Crise no futsal

Crise no futsal

A modalidade vem sofrendo com sucessivas crises desde a conquista do último título, em 2012, na Tailândia

Em 2021, a Seleção perdeu na semifinal e disputará com o Cazaquistão o terceiro lugar

Por
Chico Izidro

Das nove edições da Copa do Mundo de Futsal, o Brasil ficou com o título em cinco: 1989, 1992, 1996, 2008 e 2012. A conquista de nove anos atrás, na Tailândia, foi o último momento de estabilidade do futsal brasileiro. A partir de então, a modalidade passou a sofrer com crises: interrupção das atividades da seleção, trocas na presidência da CBFS (Confederação Brasileira de Futsal), quatro mudanças na comissão técnica e até um boicote de jogadores.

Era inevitável o reflexo nos resultados. No Mundial de 2016, o Brasil caiu nas oitavas de final pelo Irã, ficando fora do pódio pela primeira vez. Em 2021, na Lituânia, o desempenho melhorou, mas a Seleção acabou perdendo uma semifinal parelha contra a Argentina, atual campeã, e disputará com o Cazaquistão neste domingo, às 10h (de Brasília), a decisão do terceiro lugar. Os argentinos tentarão o bicampeonato contra Portugal, às 14h.

A crise começou logo após o Mundial de 2012. A CBFS descumpriu compromissos financeiros com os atletas e os submeteu a medidas que os indignaram, como a proibição do acesso à Internet na concentração e a obrigatoriedade de usar calçados da fornecedora de material esportivo da confederação. Para aumentar o descontentamento, mudou a comissão técnica no final de 2012, mesmo com o título mundial. Saíram o supervisor Reinaldo Simões e o técnico Marcos Sorato e entraram Rudy Vieira e o treinador Ney Pereira, que não dirigia uma equipe profissional havia três anos. Manoel Tobias foi contratado como auxiliar-técnico.

Ney Pereira assumiu tendo problemas com os atletas, que se mostravam descontentes com a demissão da comissão técnica campeã. O grupo liderado por Falcão, Neto e Tiago pediu mais diálogo com os jogadores. Diretor de seleções da CBFS, Edson Domingues Nogueira não gostou e decidiu cortar Tiago e Neto das convocações seguintes. Falcão seguiu graças à interferência dos Correios, então patrocinador da CBFS. Mesmo com todos os problemas, o Brasil ganhou o Grand Prix de Futsal, em outubro de 2013, diante da Rússia.

O título não foi suficiente para acalmar os ânimos, e em março de 2014, a relação Falcão e Nogueira se esgotou. O craque resolveu abdicar da Seleção e foi acompanhado pelos principais jogadores. Na despedida, Falcão externou as dívidas da entidade com os atletas e definiu a gestão de Nogueira como ditadura. Em quadra, o Brasil conquistou a medalha de ouro nos Jogos Sul-Americanos com uma equipe com poucas estrelas.

Em maio, os presidentes das federações estaduais reprovaram o balanço financeiro do então presidente da CBFS, Aécio de Borba Vasconcelos, que comandava a entidade desde sua criação, em 1979, sem nunca ter tido as contas contestadas. Ele acabaria renunciando em junho de 2014, acusado de mau uso da verba de patrocínio. Em seu lugar, assumiu Renan Tavares, ex-vice-presidente de competições, que não tinha a simpatia de algumas federações. Em meio à crise, a CBFS perdeu patrocinadores e a seleção ficou sem jogar durante seis meses.

Nos dois anos seguintes, a troca de dirigentes e comissão técnica continuou. A impossibilidade de captar patrocinadores e organizar competições para a seleção aumentou a crise na entidade, que chegou a perder o contrato com a fornecedora de material esportivo. Em 2015, a um ano da Copa do Mundo na Colômbia, os principais jogadores fizeram boicote coletivo à Seleção, acompanhados por toda a comissão técnica, que pediu demissão em solidariedade.

Contando o período de inatividade e o boicote, o Brasil ficou 284 dias sem jogar. Voltou em agosto daquele ano, na Copa América, e ficou com o terceiro lugar. A Seleção classificou-se para a Copa de 2016, porém, teve o seu pior resultado histórico. A crise se agravou com a pandemia. Para que o Brasil pudesse disputar a Copa do Mundo deste ano na Lituânia, foi necessário que a CBF entrasse em cena, assumindo a gestão do futsal, além de representar a modalidade junto à FIFA e à Conmebol. Aí, as coisas mudaram.

Poucos meses antes do Mundial, os patrocinadores da Seleção Brasileira de futebol passaram a ser parceiros do futsal. Toda a estrutura da CBF ficou à disposição do time, que pôde treinar na Granja Comary e fazer um período de preparação na Europa. Para tentar o hexa em 2024, é necessário que a organização se mantenha, quem sabe até com mudanças mais profundas. Afinal, as competições nacionais seguem sob gestão da CBFS.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895