Retrospectiva 2020: Além da Covid

Retrospectiva 2020: Além da Covid

Conflitos internacionais, brigas políticas no país, uma inédita eleição fora de época e extremos do clima que castigaram o RS

Por
Jonathas Costa

O ano de 2020 foi turbulento, para além da pandemia e suas consequências. Houve conflitos internacionais, brigas políticas no país, uma inédita eleição fora de época e extremos do clima que castigaram o Rio Grande do Sul com secas, ciclone bomba e até nuvem de gafanhotos.

Ameaça de guerra já no terceiro dia do ano

Era apenas 3 de janeiro quando o general iraniano Qasem Soleimani morreu durante um bombardeio no aeroporto de Bagdá. O ataque foi ordenado por Donald Trump. Soleimani era um herói nacional e, após a morte, uma onda de protestos varreu o país. O funeral causou tumulto e durou três dias. O governo persa jurou vingança e atacou bases americanas na região. A escalada de tensão fez com que o mundo temesse uma possível 3ª Guerra Mundial, principalmente após o Irã derrubar com um míssil um avião ucraniano por engano, no dia 8 de janeiro, com cidadãos do Canadá, Ucrânia, Suécia, Afeganistão e Reino Unido a bordo. Ao todo, 176 pessoas morreram com a queda. Em dezembro, um comandante da Guarda Revolucionária Iraniana afirmou que sua unidade assumiu “total responsabilidade” pelo abate acidental da aeronave. 

Fuga em massa de presos

Uma fuga cinematográfica de presos do PCC no Paraguai colocou autoridades em alerta no início do ano. Ao todo 75 detentos da penitenciária de Pedro Juan Caballero, na fronteira com o Brasil, conseguiram escapar por um túnel. Depois da fuga, 32 pessoas envolvidas no caso foram detidas, 28 delas agentes penitenciários.

Escândalo real

Ainda em janeiro um anúncio surpreendente abalou a família real mais famosa do mundo. O príncipe Harry e Meghan Markle anunciaram que deixariam as funções da coroa britânica. O duque e a duquesa de Sussex disseram que passariam a trabalhar para se tornarem financeiramente independentes e, em agosto, compraram uma mansão na Califórnia. O caso foi chamado de “Megxit” em alusão a saída da Grã-Bretanha da União Europeia, o que foi oficializado neste ano após intensas negociações comerciais. 

Casos João Pedro e Miguel

Duas mortes trágicas de crianças abalaram o país em 2020. Em maio, João Pedro Mattos Pinto, de 14 anos, foi baleado durante uma operação policial em São Gonçalo. Em junho, Miguel Otávio Santana da Silva, de 5 anos, caiu do 9º andar de um prédio de luxo em Recife. Ele foi deixado sozinho pela patroa da mãe do menino. 

Mãe mata o filho em Planalto e rs revive Caso Bernardo

Seis anos após a trágica morte do menino Bernardo, os gaúchos acompanharam o caso Rafael Mateus Winques, asfixiado pela própria mãe Alexandra Dougokenski no dia 15 de maio. Ela chegou a reportar o desaparecimento da criança, mas dez dias depois confessou o crime. Ela alegou que havia ministrado um medicamento que teria causado a morte de Rafael e indicou onde estava o corpo: dentro de uma caixa, no pátio da casa vizinha. Em julho, o Ministério Público apresentou denúncia e Alexandra se tornou ré por quatro crimes: homicídio doloso quadruplamente qualificado, ocultação de cadáver, falsidade ideológica e fraude processual.

Seca volta a castigar

Com baixos índices de chuva há mais de um ano, famílias gaúchas sofreram com a falta de abastecimento de água potável e com as perdas na agricultura ao longo deste ano. Os produtores contabilizam perdas na safra de milho pelo segundo ano consecutivo, e pelo mesmo motivo: falta de chuvas, que caíram no meio do ano, mas em quantidade insuficiente para reverter as perdas. O ano terminou com a previsão de uma quebra de safra ainda maior que em 2019/20, quando a produção recuou 26,7%.

