Ações vivas no digital

Ações vivas no digital

Projetos criados por acadêmicos encontram caminho alternativo para a realização de ações inovadoras

Por
Daiana Garcia*

O uso das redes sociais para compartilhamento de conhecimento e informação tem sido cada vez mais recorrente com o passar dos anos. Com a pandemia, o processo de alternar o presencial com o on-line foi acelerado e, atualmente, não estar no Instagram, Facebook, Twitter ou Youtube pode prejudicar (e muito) o alcance de trabalhos que optam por continuar off-lines. Segundo o relatório “Tendências emergentes: as forças que moldam o futuro hoje”, realizado entre agosto e setembro de 2020 pelo Instituto Ipsos, a pedido do Facebook, cresce o número de pessoas que estão adotando canais on-line para se conectar com outros usuários. Alinhados a essa realidade, projetos acadêmicos que buscam contribuir com as comunidades locais encontraram, no digital, um caminho alternativo para fazer a diferença.

Saúde mental

Projeto Pega Leve Ufrgs treina monitores para serem agentes ativos no acolhimento de universitários que desenvolvem transtornos mentais. Foto: Roberta Zanini da Rocha / Pega Leve Ufrgs / CP

Na Universidade Federal do RS (Ufrgs), muitas iniciativas foram criadas com este viés, uma delas é o projeto de extensão “Pega Leve Ufrgs”, que busca criar uma rede de identificação e encaminhamento adequado de estudantes em risco, além de visibilizar a questão da saúde mental no ambiente universitário. Desenvolvido desde 2018, o projeto, que teve a atuação intensificada no meio digital com a chegada da pandemia, reúne uma série de atividades de psicoeducação nas redes sociais. Além disso, os integrantes da iniciativa participam e promovem diversos eventos virtuais acerca do tema, com envolvimento de diretórios acadêmicos e setores de instituições de Ensino Superior.

A coordenadora do projeto, Ana Margareth Siqueira Bassols, professora na Faculdade de Medicina da Ufrgs, lembra que a curiosidade pela temática iniciou em seu doutorado, em 2017, quando reuniu um grupo de interessados no assunto. “Os universitários enfrentam muitas questões durante a graduação e, com o passar do tempo, percebemos que este não era um problema exclusivo dos alunos de Medicina.” Segundo ela, jovens entre 18 e 24 anos estão em momento de transição da vida, que desencadeia bastante estresse de desenvolvimento. “Sabemos que a maioria não recebe atendimento psicológico ou psiquiátrico. Então, estes transtornos mentais, se muito frequentes, colocam o estudante em risco de depressão mais grave e, até, suicídio.” Sobre a forma de seleção dos extensionistas, Ana disse que qualquer aluno, inclusive de diferentes cursos e de outras universidades, pode participar. A seleção inclui treino para que eles sejam monitores atentos aos sofrimentos dos colegas.

Com a chegada da pandemia e a necessidade de isolamento social, para evitar a disseminação da Covid-19, o projeto precisou se reinventar. Assim, começou a realizar as seleções e os treinamentos de forma on-line. Inclusive, uma das inovações realizadas neste novo contexto foi uma ação promovida em parceria com influenciadores digitais jovens, que passaram a fazer postagens sobre a proposta, após conversas e troca de informações.

Atualmente, o perfil conta com mais de 2 mil seguidores no Instagram e divulga informações sobre diferentes transtornos mentais, fatores de risco à saúde, dicas para ajudar pessoas que passam por momentos difíceis, gerenciamento do estresse, importância do sono e atividades físicas, além de indicar, através do Mapa Pega Leve, uma lista de locais que oferecem atendimento psicológico e psiquiátrico a baixo custo. “Sempre deixamos claro, que o monitor não substitui o papel do profissional, por isso é importante apontar os locais onde os alunos possam buscar ajuda”, reforçou a professora. O Mapa Pega Leve pode ser acessado através do site linktr.ee/pegaleve. Já os conteúdos informativos estão disponíveis no perfil do Instagram (@pegaleve.projeto).

