Recortes do Correio do Povo recontam a Revolução de 1923

Recortes do Correio do Povo recontam a Revolução de 1923

Detalhes de como começou e se desenrolou a última guerra civil do Rio Grande do Sul são destacados em especial

Por
Mauren Xavier

Com base nas edições originais do Correio do Povo, recontamos os detalhes de como começou e se desenrolou a última guerra civil do Rio Grande do Sul, que, por uma disputa política, dividiu o Estado em chimangos e maragatos. 

 Fraude, posse e ruptura no Rio Grande do Sul 

• Conflitos ultrapassam a política: tensão cresce no RS

• Conflitos armados: morte e sangue no território gaúcho

• De aventura desesperada para abalo social 

• Mortes na rua dos Andradas, fuga para o Correio do Povo e uma trégua

• Após o sangue, o movimento para a construção da paz

 

Fraude, posse e ruptura no Rio Grande do Sul 

“Declaro que serei fiel cumpridor dos deveres do meu cargo, em cujo exercício não faltarei jamais às inspirações do patriotismo, da lealdade e da honra”, disse Borges de Medeiros, no dia 25 de janeiro de 1923, ao assumir o comando do Rio Grande do Sul. O representante do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) chegava ao cargo pela quinta vez, sendo a terceira consecutiva, mas em um clima longe de ser totalmente de festa. Foi uma eleição tensa contra Joaquim Francisco de Assis Brasil, da Aliança Libertadora, que, inclusive, já havia sido seu aliado. 

A disputa foi marcada por informações de fraudes, como votos de mortos ou ainda que a mesma pessoa votou em locais diferentes. Para permanecer no cargo, Borges precisava de 75% do total dos votos, o que gerou também contestação em relação ao texto da Constituição do Estado. A apuração, ao contrário dos dias atuais, era bem mais lenta e teriam sido identificadas divergências entre os números de votos e a soma total, ingrediente extra para o acirramento político. Assim, Borges e Assis Brasil adotaram estratégias diferentes para o impasse. Borges buscava garantir a vitória por meio da Comissão da Assembleia dos Representantes, atual Assembleia Legislativa, liderada pelo deputado Getúlio Vargas.

Eleição e posse de Borges de Medeiros foram acompanhadas pelo Correio do Povo

Em outra frente, Assis Brasil buscava apoio do presidente Artur Bernardes, no Rio de Janeiro, então capital do Brasil, para uma intervenção no Estado contra o borgista, que no ano anterior havia apoiado o seu adversário Nilo Peçanha na disputa presidencial. Ele rejeitou. Mesmo assim, Assis Brasil assegurou-se de marcar seu lugar na oposição. “Esperamos o facto consumado para agir. Certo o sr. Borges de Medeiros se investirá mais uma vez, do poder dictatorial que implantou no Rio Grande, mas dentro das leis vigentes e da nossa constituição procuraremos os meios necessarios a o compellir a abandonar o poder que usurpou”*, dizia ele, em São Paulo, à elite regional. 

*Todas as citações em itálico nesta matéria foram retiradas dos exemplares do Correio do Povo da época e reproduzidas conforme o português então utilizado.

Enquanto isso, em solo gaúcho, Borges de Medeiros recebeu o aval para assumir a presidência do Estado de 1923 a 1928 da comissão da Assembleia. A situação política em algumas cidades começou a ser descrita como delicada e tensa. A posse de Borges foi duramente contestada e representou uma fagulha em um barril de pólvora, dando início à Revolução de 1923, considerada a última guerra civil no Rio Grande Sul.

E assim terminava janeiro de 23. 

Os primeiros meses do governo foram marcados por conflitos em várias cidades

 

Conflitos ultrapassam a política: tensão cresce no RS

Se a posse de Borges de Medeiros representaria a pacificação na política, na prática, o que se viu foi tensionamento cada vez maior. Os primeiros meses do governo foram marcados pelos conflitos em várias cidades, que foram crescendo e ampliando o clima de intranquilidade do Interior. 

Neste período, quase diariamente, eram registrados no Correio do Povo conflitos com mortos e feridos. As informações davam conta basicamente da presença de “patrulha de revolucionários”. Os impactos local e regional eram muito acentuados por provocarem mudanças na rotina das localidades. Muitas cidades de grande porte atualmente, eram, naquele momento, pequenas comunidades centrais e uma ocupação dispersa nas áreas de interior em fazendas. Assim, os combates, mesmo que pequenos e com a duração de poucos dias, acabaram por gerar uma revolução, com o reforço do policiamento em torno das cidades e, inclusive, a proibição da saída do centro para o interior dos municípios sem a devida autorização. Dispersados os grupos revolucionários, as comunidades tentavam retornar à normalidade. 