Ciclone bomba assusta

Indicativo dos extremos do tempo, o ano ainda foi marcado por um ciclone bomba que atingiu o Sul do Brasil trazendo volumes excessivos de chuvas, rajadas de vento acima dos 100 km/h e marcas históricas. O saldo do fenômeno também foi trágico. Em Santa Catarina, dez pessoas morreram durante a passagem da tormenta. Já no Rio Grande do Sul, pelo menos 38 cidades reportaram danos<EN>e mais de 2,3 mil pessoas ficaram desalojadas. Em Tramandaí, um hospital foi destelhado e obrigou a remoção de pacientes.

Currículo turbinado

Carlos Alberto Decotelli substituiu Weintraub na Educação, mas apenas por cinco dias. Antes mesmo da posse, deixou o governo por ‘turbinar’ o currículo. As inconsistências apareceram quando o reitor da Universidade Nacional de Rosário, na Argentina, afirmou que ele nunca concluiu o doutorado e que a tese foi reprovada. Em seguida a FGV anunciou que apurava denúncias de plágio e a Universidade de Wuppertal, na Alemanha, desmentiu o pós-doutorado na instituição. Milton Ribeiro assumiu a pasta e, ao final do ano, conseguiu aprovar o novo Fundeb. 

 

Nuvem de gafanhotos

Uma nuvem de gafanhotos assustou produtores rurais em junho, quando os insetos destruíram lavouras de milho na Argentina e migraram no sentido do Rio Grande do Sul. Cerca de 400 milhões de gafanhotos estavam sobrevoando os país vizinho e pondo em risco vários hectares de plantações. As ações de combate incluíram pulverização aérea. Ao final do ano, houve novo aparecimento.

Supremo Tribunal Federal reage contra extremistas

 

Após vários protestos que defendiam a ditadura e pediam o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal — incluindo um ataque com fogos de artifício em frente ao prédio do STF, a Corte decidiu abrir inquérito para apurar os atos. Em junho, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, a líder do grupo extremista “300 do Brasil”, Sara Winter, chegou a ser presa pela Polícia Federal. Moraes também passou a conduzir uma investigação sobre disseminação de notícias falsas e ameaças contra membros do STF, que tem bolsonaristas entre os alvos. Outros dois fatos marcaram o ano do Supremo: a posse do novo presidente, Luiz Fux, e do novo membro, Kassio Nunes Marques — a primeira nomeação do governo Bolsonaro.

Eleições históricas nos EUA

Vitorioso em um pedido de impeachment no início do ano, o candidato à reeleição Donald Trump chegou ao pleito de novembro com o discurso de que não aceitaria outro resultado que não a sua vitória. Faltou combinar com os eleitores que, em presença histórica nas urnas, elegeram o democrata Joe Biden. Sem apresentar provas, Trump questionou a legalidade do processo eleitoral e, alegando fraude, apelou à Justiça pela recontagem de votos. Nenhum processo avançou. Em dezembro, Biden foi declarado oficialmente o novo presidente dos Estados Unidos.

Eleições atípicas no Brasil tiveram recorde de abstenções

Em razão da pandemia, o Congresso aprovou o adiamento das eleições municipais de 2020 para os dias 15 e 29 de novembro. Os brasileiros foram às urnas para escolher prefeitos e vereadores em um pleito marcado pela abstenção recorde, causada, sobretudo, pelo medo do eleitor em se expor. Em São Paulo, principal cidade do país, o prefeito Bruno Covas (PSDB) foi reeleito, ao derrotar o candidato do PSOL, Guilherme Boulos. O saldo destas eleições foi o fortalecimento de partidos como PP, MDB, DEM e PSDB. Pela primeira vez na história, o PT não elegeu nenhum prefeito de capital. Alguns candidatos apoiados por Bolsonaro, por sua vez, também foram derrotados. Em Porto Alegre, a renúncia de José Fortunati (PTB) às vésperas do primeiro turno mexeu no tabuleiro eleitoral e fortaleceu Sebastião Melo (MDB), que superou Manuela D’Ávila no segundo turno e elegeu-se com 54,63% dos votos válidos. Em Caxias do Sul, Adiló (PSDB) ganhou no segundo turno, assim como Jairo Jorge (PSD) em Canoas e Pozzobom (PSDB) em Santa Maria. Em Pelotas, Paula Mascarenhas (PSDB) foi reeleita. A Câmara de Vereadores de Porto Alegre fez história ao eleger a maior quantidade de mulheres e negros da história.

