Baile de Rebeca: relembre o Brasil na Tóquio 2020

Baile de Rebeca: relembre o Brasil na Tóquio 2020

Com recorde de pódios e melhor classificação geral, delegação brasileira tem maior desempenho olímpico

Brasil somou 21 pódios nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020

Por
Vítor Figueiró

O caráter histórico dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 não ficou somente fora do ambiente das competições. Adiado em um ano em função da pandemia da Covid-19 e realizado com protestos dos japoneses pelo avanço das infecções nos últimos meses, a Olimpíada viveu dias de incerteza até momentos antes da cerimônia de abertura. Quando finalmente ocorreu, o esporte foi premiado com performances épicas, disputas acirradas, quebras de recordes e debate para além do lado físico dos atletas.

No caso do Brasil, Tóquio-2020 agora representa a melhor performance do país em toda sua trajetória olímpica. Com 21 medalhas - 7 ouros, 6 pratas e 8 bronzes, a delegação brasileira ultrapassou o recorde de pódios da Rio-2016, 19, e igualou o maior número de medalhas de ouro, 7, ficando na melhor classificação geral da história: 12° posição. Além do desempenho individual, a Olimpíada viu o maior número de mulheres brasileiras indo ao pódio - com nove medalhas individuais e uma por equipes.

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Agora, o esporte olímpico mira os próximos desafios deste novo ciclo e se prepara para Paris-2024. Para o Brasil, a certeza de que é possível crescer ainda mais, do surgimento de nomes para o futuro e presente, mas saboreando novas e velhas alegrias no esporte.

ATLETISMO - dois bronzes, com a juventude e a experiência

Entre as realidades para os próximos ciclos, está Alison dos Santos, de 21 anos, que levou o Brasil de volta ao pódio em uma prova individual de velocidade no atletismo. A última vez havia sido em Seul, em 1998. Em Tóquio, Alison foi medalhista de bronze em uma prova de outro planeta. Ele conquistou o bronze nos 400 metros com barreiras, numa corrida marcada pelo recorde mundial alienígena do norueguês Karsten Warholm. Ele cravou 45s94 para levar o ouro e derrubar a melhor marca da história em quase oito décimos de segundo.

Foto: Javier Soriano / AFP / CP

A prata ficou com o norte-americano Rai Benjamin, que também teria sido recordista, com 46s17. Alison superou Kyron McMaster e Abderrahman Samba para cruzar em terceiro. Ele detonou o recorde sul-americano e se estabeleceu como terceiro melhor atleta da prova na história, com 46s72.

Um nome já conhecido também precisou de superação para figurar no pódio. Crescendo no palco olímpico, Thiago Braz atravessou um ciclo irregular nos últimos anos, mas saltou para 5,87m e garantiu a medalha de bronze nas Olimpíadas. O ouro ficou com o sueco Armand Duplantis, de 21 anos, que passou por 6,02m, e a prata com Christopher Nilsen, que superou os 5,92m. 

Foto: Bem Satansall / AFP / CP

Apesar de somente dois pódios, o atletismo brasileiro também viu bons desempenhos. Caso do gigante Darlan Romani. Depois de se recuperar de Covid-19 e de uma cirurgia de hérnia, o  brasileiro foi quarto lugar no arremesso de peso, muito próximo de faturar um inédito bronze. O norte-americano Ryan Crouser bateu o recorde olímpico arremessando para 23.30m para ser ouro. 

Izabela Rodrigues da Silva se tornou a primeira mulher brasileira finalista do lançamento do disco. Na decisão, a atleta acabou na 11ª posição.

Na pista, os revezamentos 4x100m, que já deram medalhas ao país, não trouxeram a almejada final para os brasileiros. Feminino e masculino anotaram as melhores marcas do ano, mas isso não foi suficiente para entrar na briga por medalha. No salto triplo, nenhuma final. Mateus de Sá conseguiu registrar 16,49m, ficando em 10º, à frente de Alexsandro Melo, 12º, com 15,65m. Na segunda bateria, Almir Júnior, da Sogipa, fez 16,27m, ficando em 13º. No salto em distância, Samory Yuki, também do clube de Porto Alegre, ficou em décimo sexto. 

