Polêmicas cercam o Enem 2021

Polêmicas cercam o Enem 2021

É a 2ª edição aplicada no mesmo ano, registra o menor número de inscritos, teve que reabrir inscrições aos que não compareceram no ano anterior, por decisão do STF, e enfrenta denúncias de interferência política

Por
Maria José Vasconcelos e Vera Nunes

Os 3.109.762 estudantes que farão as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021 neste domingo (21/11) enfrentarão um dos exames mais polêmicos. Será a segunda edição aplicada neste ano, já que, devido à pandemia, o exame de 2020 ocorreu no início do ano. Também é o ano com o menor número de inscritos, uma queda de quase 3 milhões, em comparação com 2020. E foi preciso a determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), para reabrir as inscrições a quem perdeu direito à gratuidade da taxa, por não ter comparecido ao Enem 2020. Assim, 280.145 pessoas poderão fazer o exame nos dias 9 e 16 de janeiro de 2022, mesmas datas de aplicação de provas para adultos privados de liberdade e jovens cumprindo medida socioeducativa que inclui privação de liberdade (Enem PPL).

Não bastasse a necessidade de intervenção do STF, a poucos dias da aplicação da prova, 37 servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), responsável pela aplicação da prova, pediram para deixar os cargos ou funções comissionadas que ocupavam no instituto. Parte dos funcionários alegou ter havido tentativa de interferência política na formulação do Enem 2021, para evitar questões polêmicas. Mas o governo federal negou qualquer ingerência.

Provas

Quem vai fazer o Enem terá que manter o foco e a atenção no exame. Nenhuma avaliação importante como esta pode ser feita apenas estudando muito. Os bons resultados dependem de uma tríade: conhecimento, saúde física e saúde mental. No primeiro dia, além das provas objetivas de Linguagens e Ciências Humanas, os candidatos farão a única prova discursiva da avaliação: a Redação. E no próximo domingo (28/11), serão aplicadas as provas de Ciências da Natureza e Matemática. O Enem é uma prova complexa, que obedece a estruturas e configurações bem delimitadas. Por isso, entender essa formatação pode ser uma vantagem para o candidato. Nesse sentido, os professores aconselham a observar imediatamente qual é o comando dado por cada questão, que fique atento para o que os examinadores esperam que seja respondido.

Cálculo da nota

Desde 2009, o Enem utiliza a Teoria de Resposta ao Item (TRI) para medir a proficiência dos estudantes. Ao contrário da tradicional Teoria Clássica dos Testes, que costumeiramente é usada nos vestibulares e que vincula a nota ao número de acertos, na TRI a avaliação se dá pela coerência pedagógica do seu padrão de respostas. “Essa coerência parte do pressuposto de que a aquisição do conhecimento é gradativa: não é possível dominar aspectos mais complexos das ciências e das linguagens sem que se conheça os mais simples”, explica Francis Madeira, professor e coordenador pedagógico do pré-vestibular Fleming Medicina.

Cada questão do Enem apresenta certos parâmetros que ajudam a determinar a nota do candidato. Assim, a prova dispõe de questionamentos de dificuldades variadas dentro de uma escala. Por exemplo: um item pode ter parâmetro de dificuldade 320, outro de 450 e assim sucessivamente. Como cada prova apresenta 45 questões, as respostas são comparadas, para que o candidato seja posicionado nesta escala. Ou seja, a TRI coloca as notas na mesma escala que a dificuldade das questões. Assim, um candidato com nota 700 tem maior probabilidade de acertar as questões de dificuldade 550, 600, 650 e menor chance nas mais difíceis. Em razão disso, o mesmo número de acertos gera classificações distintas. “O segredo para uma boa pontuação é buscar a coerência pedagógica do padrão de respostas. Questões mais fáceis devem ter prioridade de resolução. Acertar um item complexo, tendo errado os fáceis, implicará baixa pontuação, enquanto que o contrário garante maiores proficiências. Se você identificar um item difícil, pule-o e retorne posteriormente para resolvê-lo, caso ainda haja tempo”, aconselha Francis.

Emocional

Como o Enem não depende apenas de conhecimento, é importante manter a saú-de emocional em equilíbrio. O estresse exagerado pode prejudicar o desempenho nas provas. Assim, a dica dos especialistas é manter o sono em dia, uma alimentação balanceada, respiração adequadaa e atividades de relaxamento.