Apagão leva o caos para o Amapá durante 20 dias

No dia 3 de novembro uma forte tempestade atingiu o Amapá e o estado sofreu um apagão. O que era considerado inicialmente um problema pontual logo se transformou em uma crise que se arrastou por semanas, mudou a rotina dos amapaenses, provocou uma corrida a postos de combustíveis e mercados, causou prejuízos financeiros e até mesmo resultou no adiamento das eleições em Macapá. Foram quatro dias totalmente sem luz. O fornecimento voltou para parte da população só no dia 7 de novembro. Foram cerca de 20 dias enfrentando apagões e racionamento. O fornecimento só foi retomado em 100% no dia 24 de novembro.

Constituição de Pinochet é enterrada

Em plebiscito popular realizado em outubro, o Chile decidiu enterrar os últimos resquícios da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) com uma votação contundente a favor da revogação da Constituição herdada do regime. A nova Carta Magna será redigida por uma “Convenção Constitucional” a ser eleita.

Impeachment na agenda de governadores

No dia 28 de agosto, o Superior Tribunal de Justiça afastou o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), por 180 dias, por suspeita de participar do esquema de corrupção na área da Saúde. Também foram presos o ex-secretário Lucas Tristão e o presidente do PSC, partido de Witzel, Pastor Everaldo. O vice-governador, Claudio Castro, assumiu o governo do estado. Witzel também foi alvo de um processo de impeachment, ação que também teve prosseguimento em Santa Catarina, onde Carlos Moisés (PSL) chegou a ser afastado do cargo e reconduzido no final do ano, e no Amazonas, cujo alvo foi Wilson Lima (PSC).

Moro rompe com Bolsonaro

O segundo ano do governo Bolsonaro foi marcado por um “divórcio” estridente. Surpreendido pela demissão de Maurício Valeixo da direção-geral da PF, Sergio Moro deixou o Ministério da Justiça e afirmou que o presidente queria interferir politicamente na PF, o que resultou na abertura de um inquérito no STF. Um vídeo de uma reunião ministerial entrou em cena e, quando divulgado, acabou ampliando o desgaste do então mandatário da Educação. Abraham Weintraub deixou o MEC em junho, após suas falas contra o STF também desencadearem inquérito. 

O ‘fim’ da Lava Jato

Bolsonaro afirmou em outubro que “acabou” com a operação Lava Jato porque, no governo atual, não há corrupção a ser investigada. A PGR chegou a autorizar a prorrogação da força-tarefa no Paraná até janeiro de 2021, mas outro braço da operação em SP foi encerrado após disputa interna entre os procuradores. Sob pressão, Deltan Dallagnol também anunciou sua saída.

Dinheiro nas nádegas 

No mesmo dia em que o presidente Jair Bolsonaro disse que daria uma “voadora no pescoço” de quem praticasse corrupção, a Polícia Federal flagrou um dos vice-líderes do governo com R$ 33 mil escondidos entre as nádegas. Chico Rodrigues (DEM-RO) é suspeito de desviar verbas da União enviadas a Roraima para combater a pandemia e não foi preso porque tem imunidade parlamentar.

Morte no supermercado gera comoção e revolta

Em pleno Dia da Consciência Negra, o país ficou perplexo com a morte brutal de João Alberto Silveira Freitas, um homem negro de 40 anos, após ser agredido por dois seguranças do hipermercado Carrefour, em Porto Alegre. As cenas da agressão rodaram o mundo e motivaram protestos pelo país. O CEO precisou se explicar e a empresa anunciou um fundo de R$ 25 milhões para promover inclusão e combater o racismo. A Polícia Civil indiciou seis pessoas pelo crime, todos por por homicídio triplamente qualificado — motivo torpe, asfixia e recurso que impossibilitou defesa. Para a polícia, não houve crime de injúria racial, mas João Alberto foi vítima de “racismo estrutural”, citado como motivo torpe nas qualificadoras.

Terror em Criciúma

Criminosos apavoraram Criciúma na madrugada de 1º de dezembro. Cerca de 30 homens encapuzados assaltaram o cofre da tesouraria regional do Banco do Brasil e levaram R$ 80 milhões. A ação durou cerca de duas horas e resultou em incêndios, ruas bloqueadas, dinheiro espalhado pelo chão e reféns como escudos. Pelo menos 12 suspeitos foram presos nos dias seguintes. 

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895