Nas provas de rua, o Brasil se emocionou com Erica Sena, que viu o bronze escapar na última curva da marcha atlética 20km. Após uma prova de 19km de muita consistência e sempre no pelotão da frente, a brasileira sofreu uma punição no último, dos 20km da marcha atlética, e precisou parar por dois minutos quando estava na terceira posição, encerrando na 11° colocação. Na maratona, duas desistências de Daniel Nascimento e Daniel Chaves. De Paula foi o único brasileiro que conseguiu encerrar a prova, mas longe do pelotão inicial.

BOXE - pódios em todos os metais, o novo carro-chefe brasileiro

O Brasil parece ter um novo “carro chefe” olímpico. Com um desempenho exuberante, o boxe brasileiro entregou três pódios ao quadro de medalhas e emocionou com lutas empolgantes. 

Foto: Luis Robayo / AFP / CP

Abner Teixeira, no peso-pesado, acabou derrotado na semifinal, mas garantiu o primeiro bronze da modalidade em Tóquio. De campanha espetacular no peso-leve, Beatriz Ferreira se transformou na primeira mulher medalhista na modalidade pelo Brasil. Ela ficou com a prata, após perder na decisão em luta equilibrada. 

Foto: Buda Mendes / AFP / CP

O grande sucesso brasileiro veio com o baiano Hebert Sousa. Perdendo até os últimos dois minutos da final e com o cenário totalmente adverso, o boxeador encaixou uma esquerda salvadora, de cinema, na cabeça do ucraniano Oleksandr Khyzhniak, campeão mundial em 2018, e levou o país ao topo do pódio na modalidade. 

CANOAGEM - ouro com o imparável Isaquias

Isaquias Queiroz mostrou de novo seu braço incansável e conquistou seu sonho. É o primeiro campeão olímpico brasileiro na canoagem. Com domínio na final, ele chegou à medalha de ouro no C1 1000 metros. O feito coloca o brasileiro em um novo patamar e reforça o trabalho feito por Jesus Morlán, que forjou outros campeões da modalidade, mas faleceu durante o ciclo para a Olimpíada.

Foto: Philip Fong / AFP / CP

Ele cumpriu sua promessa de não ir embora de Tóquio sem uma medalha, usando toda sua força na final. Ele começou bem e passou a marca de 250m na terceira posição. Na metade da prova, estava em segundo, mas colado no chinês Hao Liu. A partir daí aumentou o ritmo, aumentou a distância e fechou a prova com tranquilidade em 4min04s408. A prata ficou com Hao Liu, da China, e o bronze com Tarnovschi.

FUTEBOL MASCULINO - bicampeonato com susto apenas na final

O futebol masculino do Brasil voltou ao lugar mais alto do pódio nos Jogos Olímpicos. Depois de nunca conquistar o ouro antes da Rio-2016, a seleção emendou duas medalhas de ouros consecutivas, se igualando ao Uruguai e a Argentina. 

Foto: Tiziana Fabi / AFP / CP

Com atuações consistentes, mas também recheadas de emoção, a equipe comandada por André Jardine levou o título após bater a Espanha na prorrogação por 2 a 1. Na semifinal, na reedição da final de Londres 2012, uma classificação suada nos pênaltis contra o México. Ao longo da campanha, os atacantes Richarlison e Matheus Cunha foram os destaques do time, ao lado do experiente lateral Daniel Alves. 

GINÁSTICA ARTÍSTICA - História feita com o baile de Rebeca, um ouro e uma prata

O maior desempenho da história da ginástica artística brasileira feminina tem um nome e uma trilha sonora: Rebeca Andrade e Baile de Favela. Ao som do funk de MC João, a ginasta entrou para a história em Tóquio se tornando a primeira mulher a subir no pódio com as cores verde e amarela na modalidade. O título significa um novo capítulo para esse esporte no país.

No salto, o título inédito. Ela superou americanas e russas, entre outras, e ganhou o ouro, mudando o patamar da ginástica brasileira no mundo. Rebeca teve nota média de 15.083, a única a superar os 15 mil pontos. A americana Mykayla Skinner ganhou medalha de prata, com 14.916. A sul-coreana Yeo Seoyong levou o bronze, com 14.733. 

