Eficiência à prova

Eficiência à prova

Em um momento de custos de produção em alta, testes que visam selecionar animais com melhor conversão alimentar ganham espaço entre as associações de raça

Por
Eduardo Andrejew, Nereida Vergara, Patrícia Feiten, Taís Teixeira e Vítor Figueiró

Selecionar o bovino capaz de ganhar muito peso, mesmo comendo pouco: este é o objetivo do teste de eficiência alimentar, pesquisa realizada há cerca de cinco anos, cada vez mais popular entre as associações de raça. O trabalho é uma parceria da Embrapa Pecuária Sul com associações de criadores de Hereford e Braford, Charolês e Angus. O teste busca testar reprodutores e identificar quais são os que apresentam maior ganho em relação ao consumo de alimentos e que influência a alimentação oferecida tem no desenvolvimento deles.

A alimentação responde por 60% a 70% dos custos de produção da pecuária. Daí a importância de selecionar os animais que façam melhor uso do alimento, o que é fundamental para a lucratividade do sistema de produção. Além disso, um animal mais eficiente do ponto de vista da conversão alimentar emite menos gases de efeito estufa (no caso, o gás metano, CH4) por quilo de carne produzido. “Eles são mais amigáveis ao meio ambiente e ao clima”, explica o chefe-geral da Embrapa Pecuária Sul, Fernando Flores Cardoso.

Mas como se pode medir a eficiência alimentar de um bovino? Com tecnologia. Cada animal que será testado recebe um chip eletrônico. Há cochos individuais e que só podem ser usados por um animal de cada vez com balanças eletrônicas acopladas. Estes equipamentos contam com um sistema de leitura do chip que está no bovino. “O touro entra, a balança lê o brinco, sabe quem é o animal, sabe o quanto ele consumiu, quantas vezes e por quanto tempo”, esclarece Cardoso.

Junto à Embrapa, a Associação Brasileira de Angus realizou a segunda prova de eficiência alimentar entre reprodutores. De acordo com o gerente de Fomento da entidade, Mateus Pivato, esta fase foi iniciada em 18 de junho. O período de prova dura 90 dias. Após a divulgação dos índices, os animais retornam aos seus criatórios. O resultado, observa Pivato, pode dar um destaque comercial ao bovino com as melhores características. Neste ano participaram 29 animais de 15 propriedades.

No caso do Angus, o touro mais eficiente consome por dia cerca de 4 quilos a menos de alimento do que o animal de menor eficiência. O campeão da prova foi anunciado durante a Expointer. O primeiro lugar coube ao touro GAP K157/19, da GAP Genética, de Uruguaiana, de Eduardo Macedo Linhares. O animal atingiu consumo residual de menos 3,632 quilos de ração e ganho de peso residual de 0,042 quilos. “A nossa seleção genética, não só na raça Angus, sempre foi lastreada em programas de melhoramento genético”, destacou Angela Linhares, filha do proprietário.

Para explicar, Cardoso faz o seguinte cálculo: imagine que cada quilo desse alimento que o bovino mais eficiente não precisou consumir seja equivalente a R$ 2,00. “São R$ 8,00 por dia. Se pensarmos em 100 dias de confinamento, são R$ 800,00 que esse animal economiza só no ciclo de terminação”, conclui o especialista. Uma vez identificado o reprodutor mais eficiente do ponto de vista alimentar, ele pode transferir essa característica para os seus descendentes.

O agropecuarista José Roberto Pires Weber, de Dom Pedrito, já submeteu três animais à prova, pois entende que o investimento vale a pena, até porque é um valor acessível, ficando um pouco acima de R$ 2,3 mil por touro. “Queremos um animal que coma pouco e ganhe muito peso, especialmente num momento em que as rações estão com preços proibitivos”, argumenta. Criadores de outras raças também aprovam a ideia. Cesar Adams Cezar (foto acima), criador de Charolês, destaca a tecnologia oferecida. “A importância fundamental desse teste é tirar a subjetividade na avaliação do animal e apresentar dados objetivos”, diz. Joaquin Villegas, criador de Charolês e proprietário da Estância Namuncurá, de Itacurubi, selecionou três touros para o teste e tem a mesma visão. “O investimento vale a pena, pois é para selecionar os melhores e difundir essa melhora genética”, analisa.