O que levar

  • Neste ano, assim como na edição anterior do Enem, além do documento oficial de identificação com foto e da caneta esferográfica de tinta preta, fabricada em material transparente, a máscara de proteção facial é item obrigatório.
  • De acordo com o edital do exame, os participantes que não estiverem com máscara de proteção facial não poderão ingressar no local de prova. A regra vale tanto para o Enem impresso quanto para o digital. Assim, durante o exame, os candidatos deverão usar a máscara cobrindo o nariz e a boca. Caso isso não seja feito, o participante será eliminado.
  • Os candidatos poderão levar máscaras para trocar durante a aplicação, seguindo a recomendação de especialistas da área de saúde. E o equipamento de proteção poderá ser retirado apenas para a identificação dos participantes, para comer e beber. Toda vez que retirarem a máscara, os participantes não podem tocar na parte frontal dela e devem, em seguida, higienizar as mãos com álcool em gel próprio ou fornecido pelo aplicador. As mãos devem ser higienizadas também quando os participantes forem ao banheiro e no decorrer do exame. 
  • O edital traz também uma série de documentos de identificação aceitos no Enem. Os participantes devem apresentar os documentos originais, com foto. E não são aceitos documentos digitais. 
  • É recomendado, ainda, que levem, no dia do exame, o Cartão de Confirmação da Inscrição. Nele cons-tam, entre outros informes, o local de prova. O cartão pode ser acessado na Página do Participante. 
  • Caso necessitem comprovar que participaram do exame, os estudantes podem, também na Página do Participante, imprimir a Declaração de Comparecimento para cada dia de prova, informando o CPF e a senha. A declaração deve ser apresentada ao aplicador na porta da sala em cada um dos dias. Ela serve, por exemplo, para justificar a falta ao trabalho.
  • Outra regra é o distanciamento social. As salas estarão dispostas de forma a assegurar a distância entre os participantes. 


Itens Obrigatórios

  • Documento original com foto.
  • Canetas esferográficas pretas.
  • Máscara.

Itens Recomendados

  • Lanche (em embalagem lacrada ou recipiente transparente).
  • Água e máscara extra.

Dicas para uma boa redação

Fazer uma boa Redação pode ser um valioso diferencial para o candidato. Além disso, a nota da Redação interfere na possibilidade de o estudante participar de programas ou benefícios federais, como o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), para disputar vagas em instituições públicas de Ensino Superior no país; o Programa Universidade para Todos (ProUni), para concorrer a bolsas de estudo no Ensino Superior privado; ou o Financiamento Estudantil (Fies). Entre os critérios de seleção, é necessário que o candidato não tenha tirado nota zero na Redação.

A produção de texto é muito valorizada pelas instituições de ensino, porque permite avaliar o domínio do estudante em relação ao tema, técnicas de escrita, capacidade de organização de ideias, estruturação coerente do conteúdo, habilidades de argumentação, domínio do vocabulário e analogias a vivências pessoais.

A coordenadora de Redação do Poliedro Curso São José dos Campos, Fabiula Neubern, sugere que cada candidato desenvolva sua estratégia para a prova. “Não recomendo deixar a Redação para o final da prova, porque o aluno pode se perder com o tempo e não conseguir concluir o texto. Mas não vejo problema em ler o tema, anotar as primeiras ideias e deixar a cabeça trabalhar um pouco, enquanto faz algumas questões objetivas. Afinal, várias ideias e referências podem aparecer na mente, enquanto questões objetivas são resolvidas”, argumenta. “Para definir o melhor método, o ideal é manter o que foi testado em simulados ao longo do ano, e não mudar de estratégia no dia da prova, pois pode provocar ansiedade e prejudicar o desempenho. Em resumo, recomendo fazer, na prova oficial, aquilo que se acostumou no treinamento.”

No Enem, a professora lembra que o texto deve ter introdução contendo tese, desenvolvimento argumentativo e conclusão, com proposta de intervenção. E explica que após a análise da proposta, é importante o candidato entender se a frase temática é um problema ou uma questão a ser problematizada, pois a argumentação vai girar em torno das causas e consequências do problema a ser solucionado via proposta de intervenção.

Passo a passo

  1. Leia a frase temática sublinhando as palavras-chave, ou seja, delimite o tema e o seu recorte.
  2. Na leitura da coletânea, destaque as causas e as consequências do problema tematizado.
  3. Anote as ideias de repertório que surgirem na mente durante a leitura.
  4. Faça o projeto de texto, considerando a tese, as ideias centrais dos argumentos e os elementos da proposta de intervenção (agente, ação, modo/meio, efeito e detalhamento). Depois, decida quantos, quais e em que momento do texto aparecerão os repertórios.
  5. Escreva o rascunho, focando no desenvolvimento dos argumentos e na produtividade do repertório.
  6. Faça ajustes e revisão gramatical.
  7. Passe o texto produzido a limpo na folha oficial e, depois, faça uma última revisão gramatical
Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895