As mobilizações dos revolucionários, naquele momento, eram estimuladas por Assis Brasil, que mesmo fora do território gaúcho reforçava o discurso de ilegalidade da vitória de Borges e dos seus. “Depois da acção eleitoral, em que, apezar de todos os abusos da dictadura, tinhamos obtido supreendente triumpho, o reconhecimento do candidato inelegível e não eleito viria evidenciar a illegalidade do governo do Rio Grande e offerecer à opposição inúmeras oportunidades para impugnar ilegalmente os actos do poder intruso”, afirmou Assis Brasil, no início de fevereiro, em um evento em São Paulo. Em seguida, afirmou que Borges de Medeiros não havia sido eleito e, logo, todos os seus atos eram nulos. 

Ao mesmo tempo, a atenção da imprensa nacional, concentrada em São Paulo e Rio de Janeiro, crescia. O interesse também estava em certa forma provocado pela própria presença de Assis Brasil nestes estados e porque o governo do presidente Artur Bernardes vinha tentando apaziguar conflitos regionais. Tanto que não eram poucos os registros que citavam o pedido ou a necessidade de intervenção de Bernardes, comparando a situação gaúcha com a vivenciada até então pelo Rio de Janeiro, com o argumento de “restabelecer ali a ordem publica alterada”. 

Apesar desse movimento, Bernardes irá, em documento sucinto, reconhecer a posse de Borges de Medeiros no RS. A reprodução do telegrama ganhou força, pelo menos nos discursos, de que havia a sinalização política pela pacificação no Estado. Mas não estava correto.

Em meados de 1923, houve um aumento do clima bélico e dos confrontos no Rio Grande do Sul

 

Conflitos armados: morte e sangue no território gaúcho

Mortes e pânico. Essas palavras ajudam a descrever os meses que se seguiram, com o aumento do clima bélico no Rio Grande do Sul. Nas cidades, os levantes cresciam à medida que uma pacificação política não se confirmava. Como resposta, os confrontos aumentavam. De um lado estavam as forças do governo, representadas pela Brigada Militar, como maneira de fazer frente à atuação dos revolucionários. Porém, algumas características eram marcantes e reproduzidas pelas páginas do jornal. As forças do governo estavam mais centralizadas na região de Porto Alegre e em outros dois regimentos da BM, em Santa Maria e de Santana do Livramento. Logo, precisavam se deslocar para as cidades e localidades onde os conflitos ocorriam. Para dar conta dos conflitos cada vez mais intensos, a estratégia foi a criação dos conhecidos “corpos provisórios”, que eram estruturas de apoio militar. A intenção era clara, fazer frente aos revoltosos e terminar com o movimento. 

Com reforços, as forças de governo tentavam de diferentes formas demonstrar maior poderio, como noticiada no final de agosto uma situação ocorrida em Pelotas, quando o corpo provisório do comando do major Aldrovando desfilou pela cidade conduzindo prisioneiros. Da mesma maneira, os feridos e mortos também eram registrados, como a morte de um sargento das forças do governo em função dos ferimentos vindos de um combate em Canguçu. 

Já os revolucionários eram organizados por meio das chamadas colunas da Aliança Libertadora. A ação dos revolucionários estava dividida pela atuação de comandantes, em cada região do Estado, como os casos dos mais conhecidos Honório Lemes da Silva, nas regiões da Campanha e Missões, e José Antonio Neto, o Zeca Neto, na região Sul. 

Porém, esse cenário sofrerá mudanças, especialmente com o movimento de desertores da força do governo, ou, pelo menos, o indicativo de tal, o que reforçava ainda mais a reação contra Borges. 

Nas cidades, os levantes cresciam à medida que uma pacificação política não se confirmava

Espalhada pelo Estado, a revolução tomou conta e mudou a rotina. Um exemplo disso pode ser visto no trecho de uma nota na edição de 21 de agosto de 1923, na qual diz que, em Caxias do Sul, no dia anterior, um pequeno contingente do corpo provisório (da força do governo) ficou de prontidão diante das informações de que a cidade seria assaltada por forças revolucionárias. Inclusive, diante de tal notícia, famílias foram pernoitar na Intendência Municipal. O ataque não ocorreu. 