Janela turbinada

Patrícia Feiten

Sistema de integração entre lavoura e pecuária comprova eficácia e permite ao produtor explorar o melhor período de plantio

Em Panambi, Soldera obteve aumento de 20% na produtividade após dar início à integração. Foto: Alex Garcia / Divulgação / CP

O revezamento de culturas anuais com pastagens na mesma área vem ajudando produtores gaúchos a melhorar a qualidade do solo e aumentar produtividade e os lucros. Em tempos de preços aquecidos – tanto na pecuária quanto na produção de grãos –, o sistema ganha destaque como uma alternativa para diversificar as fontes de renda e também como uma solução sustentável de uso da terra. Para quem o adota, setembro é a época de retirar o gado do campo e ceder espaço às lavouras de verão.

Na propriedade de Devanir Soldera, o Didi, em Panambi, o casamento entre lavoura e pecuária deu certo. Sócio-proprietário da Cabanha Soldera, o produtor, que cultiva milho, soja, trigo, aveia e cevada, começou a criação de gado de corte há 16 anos e hoje atua na venda de reprodutores das raças Angus e Brangus – inclusive conquistou o grande campeonato da Expointer entre os touros rústicos. “Plantávamos trigo, mas tu colhes em novembro. Com a pecuária, tu tiras o gado mais cedo da pastagem, consegues plantar a soja mais cedo e plantar mais áreas com o mesmo número de máquinas e funcionários”, diz Soldera.

É na possibilidade de explorar essa “janela” de plantio no cedo (agosto/setembro) que o produtor vê uma das grandes vantagens do modelo integrado. “As maiores produtividades hoje são obtidas com cultivares plantadas mais no cedo, então tu consegues escalonar o plantio e foges um pouco da estiagem que pode acontecer ou no cedo ou no tarde (dezembro/janeiro)”, afirma o agropecuarista. Após a adoção da integração, a produtividade da soja na Cabanha Soldera aumentou 20%, segundo o produtor. 

O sistema também impacta a fertilidade do solo, aumentando a retenção de água e agregando matéria orgânica e nutrientes. Hoje, 90% da receita da propriedade vem dos grãos e 10%, da pecuária. “Com a integração e projetos novos que estamos fazendo, com o mix de pastagens, esse percentual (da pecuária) vai subir”, estima Soldera. Com as vantagens da estratégia, o produtor diz que a cabanha vem observando um maior interesse de agricultores na aquisição de reprodutores para uso no sistema integrado.

Para o criador e inspetor técnico da Associação Brasileira de Angus, Flávio Montenegro Alves, é preciso rebater a ideia de que lavoura e pecuária são atividades inconciliáveis. A entidade incentiva a introdução de pastagens em áreas de lavoura. “Os produtores que fazem essa integração provam, nos resultados, que não existe perda (para a lavoura). Fazem em uma época a pecuária intensiva, e em outra, agricultura intensiva, com dois ganhos, enquanto os da agricultura ficam com a área parada durante meses, aguardando a nova safra”, diz.

No sistema integrado, explica o técnico, a soja é plantada na primavera. Após a colheita, no outono, são implantadas as pastagens de inverno, e os animais entram em campo. “Então, do outono à primavera, o gado fica nessa pastagem, desmama, produz terneiros, insemina, aproveita o momento de disponibilidade de forrageira e, no verão, os produtores acomodam esse gado em outros lugares, em campo nativo, porque é a época em que têm de produzir a soja”, explica.

Marcio Sudati Rodrigues e Carla Nemitz, que comandam a Genética Progresso, de São Francisco de Assis, e a Agronemitz, com unidades em Alegrete e Manoel Viana, também colhem bons resultados com o sistema misto há 15 anos. Produtores de soja, arroz, milho e trigo, eles apostaram na pecuária inicialmente como diversificação de negócios. “Quando começamos a nos voltar mais para a sustentabilidade ambiental, percebemos que as atividades eram muito sinérgicas e que, quando uma funcionava bem, trazia resultado para a outra. Antes havia uma ideia de que a pecuária prejudicava a agricultura, mas o que vimos foi o contrário”, afirma Carla. 

Hoje, 25% da receita obtida pela propriedade vem da produção de Angus e 75% da lavoura. Além da maior resistência a períodos de estiagem, o sistema possibilita a obtenção de plantas mais resistentes a pragas e a diminuição no uso de agroquímicos. “Quando trabalhamos com plantio direto, precisamos produzir bastante palha, culturas de cobertura. Com a pecuária, conseguimos diluir o custo de implantação, manejo e fertilizante dessas culturas”, explica.