No individual geral, Rebeca se tornou a segunda ginasta mais completa do mundo. A definição no pódio se deu nos detalhes de cada prova: a brasileira fechou o torneio com nota 57.298, enquanto o ouro ficou com a norte-americana Sunisa Lee, que pontuou 57.433. Já a russa Angelina Melkinova levou o bronze, após 57.199 na soma geral dos equipamentos.

Foto: Jeff Pachoud / AFP / CP

Ainda com Rebeca, o Brasil ficou em quinto lugar no solo em uma competição de alto nível. Na trave, a ginasta Flávia Saraiva ficou na sétima posição, mas alcançou a final a final da modalidade. Ela teve uma nota de 13.133, muito em função de um desequilíbrio que sofreu logo no início da sua apresentação. 

Os meninos da ginástica não medalharam, mas conquistaram bons resultados. Em sua terceira final olímpica, Zanetti acabou cometendo um erro na execução de sua série e ficou na última colocação. Ele subiu o nível de sua série justamente para ir ao pódio, no entanto, o erro lhe tirou essa chance.

Da nova geração, Caio Souza e Diogo Soares foram a final do individual geral. Apesar de não figurarem próximo ao pódio, a dupla representou o país na decisão da modalidade com qualidade. No salto, Caio Souza acabou caindo e ficou no oitavo lugar. 

A decepção da ginástica foi a não classificação de Arthur Nory, tanto no solo, quanto na barra fixa. Com alguns erros e uma queda, Nory, que era candidato a medalha, ficou de fora do top 8 e não lutou por pódio. Na disputa por equipes, o Brasil encerrou a apresentação na nona colocação, não se classificando para a final. 

JUDÔ - gaúchos contém queda de desempenho, com dois bronzes

O judô brasileiro se despediu da Olimpíada de Tóquio com duas medalhas de bronze conquistadas, com os gaúchos Mayra Aguiar e Daniel Cargnin. O resultado é inferior ao dos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016, quando foram conquistadas três medalhas (sendo uma de ouro, com Rafaela Silva), mas manteve a tradição do Brasil na modalidade. Foi a décima edição seguida em que o país subiu ao pódio olímpico.

Nos últimos três jogos, aliás, a gaúcha Mayra Aguiar manteve sua doce rotina: subir ao pódio. A atleta da Sogipa fez história no Japão. Após imobilizar e superar a sul-coreana Yoon Hyunji na final da repescagem até 78kg, a atleta da Sogipa se tornou a primeira mulher brasileira a subir três vezes ao pódio em esportes individuais. Além disto, ela também se consolidou como a única na modalidade a conquistar medalha em três Jogos Olímpicos consecutivos.

Foto: Franck Fife/ AFP / CP

Num ciclo olímpico que começou com o título mundial em 2017, mas terminou atrapalhado por uma grave lesão no joelho no final de 2020 e a incerteza da recuperação a tempo, Mayra conseguiu repetir sua doce rotina em Olimpíadas: ir ao pódio. A judoca reproduziu este feito em Londres-2012 e Rio-2016, na mesma categoria. A única vez que não voltou com uma medalha no peito, foi em sua estreia na competição, Pequim-2008.

A primeira medalha da modalidade no Japão, no tradicional Budokan, também veio da Sogipa e do Rio Grande do Sul. O jovem judoca Daniel Cargnin conquistou a medalha de bronze ao derrotar o israelense Baruch Shmailov por wazari. Com uma prata e um bronze, o Brasil agora é o 17º no quadro de medalhas.

O judoca gaúcho começou a jornada olímpica superando o egípcio Mohamed Abdelmawgoud por ippon. Depois, aplicou um waz-ari em Denis Vieru, da Moldávia.Cargnin se classificou para a semifinal da categoria até 66kg ao derrotar o italiano Manuel Lombardo, primeiro do ranking mundial. 

Na semifinal em sua única derrota na competição, o brasileiro enfrentou o japonês Hifum Abe, número 5 do ranking e vencedor de dois mundiais. Lutando em casa, o anfitrião fez valer o favoritismo e derrotou Cargnin por ippon.