No campo político, após apelos de várias lideranças políticas sobre o tensionamento cada vez maior dos conflitos no Rio Grande do Sul, em maio de 1923, se deu um movimento na tentativa de pacificação por meio da presença do ministro do Tribunal de Contas, Tavares de Lyra. “Installado na Capital, deu audiencia a borgistas, a federalistas e a dissidentes, de um e do outro lado, que os ha em quantidade, e até aos que se dizem neutros em campanha", registra o Correio do Povo de 17 de maio, sobre a visita de Lyra ao Estado. 

O Correio do Povo também trazia em suas páginas as avaliações do centro do país sobre o conflito gaúcho

 

De aventura desesperada para abalo social 

Com a manutenção dos combates, a imprensa nacional amplia o enfoque para o conflito e a ausência do sucesso das ações pela pacificação. Reproduz, por exemplo, no início de setembro, notícias da imprensa carioca que dão conta dos conflitos e nas quais Borges de Medeiros é citado como “unico responsavel pelo que ocorre nas campinas gauchas”, uma vez que ele se recusou a aceitar todas as propostas de acordo a favor de manter-se no poder. E descreve da seguinte forma: “A revolução obedece pois a inspirações imperiosas. Não se disputa ali a posse do poder como se tem alardeado injustamente. Os revolucionários exigem simplesmente que lhes sejam restituídos a liberdade e o direito de fazer valer seu voto por meio de leis liberaes”.

De ambos os lados, o reforço dos efetivos cresce, porém, não de forma proporcional. Os revolucionários conquistam simpatia e adeptos. Ao mesmo tempo, o governo ampliou as forças governistas com mais pessoal e armamento, destaque para a utilização de metralhadoras. Novas brigadas são formadas e contam com a atuação de nomes conhecidos, como o coronel José Antonio Flores da Cunha, que teve atuação na região da fronteira. 

Para se ter uma dimensão, em uma mesma edição, recortes traziam notícia vinda de Cachoeira que tratava de um combate violento no município de São Sepé ou ainda de outra vinda de Passo Fundo que cita a aproximação de tropas revolucionárias. Em seguida, outro registro, vindo de Santa Maria, indicava que um destacamento, formado por 60 homens do corpo provisório, partiria para Restinga Seca para auxiliar na fronteira com São Sepé. 

As articulações pela paz também recebiam destaque / Reprodução

A manutenção do conflito também exigiu maior mobilização dos políticos em busca de solução, como registrado pelo Correio do Povo em reportagem de capa no dia 7 de setembro. “A bancada do Rio Grande do Sul reuniu-se hontem. Até ahi nada de notavel. Desde que se intensificou o movimento revolucionario no Estado as reuniões da sua bancada tornaram-se semanaes e raras vezes não se effecutam durante a semana outras reuniões extraordinárias”. Em outro trecho, cita-se o otimismo com a atuação das forças de governo para vencer “pelo cansaço” os grupos revolucionários. 

No final de setembro, cresceu o movimento no Senado a favor de intervenção no RS na tentativa de selar a paz. A proposta era, após diversas tentativas de acordo sem sucesso, chegar, após oito meses de luta, a uma solução que só poderia vir de uma “acção tutelar do governo da União”. Esse seria, nas palavras do senador Soares dos Santos, um “remédio extremo” e que só deveria ser empregado em caso de absoluta necessidade. 

Sem solução, os estragos provocados pela revolução que completava oito meses foram descritos em amplo texto por Leonardo Truda, redator chefe do Correio da Manhã, do RJ. Segundo ele, o que parecia no começo “uma aventura desesperada de um punhado de rebelados da Serra, condenada ao irremediável fracasso” havia crescido e uma prova eram as notícias dos combates recentes, marcadas por prolongadas e sangrentas batalhas. E acrescenta o fato de essas ações estarem abalando os mais profundos alicerces da estrutura política, a prosperidade e a vida social do RS, sendo assim impossível ignorar a importância da revolução. 