SC volta à feira e fatura títulos

Patrícia Feiten

Reconhecimento do Rio Grande do Sul como zona livre de febre aftosa sem vacinação facilitou a participação na Expointer de pecuaristas de Santa Catarina, estado que já detinha o status há 20 anos. E eles fizeram bonito, ganhando diversos campeonatos de raças animais

Edson Colombo (à esquerda, com a equipe da Fazenda Mãe Rainha) considera a presença na feira uma oportunidade para mostrar a qualidade dos animais e comparar sua evolução genética. Foto: Divulgação / CP

Pela primeira vez em 20 anos, produtores de Santa Catarina que trouxeram animais à Expointer têm sinal verde para levá-los de volta após a exibição no evento. O retorno é possível porque em maio deste ano o Rio Grande do Sul foi reconhecido internacionalmente como zona livre de febre aftosa sem vacinação, status que o estado vizinho já havia conquistado em 2007. A certificação é concedida pela Organização Mundial da Saúde Animal (OIE).

Efeito direto da mudança, neste ano houve 237 animais – entre bovinos, ovinos, caprinos e equinos – de propriedades rurais de Santa Catarina inscritos na exposição, de acordo com a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr). E diversos deles conquistaram os maiores títulos de suas respectivas raças.

O criador Oreste Melo Júnior, da Cabanha Floripana, com unidades nos municípios de Urupema e Urubici, expôs 11 exemplares de bovinos Angus e arrebatou os grandes campeonatos de machos e fêmeas da raça. Ele diz que, até o ano passado, a alternativa para os catarinenses que quisessem participar da feira era ingressar em Esteio já com a venda dos animais alinhavada com algum comprador gaúcho. Se por um lado o status até então exclusivo acabou deixando o estado vizinho isolado, por outro acelerou a melhoria de seu rebanho, destaca o produtor. “Como não podia entrar nenhum animal vivo, toda a genética de Santa Catarina provém de embriões, geralmente importados. A gente vai começar a mostrar essa qualidade nas próximas exposições, quando mais produtores (de Angus) virão”, projeta Melo Junior.

A Fazenda Mãe Rainha, de Lages, exibiu em Esteio 15 animais das raças Brangus, Hereford e Braford e levou o título de supremo campeão Hereford e Polled Hereford. Para o sócio-administrador da propriedade, Edson Ribeiro Colombo, os catarinenses agora têm a oportunidade de mostrar a qualidade de seus animais e comparar sua evolução genética. “Quantos potenciais grandes campeões da Expointer ficaram em Santa Catarina e não puderam participar por causa da barreira (sanitária)?”, questiona.

Quem também comemora a reaproximação dos dois estados é o produtor Lucas Roscamp, da Cabanha Sangue Catarinense, de Monte Castelo, que inscreveu na Expointer 12 ovinos da raça Texel. Animais do criatório também estiveram presentes na edição passada do evento, mas tiveram de passar por quarentena em uma propriedade em Cruz Alta e fazer teste sorológico para febre aftosa antes do retorno ao estado de origem, conta Roscamp. “Agora é uma logística mais rápida, tanto para vir quanto para voltar”, afirma.

Para o presidente da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Sidasc), Plinio de Castro, a tendência é que os produtores daquele estado ampliem a presença nas próximas edições da Expointer. “Penso que estamos contribuindo para elevar o padrão genético e estabelecendo a competitividade entre os produtores. E melhorando o material genético produzido em cada propriedade de Santa Catarina”, avalia.

O gerente de fomento da Associação Brasileira de Angus, Mateus Pivato, lembra que o novo status sanitário do Rio Grande Sul abre perspectivas também aos gaúchos. “Poderemos participar com os animais daqui do Estado em exposições de Santa Catarina”, observa. Além do Rio Grande do Sul, os estados do Acre, Paraná e Rondônia, 14 municípios do Amazonas e cinco do Mato Grosso foram reconhecidos como zonas livres de aftosa sem vacinação neste ano. Com a mudança, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) estima que mais de 40 milhões de cabeças de gado deixaram de ser imunizadas contra a doença no país, representando uma economia de cerca de R$ 90 milhões para os produtores.

Renovação na agroindústria

Taís Teixeira

Mulheres e jovens comandam mais de 60% dos empreendimentos do Pavilhão da Agricultura Familiar, mas diversidade no segmento ainda enfrenta desafios

Vanessa, da Agroindústria e Embustidos Ferreira, participa pela primeira vez da Expointer. Foto: Alina Souza

Neste ano, 228 empreendimentos compartilharam 210 estandes no Pavilhão da Agricultura Familiar da Expointer, sendo que 90 são geridos por mulheres e 48 por jovens. Este número, próximo de 60% do total, pode representar indícios de mudanças em um sistema no qual a participação da mulher geralmente ficava concentrada na fabricação do produto enquanto o homem atuava no papel de gestor. 