Além das medalhas, o judô gaúcho também viveu indignação com decisões controversas da arbitragem que resultaram em uma eliminação de Maria Portela, na categoria até 70kg. A judoca gaúcha mostrou todo o espírito de luta que lhe rendeu o apelido de "Raçudinha" em sua participação na Tóquio 2020. Ela acabou eliminada na segunda luta contra a russa Madina Taimazova. Duas decisões extremamente polêmicas dos árbitros levaram a atleta da Sogipa aos prantos, encerrando sua Olimpíada. Primeira medalhista da modalidade, Ketlyn Quadros chegou a repescagem, mas não conseguiu entrar na luta pelo bronze. 

Tóquio-2020 marcou a estreia do judô por equipes. O Brasil não teve o rendimento esperado e ficou sem lutar nem pelo bronze na repescagem. Nas derrotas para Israel e Holanda, no entanto, Mayra Aguiar, Daniel Cargnin e Maria Portela se destacaram pelo seu desempenho. 

Mayra, que venceu suas duas lutas, precisou entrar na vaga de Maria Suelen, que se lesionou nos confrontos individuais dos pesados. A gaúcha encarou atletas mais pesadas que ela e mesmo assim triunfou marcando o ponto para o país. 

NATAÇÃO - Ana Marcela faz história com ouro, bronzes vem na velocidade

Das águas de Tóquio, um desempenho singular brasilerio: três medalhas. Um ouro e dois bronzes, superando a marca de Pequim 2008, com um ouro e um bronze de Cesar Cielo. Nas piscinas, a surpresa veio com o bronze de Fernando Scheffer nos 200m livre logo no primeiro final de semana. O brasileiro terminou com o tempo de 1:44:66. A dobradinha nos primeiros lugares foi da Grã-Bretanha: Tom Dean ficou com o ouro e Duncan Scott levou a prata. 

Foto: Oli Scarff / AFP / CP

Mais conhecido no país, o nadador Bruno Fratus subiu ao pódio olímpico pela primeira vez na carreira. Depois de frustrações em Londres e no Rio, ele conquistou a medalha de bronze nos 50m livre.. Foi uma vitória na raça do atleta, que buscou braçada a braçada o pódio, depois de uma largada mais fraca que os rivais imediatos.No Centro Aquático da capital japonesa, Fratus completou a prova com o tempo de 21.57. 

Foto: Odd Andersen / AFP / CP

O principal resultado dos nadadores brasileiros veio do mar japonês. Ana Marcela Cunha conquistou a medalha de ouro na maratona aquática de Tóquio. Em uma prova emocionante, ela se manteve sempre no pelotão da frente e deu um gás no final para se distanciar e chegar na primeira posição. A baiana fez os 10km da prova em 1h59min30seg. 

Ana Marcela tem uma carreira repleta de grandes conquistas, especialmente em Mundiais — em que a atleta tem 11 pódios. Nas últimas Olimpíadas, no entanto, Ana Marcela não havia conseguido os resultados esperados. Agora, ela é a primeira nadadora do país campeã olímpica. 

SURFE - Ítalo faz a festa com ouro, Medina polêmica nas ondas e fora delas

Bem recebida pelo público, o surfe foi uma das modalidades que fizeram a sua estreia nos Jogos Olímpicos na edição de Tóquio-2020. Foi do surfe, aliás, que chegou a primeira medalha de ouro brasileira. O país competia com diversos candidatos ao título - como Ítalo Ferreira, Gabriel Medina e Tatiana Weston Webb. Atual campeão mundial e número dois do mundo, Ítalo confirmou seu favoritismo e viu a dobradinha com o Medina se tornar frustração com a polêmica da arbitragem. 

Foto: Olivier Morin / AFP / CP

Até os duelos entre os quatro melhores, o Brasil vivia a expectativa de pódio duplo. Ítalo fez sua parte e superou o australiano Owen Wright, por 13.17 a 12.47. Do outro lado da chave, Gabriel Medina, que também "voou" nas quartas de final, acabou sendo derrotado pelo japonês Kanoa Igarashi, com direito a reclamação em suas notas. A liderança era de Medina até os minutos finais do duelo, quando Igarashi, que precisava de um 9.1, encaixou um 9.33 e avançou para a decisão com uma manobra semelhante a do brasileiro, mas de avaliação superior. Frustrado pela decepção na semi, Medina também foi superado na decisão da medalha de bronze. Desta vez, por apenas 0,2 pontos, - 11.97 a 11.77, para o australiano Owen Wright. 

