Cultivo irrigado da uva assegura produtividade

Cultivo irrigado da uva assegura produtividade

Entidades recomendam a adoção do manejo, mas reconhecem que o plantio da fruta é característico de pequenas propriedades rurais e em terrenos com relevo acidentado, o que torna o investimento muito alto

José Milani, produtor de Garibaldi, garantiu colheita de 240 mil quilos de uva na safra 2021/2022, passando incólume pelos efeitos que a estiagem no Rio Grande do Sul teve sobre a cultura

Por
Patrícia Feiten

Algoz da safra de verão no Rio Grande do Sul, a estiagem produziu um efeito curioso nos vinhedos. Ao mesmo tempo em que frustrou parte da safra esperada na Serra, afetando principalmente as variedades precoces, a combinação de tempo seco e alta radiação solar acabou favorecendo a qualidade das uvas colhidas no ciclo 2021/2022, considerada excelente para algumas variedades. A escassez hídrica, porém, ameaça prejudicar a safra seguinte, alerta o Boletim Agrometeorológico da Serra Gaúcha, elaborado por pesquisadores da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr) e da Embrapa Uva e Vinho. Para evitar esse impacto tardio da falta de chuva, a publicação recomenda que os produtores invistam em sistemas de irrigação.

Um dos responsáveis pelo documento, o pesquisador da Embrapa Henrique Pessoa dos Santos explica que a grande variabilidade dos parreirais em termos de profundidade no solo dificulta o armazenamento da água nesses terrenos, podendo debilitar as plantas, com redução do vigor das brotações e da produção de frutas no ciclo seguinte. Por isso, as estiagens recorrentes no Estado são um sinal de alarme. “A recomendação é que o produtor faça uma análise, avalie se vale a pena manter essa área ou subárea (de solo raso) e mantenha as videiras onde há mais profundidade de solo”, destaca Santos.

Para o presidente da Comissão Interestadual da Uva, Cedenir Postal, a irrigação vem se tornando uma necessidade cada vez maior no cultivo da uva. A implantação de sistemas de reservação de água, porém, representa um desafio, pois muitos vinhedos estão localizados próximo às chamadas Áreas de Preservação Permanente (APPs), o que dificulta a obtenção de licenças ambientais. “Muitas propriedades são pequenas, e temos regiões acidentadas em que nem tem onde fazer um pequeno açude”, acrescenta. 

O custo dos investimentos é outro empecilho, observa o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Flores da Cunha e Nova Pádua, Olir Schiavenin. “Mas a gente sabe que a água vai ser cada vez mais escassa; se o produtor tem 5, 6 hectares, então deve irrigar a variedade Bordô, que é mais sensível”, sugere. 

O viticultor José Milani recorda que, quando decidiu apostar na irrigação, há mais de duas décadas, foi chamado de “louco” por amigos. “Diziam que não precisava irrigar parreirais, que eu ia quebrar. Fiz o poço artesiano, depois fiz um açude, comecei a fazer irrigação em um pedaço; agora estamos 100% irrigados”, conta Milani. Com 9 hectares, a propriedade da família no município de Garibaldi combina os sistemas de irrigação por gotejamento e microaspersão para garantir o viço de variedades de uvas viníferas, como Bordô, Malbec e Syrah, e de mesa, entre as quais Rainha Itália, Rubi, BRS Clara e BRS Morena.

As videiras conduzidas em espaldeira e latada passaram incólumes pelo flagelo da última estiagem. Em todas as variedades cultivadas, a propriedade produziu 214 mil quilos de uvas safra 2021/2022, diz Milani. “Tínhamos gotejador em quase 80% da área, neste ano botamos também na espaldeira e fizemos mais uva que no ano passado”, comemora. Para os bons resultados, o produtor destaca ainda a localização estratégica do açude da propriedade, que foi implantado em uma porção mais elevada do terreno em relação às parreiras, favorecendo a distribuição da água por gravidade. 

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895