O vice-presidente da Fetag-RS, Eugênio Zanetti, avalia que a presença de jovens liderando os empreendimentos iniciados pelos pais é um movimento que sustenta a sucessão familiar. “É muito importante que esse lugar seja assumido pelos filhos para dar seguimento ao trabalho”, explica. Ressalta, ainda, que percebe o aumento da inserção das mulheres no comando dos negócios. 

Na visão da coordenadora da secretaria de mulheres da Fetraf-RS, Cleonice Back, a autonomia financeira das mulheres que trabalham no campo é um ponto que ainda precisa evoluir, já que as agricultoras ainda têm acesso tardio à renda.

O diretor do Departamento de Agricultura Familiar e Agroindústria da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), Flávio Smaniotto, explica que ter agroindústrias coordenadas por mulheres e jovens é essencial para a diversificação de lideranças. Observa ainda que houve a busca de trabalhos alternativos pelos homens para complementar a renda durante a pandemia, situação que favoreceu a administração dos empreendimentos por parte das mulheres.

“Eu vim para a feira vender e ele ficou em casa produzindo os embutidos”, conta a agricultora Vanessa Cristiane Ferreira Rutsatz, 29 anos, que pela primeira vez participa do Pavilhão da Agricultura Familiar, na 44ª Expointer, referindo-se às tarefas que ela e o marido, donos da Agroindústria e Embutidos Ferreira, de Passo do Sobrado, assumiram.

Em Viadutos, no Alto Uruguai, a Agroindústria Mel Machado tem uma gestão caracterizada pela pouca idade do administrador, Leonardo Machado, de 26 anos. A empresa foi estabelecida em setembro de 2018 e em 2019 estreou na Expointer. “Foi um ano muito bom e por isso seguimos vindo”, destaca Leonardo.

Captação da força do dia

Nereida Vergara

Expositores constatam que produtores rurais vêm aumentando demanda por sistemas de energia solar tanto para reduzir custos quanto para não depender de situações como o atual estresse hídrico enfrentado pelo Brasil

Painéis exibidos por empresas chamaram a atenção de visitantes da Expointer neste ano. Foto: Mauro Schaefer

O aumento dos custos de produção, entre os quais o da energia, além da redução progressiva do subsídio à eletricidade no meio rural – que era de 24% em 2019 e será retirado até 2023 com reduções de 6 pontos percentuais a cada ano – tem impulsionado produtores rurais na busca por soluções de energia renovável. Na 44ª Expointer, empresas da área de energia solar apresentaram opções de projetos que podem reduzir a conta de luz em até 100% e tornar as propriedades autossuficientes.

Uma dessas empresas é a Phama Energias Renováveis, de Panambi, comandada pelo engenheiro metalúrgico Luiz Paulo Hauth. Segundo ele, a conjuntura nacional, com o aumento do estresse hídrico e a preocupação do produtor em obter energia de fonte limpa, fizeram com que o negócio duplicasse o número de atendimentos até setembro de 2021. “Em média, nossa empresa entregava até este ano quatro grandes projetos de energia solar por ano. Em 2021, devemos acrescentar mais dois ou quatro projetos concluídos, o que dá de 50% e 100% de aumento na procura”, diz Hauth.

De acordo com o empresário, no caso da agropecuária, os projetos de geração de energia solar têm sido buscados por médios e grandes produtores, pois exigem capacidade de investimento. Hauth, que tem usinas concluídas no Rio Grande do Sul e em estados do Centro-Oeste, explica que o custo do projeto varia de acordo com o número de placas a serem instaladas e o número de hectares a que a energia pode atender. Ele ressalva, entretanto, que o investimento se paga com aquilo que o produtor deixa de desembolsar pela energia elétrica. Como os equipamentos para geração de energia são ligados à rede elétrica convencional, o produtor não despende mais o consumo, mas apenas uma taxa de disponibilidade do serviço, que fica entre 10% a 15% do que era cobrado na conta tradicional.

Em 10 anos de atuação, de acordo com o engenheiro, as usinas solares instaladas pela empresa no país conseguiram gerar 10 mil megawatts de energia. “E é um negócio que deve crescer mais que em outros países, já que o Brasil tem uma enorme quantidade de sol, o ano inteiro”, calcula.