Após ver seu compatriota ficar em quarto lugar, Ítalo entrou na água contra Igarashi para "vingar" a frustração brasileira com as decisões dos árbitros. E conseguiu. A disputa, que começou com um lance um tanto quanto inusitado - a quebra da prancha do brasileiro - não teve equilíbrio em nenhum momento. O japonês não encaixou manobras relevantes e o brasileiro triunfou por 15.16 a 6.60.

Atual número quatro do ranking da temporada no Circuito Mundial, Tatiana, que nasceu em Porto Alegre, era esperança de medalha para o Brasil. Ela vinha de boas ondas na estreia. Mas acabou sendo superada pela japonesa Amuro Tsuzuki por 10,33 a 9,00. Na disputa, a brasileira começou melhor, pegou boas ondas nos primeiros minutos. Porém, aos 15 minutos de disputa da bateria, a surfista da casa obteve a virada e a brasileira não conseguiu alcançá-la nos instantes finais. Silvana Lima caiu nas quartas de final diante da tetracampeã mundial Carissa Moore, dos Estados Unidos, grande favorita ao ouro. Sem conseguir pegar boas ondas, num mar bastante mexido em Tsurigasaki, a cearense deu adeus com derrota por 14,26 a 8,30.

SKATE - Fadinha lidera o sonho da prata tripla na nova modalidade

Outra novidade fazendo sua estreia no Japão, o skate caiu nas graças dos brasileiros. O Brasil fez bonito na modalidade com três medalhas de prata, o que contribuiu significativamente para a quebra do recorde de pódios brasileiros em uma só Olimpíada.

No skate street, a Fadinha Rayssa Leal, pelo feminino, e Kevin Hofler e Pedro Barros, no masculino, ficaram com o segundo lugar. A "Fadinha", com apenas 13 anos, encantou o país inteiro com seu sorriso, sua técnica e sua leveza para competir. Ela se tornou a medalhista mais jovem da história do Brasil

TÊNIS - Dupla feminina surpreende com bronze histórico

Um roteiro improvável e de filme. Assim é possível definir a primeira medalha na história do tênis brasileira em Olimpíada. Laura Pigossi e Luisa Stefani desafiaram a lógica para conquistar o bronze em Tóquio. As atletas descobriram um mês antes da competição que entrariam no torneio. 

Derrubando favoritas até a derrota na semifinal para as campeãs suíças Bencic e Golubic, as brasileiras conseguiram se reerguer do revés na decisão do terceiro lugar. Saindo atrás por 1 set a 0, Pigossi e Stefani não se intimidaram, fecharam a segunda parcial e foram capazes de ganhar da experiente dupla adversária, as russas Veronika Kudermetova e Elena Vesnin, em um super tie break épico - onde permaneceram em desvantagem na maior parte do tempo.

Foto: Tiziana Fabi / AFP / CP

As russas, atuais vice-campeãs de Wimbledon, chegaram a abrir 9 a 5, com quatro match points para selar o jogo. Vibrando a cada ponto, a dupla do Brasil buscou em 9 a 9 e virou em 11 a 9 numa bola para fora de Vesnina. Enquanto a bola subia, a emoção tomava conta da quadra. 

VELA - Martine e Kahena repetem título para garantir ouro da vela

De ser campeã em Jogos Olímpicos, Martine Grael e Kahena Kunze entendem. Elas conquistaram um inédito bicampeonato olímpico da classe 49er FX após uma medal race repleta de estratégia e inteligência. Ao longo das regatas, elas superaram adversidades e problemas na vela. 

Foto: Olivier Morin / AFP / CP

O ouro delas é a 19ª medalha da vela brasileira na história dos Jogos Olímpicos, sendo a 9ª apenas da família Grael. Até agora, foram oito ouros, três pratas e oito bronzes. É o esporte que mais rendeu medalhas de ouro ao país no evento.