Neurociências

Também na Ufrgs, por meio do Programa de Pós-Graduação (PPG) em Neurociências, o projeto de extensão “Papo cabeça: uma viagem ao universo das neurociências nas mídias sociais” busca promover e facilitar o acesso da comunidade ao conhecimento científico em Neurociências, com uso de mídias sociais. Intitulado nas redes como Sinapticando, o projeto funciona pelo Instagram (@sinapticando) e Facebook (www.facebook.com/sinapticando) e publica conteúdos com linguagem acessível, de forma lúdica e em forma de ilustrações, textos e vídeos produzidos em colaboração com estudantes e professores do PPG em Neurociências.

O trabalho é coordenado pelas professoras Denise Maria Zancan e Maria Elisa Calcagnotto e os conteúdos englobam informações sobre história das Neurociências, funcionamento do sistema nervoso e doenças que acometem este sistema. Por meio dele, ainda é possível conhecer mais pesquisas docentes vinculadas ao PPG.

Direito das mulheres

Para auxiliar e acolher mulheres que vivem em relacionamentos abusivos, uma turma do curso de Direito da Universidade de Passo Fundo (UPF) criou o perfil no Instagram Lute como uma Mulher (@lute_comoumamulher). Por meio da rede social, a equipe divulga informações sobre os diferentes tipos de violência que existem contra a mulher, ouve dúvidas da comunidade e compartilha conteúdos que ajudam as vítimas a procurar ajuda. A equipe é composta por nove estudantes, sendo sete mulheres e dois homens.
A acadêmica Ana Cristina Giardello, uma das integrantes do projeto, explica que o intuito do perfil é prestar assistência e trazer pautas atuais sobre feminicídio, violência contra mulher, entre outros assuntos enfrentados pela sociedade. “Estamos aprendendo muito e cada membro possui uma ligação com o tema. Poder informar as pessoas sobre uma violência que é tão naturalizada pela sociedade é o mínimo que poderíamos fazer.”

Ana lembra que a ideia surgiu em sala de aula, na disciplina Integradora I, quando o professor Franco Scortegagna propôs alguns temas complexos da realidade atual e instigou a turma a desenvolver um produto que servisse como ferramenta. “Nosso objetivo é criar um alerta, fazer com que as pessoas questionem os seus relacionamentos. É prevenir que mulheres entrem nessa situação, e também prestar algum apoio a essas vítimas”, ressaltou a estudante. Além dela, integram o grupo, os acadêmicos Paulo Sérgio Tumelero, Felipe Geliski Fanton, Bruna Gonçalves do Prado, Sabrina Carla Kowalski, Yasmin Dall Agnese, Manuela Peretti, Carolina Moterle e Jéssika Rodigheri.

Projeto incentiva adoção de pets

Foto: Rafaela Almansa Ibarra / Universidade Feevale / CP

Na Universidade Feevale, em Novo Hamburgo, quatro estudantes, dos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas, motivadas pelo acolhimento e por direitos dos animais, desenvolveram um projeto social voltado à adoção de pets. A ação, que integra a disciplina “Produção Cultural e Social”, da Feevale, é uma parceria com a Organização Não Governamental (ONG) Focinho Amigo, em Nova Petrópolis. Durante o mês de junho, o projeto buscou captar pessoas interessadas em adotar ou apadrinhar animais vítimas de abandono.

Sob orientação do professor Samyr Paz, o projeto utiliza as redes sociais como um dos principais instrumentos para engajar a população nessa proposta. Em atividade desde 2011, a ONG Focinho Amigo é dirigida por Carla Patrícia Hennemann e por voluntários. Atualmente, possui cerca de 11 mil curtidas na página do Facebook, e tem mais de 6 mil seguidores no perfil do Instagram (@focinhoamigo_np).

Já o projeto acadêmico conta com a participação das alunas Gracieli Schwendler, Brenda Jennifer Chaves, Letícia Prior Breda e Milena dos Santos Jahn (foto). Conforme informações da Feevale, a ONG não recolhe animais e não possui abrigos, pois acredita que a responsabilidade pelo bem-estar dos pets é de todos. Mais informes e contato, por meio do site do projeto, aqui.

*Sob supervisão de Maria José Vasconcelos

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895