Henrique Moraes, engenheiro eletricista da EPI, grupo de matriz alemã, informa que a empresa tem atendido muitos produtores nos ramos ervateiro e fumageiro do Rio Grande do Sul, além de produtores de grãos que necessitam de soluções para minimizar as despesas com energia elétrica para estruturas de secagem e armazenamento. Ressalta ainda que a EPI recebe muitas solicitações de empreendimentos que precisam reduzir o consumo de eletricidade gerado por pivôs de irrigação.

Em parceria com a Phama, a EPI negocia a instalação de uma usina solar em Santa Vitória do Palmar. O investimento deve gerar 100% de energia necessária a uma propriedade de 6 mil hectares, ao custo de R$ 1,8 milhão. “A Expointer tem sido um excelente local para prospecção desses negócios e o interesse do produtor também tem aumentado, inclusive para granjas de aves e suínos”, completa.

A produtora Luciana Foletto, administradora da Agropecuária Foletto, em Condor, diz que a família vinha pesquisando as melhores opções para a instalação da energia solar e que agora finaliza as negociações para a concretização do projeto. Com 3 mil hectares, a cultura principal da agropecuária é a soja, armazenada na própria fazenda. O custo médio de energia do estabelecimento com os silos fica mensalmente entre R$ 2 mil e R$ 3 mil, subindo durante a safra para R$ 5 mil. Luciana adianta que serão instaladas três placas, a um custo de R$ 380 mil. “O benefício será não apenas para a produção, mas para a propriedade toda, incluindo a sede da fazenda e as moradias dos nossos 18 funcionários”, complementa a produtora, que comanda o negócio de mais de 60 anos com o pai, Edio Foletto.

Um "desconhecido" saboroso

Vitor Figueiró

Menos “alérgicos”, queijos de búfala se destacam por sabor e ingredientes naturais. Leite bubalino é reconhecido por não conter substância que provoca problemas gástricos em quem tem sensibilidade

Produto é elogiado por não provocar gastrite. Foto: Alina Souza

Ainda “desconhecidos” e pouco procurados por consumidores, os queijos de búfala reúnem peculiaridades que vão além do sabor. Entre elas, de acordo com o produtor Guilherme Aydos, está a sua composição natural, feita com o leite bubalino A2A2, que não contém a substância betacaseína 1, responsável por causar problemas gástricos em quem apresenta sensibilidade, o que muitas vezes é confundido com intolerância à lactose.

“Com o leite A2A2 por natureza, ele acaba por ser bem menos alérgico”, comenta o produtor. Aydos lembra que em alguns bovinos está se tentando reproduzir esse aspecto, que nos bubalinos acontece naturalmente. “Além disso, o búfalo tem uma dupla aptidão. Ele produz leite e carne. Normalmente os animais que produzem leite são animais terneiros e não têm precocidade na produção da carne. Essa dupla aptidão é o que lhe dá o destaque. Além disso, é um animal que embora produza menos, rende mais. Por exemplo, com 51 litros de leite de búfala, é possível fazer uma muçarela. É um queijo bem diferenciado”, acrescenta.

Aydos participou da Mostra Brasileira de Queijos de Búfala, promovida pela Associação Sulina de Criadores de Búfalos (Ascribu) na 44ª Expointer. Ele foi à feira com oito animais (cinco fêmeas e três machos), sendo quatro terneiras, uma novilha prenha e três tourinhos.

Para o vice-presidente da Ascribu, João Gaspar de Almeida, o aspecto saboroso e natural dos queijos feitos com o leite de búfala endossam a valorização do animal ao mercado. “Estamos fazendo um esforço para mostrar a capacidade leiteira do búfalo e também apresentar o potencial desse animal aos produtores. O rebanho leiteiro brasileiro é de 23%, destes, 70% vem dos bubalinos”, reitera.

Entre os queijos feitos a partir do leite de búfalo estão o coalho, cottage, minas frescal, frescos, meia cura, ricota, provolone e requeijão cremoso e manteiga e doce de leite. A estrela principal, explica Gaspar, são a burrata e muçarela. O último, inclusive, tem origem na Campânia (Itália) e lá é feito somente com o leite de búfala.

Para o mercado internacional, a tendência, de acordo com a Ascribu, é um crescimento na procura por esse tipo de leite, o A2A2, produzido pelos búfalos. Neste momento, a China é o país que mais importa esse item. No cenário brasileiro, no entanto, o rebanho bubalino ainda é pequeno, mas vem em ascensão. Atualmente, estima-se que o Estado possua 80 mil cabeças. No Brasil, o número é de aproximadamente 2 milhões de animais. Ainda assim, isso representa somente cerca de 1% de todo o rebanho nacional.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895