Chegando na regata decisiva empatadas com as holandesas Annemiek Bekkering e Annette Duetz e pouco à frente de Alemanha, Espanha e Grã Bretanha, as brasileiras surpreenderam. Enquanto as outras competidoras formaram um pelotão, elas foram para o outro lado, buscando uma corrente de vento mais forte.

O RS foi representado com Fernanda Oliveira e Ana Barbachan, do Jangadeiros. Elas encerraram sua participação nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 9° lugar na classificação geral. Precisando de uma combinação de resultados para sonhar com o bronze na classe 470 da vela, a dupla encerrou a regata da medalha na madrugada desta quarta-feira na 10ª e última colocação. O ouro ficou com a Grã-Bretanha, a prata com a Polônia e o bronze com a França.

VÔLEI DE QUADRA - Feminino conquista prata, masculino é frustração

Chegando em Tóquio-2020 sem estar entre as favoritas, a seleção brasileira fez bonito no Japão. Com somente uma derrota - na final para os EUA - as atletas do vôlei foram as responsáveis pela única medalha da modalidade: a prata. 

Foto: Jung Yeon-Je / AFP / CP

Em campanha marcada também pela suspensão da oposta Tandara por possível doping e uma lesão da levantadora Macris, as jogadoras se superaram e retornaram ao pódio olímpico depois de ficarem em oitavo na Rio-2016. 

No masculino, o desempenho acabou por ser decepcionante dos atuais campeões olímpicos. Após engrenarem ao longo da fase de grupos, a seleção de Renan Dal Zotto foi superada amplamente pela Rússia na semifinal e pela Argentina na disputa pelo Bronze, ficando sem uma medalha pela primeira vez em quatro edições dos Jogos. 

Boas marcas, mesmo sem medalhas

BADMINTON 

O Brasil conseguiu sua primeira vitória no badminton olímpico com Ygor Coelho. O triunfo inédito, que não serviu para evitar a eliminação, veio contra Georges Julien Paul, das Ilhas Maurício, por 2 a 0 (parciais de 21-5 e 21-16). No feminino, a brasileira Fabiana Silva foi derrotada logo na estreia para a Marija Ulitina por 2 sets a 0, com parciais de 21/14 e 22/20.

CANOAGEM SLALOM

Ana Sátila marcou seu nome na história do esporte do país ao se tornar a primeira brasileira a se classificar para uma final olímpica na canoagem slalom C1. Na semifinal, ela fez o percurso em 114.27 segundos e foi a terceira melhor. 

Na decisão, a brasileira, apesar de ter feito um bom tempo, cometeu duas irregularidades, que adicionaram 54 segundos à sua prova, a deixando bem longe das primeiras colocadas.

Representante do Brasil na canoagem slalom masculina, Pepê Gonçalves não conseguiu se classificar à final do K1 (caiaque individual). Na semifinal da prova, ele bateu em três obstáculos durante a sua descida e, com as penalizações, ficou com o tempo de 104s33, apenas em 19º lugar entre os 20 participantes. Assim, não conseguiu uma das dez vagas na decisão.

CICLISMO 

Nos esportes "radicais", Renato Rezende confirmou a melhor Olimpíada do país com o 14º lugar no ciclismo BMX. Representante brasileiro no ciclismo BMX, Renato Rezende não passou da semifinal dos Jogos Olímpicos de Tóquio, na madrugada desta sexta-feira. Na segunda das três voltas, ele caiu na pista.

Ao final da sua bateria, ficou em sétimo lugar. Terminou com o 14º lugar geral. Em sua terceira participação em Olimpíadas, essa é a primeira vez que o carioca chegou a uma semifinal, ficando entre os 16 melhores do mundo.

ESGRIMA

Principal esperança de medalha do país na estreia, a esgrimista Nathalie Moellhausen, campeã mundial em 2019, travou uma verdadeira batalha com a italiana Rosella Fiamino, atual vice-campeã olímpica, na esgrima no primeiro dia. No entanto, após um duelo com várias trocas de lideranças, a adversária venceu por 10 a 9 no golden point e frustrou o sonho da italiana, que tem nacionalidade brasileira, de vencer em Tóquio. 

