avaliada a morfologia do animal, cujos principais itens, enfatiza o dirigente da ACOG, estão o “formato bem triangular” da cabeça, o olhar “rasgado”, distâncias entre os ossos, a cola, tamanho e densidade dos pelos, bons ossos e dentes, indicando boa consanguinidade, peitoral, “bombacha”, como é chamado o dorso do ovelheiro-gaúcho, e também seu trote. A avaliação busca incentivar o criador a melhorar a genética do animal. No caso desta raça, não existe um financiamento específico para sua aquisição. Por isso, obter mais informações junto à ACOG é a melhor alternativa para a compra de um exemplar.
Mulheres
A presidente da Associação Border Collie do Mercosul (ABCM), Ivanete Velline Arruda, e a vice-presidente, Maria Fernanda da Silva Varallo, que marcaram presença na Expointer, fazem questão de ressaltar o crescimento do uso dos cães para pastoreio, mas ressaltam, também, o aumento no número de mulheres na atividade. “A presença feminina é algo muito bonito e marcante. Cada vez mais, é visto que elas têm a capacidade de fazer este trabalho, porque não existem diferenças nas provas, por exemplo, específicas para mulheres. Elas estão ali de igual para igual”, conta Ivanete, que, inclusive, já foi campeã brasileira de pastoreio em provas de bovinos, onde concorreu com homens.