Na esgrima, o esgrimista do Grêmio Náutico União, Guilherme Toldo, não conseguiu passar da primeira fase. Ele foi batido Toshiya Saitō, do Japão, por 10 a 15, num combate equilibrado.

FUTEBOL FEMININO 

O Brasil parou nas quartas de final no futebol feminino em sua primeira olimpíada comandado pela tri-medalhista Pia Sundhage. A eliminação veio para a Canadá, campeão olímpico, que despachou Brasil, EUA, e Suécia na campanha. 

A derrota veio em jogo disputado e digno de duas seleções acostumadas a competir e avançar nos Jogos Olímpicos, em Miyagi, no Japão, pelas quartas de final da Tóquio 2020. Brasil e Canadá precisaram de 120 minutos, mais as penalidades, para decidir quem avançaria às semifinais. No detalhe, deu Canadá, por 4 a 3 nos tiros diretos da marca fatal, após um 0 a 0 no tempo normal e no período extra. 

Numa partida de defesas superiores aos ataques, o time de Pia até chegou mais perto da vitória com a bola rolando, mas viu a boa goleira Labbé se destacar e a falta de criatividade do ataque prevalecer. Na decisão de pênaltis, a vantagem apareceu logo na primeira cobrança, com defesa de Barbara em chute de Sinclair, mas Andressa Alves e Rafa desperdiçaram e a eficiência canadense apareceu no fim para selar o placar em 4 a 3. 

A derrota marcou a despedida da veterana Formiga, de 40 anos, das competições olímpicas. No final da partida, as atletas formaram uma roda e conversaram sobre o desempenho e os avanços do futebol feminino no país. 

LEVANTAMENTO DE PESO

No levantamento de peso, a brasileira Natasha Rosa ficou em nono lugar em sua categoria, até 49 kg. A atleta levantou 78 kg no arranco e 95 kg no arremesso, totalizando 173 kg. A medalha de ouro ficou com a chinesa Zhihui Hou, que bateu três recordes olímpicos na mesma disputa, fechando com 210kg.

Foto: Mohd Rasfan / AFP / CP

GINÁSTICA RÍTMICA

O Brasil não conseguiu avançar às finais da ginástica rítmica por equipes. As brasileiras terminaram na 12ª posição geral. No Centro de Ginástica Ariake, o quinteto formado por Maria Eduarda Arakaki, Deborah Medrado, Nicole Pircio, Geovanna Santos e Beatriz Silva obteve um total de 73.250 pontos na prova.

As líderes da classificação para a final foram Bulgária, com 91.800 pontos, seguida pelo Comitê Olímpico da Rússia (89.050) e pela Itália (87.150). O Brasil acabou na frente apenas de Austrália e Egito.

HANDEBOL 

As seleções brasileiras masculina e feminina de Handebol ficaram na fase de grupos em Tóquio. As meninas deixaram os Jogos com uma vitória, um empate e três derrotas. Pela primeira vez, o time não passou por essa etapa da competição. 

No masculino, uma eliminação ainda mais dolorida. Foram apenas uma vitória e quatro derrotas, ficando na quinta posição do grupo A

HIPISMO

Na final do hipismo salto por equipes, maior feito do país na modalidade, o Brasil, com o trio formado por Marlon Zanotelli, Yuri Mansur e Pedro Veniss terminou em sexto lugar, depois de perder 29 pontos.

REMO 

O remador carioca Lucas Verthein foi o 6º colocado na final B do skiff simples. Ele confirmou a melhor participação verde e amarela na história da modalidade em Jogos Olímpicos com a 12ª posição no geral.

SALTO ORNAMENTAL

Aos 19 anos, Kawan Pereira fez história ao se classificar para a primeira final do Brasil nos saltos ornamentais. Na decisão do trampolim 10 metros, entre os 12 melhores do mundo, o atleta piauiense somou 393,85 pontos em seis saltos e ficou na décima posição. 

Foto: Oli Scarff / AFP / CP

No feminino, Ingrid Oliveira não conseguiu se classificar para a decisão.

TIRO COM ARCO 

No tiro com arco feminino, a brasileira Ane Marcelle Santos venceu a mexicana Ana Vázquez e avançou às oitavas de final do torneio olímpico. No entanto, ela parou nas oitavas superada pela sul-coreana An San, uma das cabeças de chave do torneio.  

O arqueiro carioca Marcus D´Almeida perdeu para o italiano Mauro Nespoli por 6 a 0 nas oitavas de final do tiro com arco da Olimpíada de Tóquio (Japão). Quarto colocado nos Jogos de 2016 (Rio de Janeiro), o europeu foi muito superior na disputa. Com o resultado, o brasileiro finalizou o torneio em 9º lugar, igualando o melhor desempenho da história do país, que era da Ane Marcelle, nos Jogos de 2016.

TIRO ESPORTIVO 

Candidato a surpreender, o medalha de prata na Rio/2016, Felipe Wu foi eliminado na primeira fase da pistola de ar 10m. No Campo de Tiro de Asaka, o atirador ficou apenas em 32º lugar entre os 36 competidores, ao somar 566 pontos.

TÊNIS DE MESA

Hugo Calderano fez o melhor desempenho brasileiro da história do tênis de mesa chegando até as quartas de final dos Jogos Olímpicos, onde acabou eliminado. Ele foi o primeiro atleta fora do eixo Ásia-Europa a conseguir chegar a esta fase. Gustavo Tsuboi avançou até as oitavas, sendo a primeira vez que o Brasil colocou dois mesatenistas nessa fase da competição. 

Foto: Adek Berry / AFP / CP

Por equipes, outro resultado relevante no masculino. O Brasil ficou entre os oito melhores do torneio masculino de equipes dos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020. A eliminação veio para a experiente equipe da Coreia do Sul. A equipe era composta por Victor Ishy, Gustavo Tsuboi e Hugo Calderano

No feminino, também ficou nas quartas. Ela perdeu por 3 a 1 para Hong Kong, neste domingo. O time era composto por Jessica Yamada e Caroline Kumahara e Bruna Takanashi.

TAEKWONDO

No Taekwondo, o Brasil viu Ícaro Miguel parar nas oitavas de final sendo superado pelo italiano Simone Alessio. No feminino, Milena Titoneli venceu Al-Sadeq e chegou até as quartas na categoria até 67kg. No duelo com a croata Matela Jelic, a brasileira foi amplamente dominada e perdeu por 30 a 9. 

Para ter chances de medalha e retornar na repescagem, Milena precisava que a croata se classificasse para a final, o que aconteceu, com Jelic sendo, inclusive, medalha de ouro.  Assim, a brasileira retornou para uma luta de repescagem contra a haitiana Lauren Lee e venceu com facilidade por 26-5, garantindo uma vaga na disputa pelo bronze. No duelo pelo terceiro lugar, ela foi derrotada por 12-8 por Ruth Gbagbi, da Costa do Marfim. Gbagbi, 27 anos, que já havia conquistado o bronze nos Jogos Rio-2016.

VÔLEI DE PRAIA 

Pela primeira vez na história, o Brasil não terá uma dupla do vôlei de praia subindo ao pódio nos Jogos Olímpicos. As duplas Evandro/Bruno Schmidt e Alison/Álvaro Filho foram derrotadas por Martins Plavins e Edgars Tocs, da Letônia, nas oitavas e quartas de final, respectivamente. No feminino, Ágatha e Duda, grandes favoritas, caíram nas oitavas para as alemãs Ludwig e Kozuch. Já Ana Patricia e Rebecca perderam nas quartas para as suíças Anouk Verge-Depre e Joana Heidrich. 

Foto: Daniel Leal- Olivas / AFP / CP

A modalidade foi integrada ao programa olímpico nos Jogos de Atlanta, em 1996. Naquela ocasião, o vôlei de praia brasileiro fez história com a dobradinha no pódio, levando o ouro, com a dupla Jaqueline e Sandra, e a prata, com Mônica e Adriana. De lá para cá, o Brasil sempre teve pelo menos uma dupla, seja no masculino ou feminino, subindo ao pódio. 

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895