E quando o sangue ainda escorria nas terras gaúchas, o ministro da guerra, general Fernando Setembrino de Carvalho, por ordem do presidente da República, como um “embaixador especial”, chegou em meados de outubro ao RS com a missão de encerrar o conflito. Ele trazia na bagagem a experiência de quem atuou para resolver conflitos do Ceará e do Contestado. Assim, a ideia era fazer uma “intervenção amistosa e conciliando” Borges de Medeiros com os revolucionários, como foi descrito pela imprensa nacional. Para tal, Setembrino chegou com um pré-acordo, que previa mudanças na Constituição Estadual, especialmente a parte referente à reeleição. Após percorrer cidades e conversar com lideranças de ambos os lados, tanto comandantes dos revolucionários como chefes regionais, o vento parecia mudar o sentido. 

Ministro da Guerra, Fernando Setembrino de Carvalho chega a Porto Alegre na expectativa de paz, mas terminou em conflito

 

Mortes na rua dos Andradas, fuga para o Correio do Povo e uma trégua

No momento em que a paz começou a ser vislumbrada ao final do túnel, uma tragédia ocorreu. Após percorrer por dias diversas localidades do Rio Grande do Sul, onde os conflitos ainda eram fortes, o ministro da Guerra, general Fernando Setembrino de Carvalho, chegou ao centro de Porto Alegre naquele primeiro dia de novembro de 1923. A intenção era repetir o que vinha fazendo, conversar com as lideranças e encaminhar o acordo. Porém, ao contrário da paz, a sua presença foi acompanhada por mais sangue, em mais um episódio trágico da guerra gaúcha.

“A esperança de sairmos em breve deste pesadelo apavorante que é a luta de irmãos contra irmãos, essa esperança de dias melhores, punha-lhe na physionomia traços de alegria”, começou a reportagem publicada no dia seguinte no Correio do Povo. E realmente o clima era de festa. Senhoras nas ruas e famílias nas sacadas e janelas dos prédios próximos. Porém, de festa o episódio acabou por se tornar um dia de luto. “Um dia assignalado para sempre na historia da cidade, na recordação do nosso povo. Jamais, até o onde alcança a nossa memoria, assistira Porto Alegre scenas tão dolorosas, tão brutais”, segue o texto.

Foram minutos, que segundo a reportagem, pareceram séculos. “Ao terror da morte que as armas de fogo entraram a vomitar, de subito, de sorpreza”. Assim foi definido o confronto entre as forças do governo e a população que ocupava a praça da Alfândega e a rua dos Andradas para ouvir o ministro da guerra falar sobre paz. “Eu não vim aqui impôr, não vim obter a paz por força no terreno material, no terreno das armas. Eu vim rescrutar a alma do povo riograndense, eu vim falar ao coração dos gaúchos! Eu venho em nome do Brasil, em nome dos seus interesses mais sagrados, pedir, implorar, se necessario fôr, para que cesse esse jorrar do sangue deste povo nobre”, disse Setembrino da sacada do Grande Hotel, onde estava hospedado, localizado entre a rua dos Andradas e a rua Caldas Júnior. 

Foi exatamente após discursar para uma multidão, que teve início um confronto generalizado que terminou com mortos e feridos. A confusão fez com que muitos buscassem abrigo no prédio do Correio do Povo

Setembrino foi designado pelo presidente da República para tentar pacificar o Rio Grande do Sul

Com esse início do mês mais tumultuado, a presença e o trabalho de articulação de Setembrino de Carvalho resultará, em seguida, em uma trégua. Chamada de armistício. Assim, definiu-se pela suspensão das hostilidades, o que gerou forte repercussão na imprensa nacional e o tornou alvo de inúmeras felicitações. A notícia também foi celebrada nas cidades do Interior, como no caso de Taquari, onde a “população do município está satisfeita, esperando a pacificação próxima”. 

O acordo entrou inclusive em vigor após encontro entre o ministro e o presidente do Estado, Borges de Medeiros. Além disso, em outra frente, o ministro convidou Assis Brasil, que estava no Rio de Janeiro, a retornar ao Estado para um encontro no município de Pelotas, o que veio a ocorrer dias depois, em 15 de novembro, mas em Bagé. A presença deles inclusive foi acompanhada por uma multidão que ficou junto ao hotel onde estava presente o ministro, em função da “anciosa e geral expectativa pelos resultados das conferências entre o ministro da guerra e os chefes revolucionários”. Porém, os detalhes eram mantidos em sigilo. Dias após, informações são divulgadas, como os apontamentos feitos por Assis Brasil para justificar a revolução, como o governo ditatorial de Borges e a ilegalidade da última eleição. Nas condições, ele apresenta inclusive a proposta de uma licença temporária de Borges e passar o comando assim para o vice, que viria a ser nomeado. Assim, as articulações deixaram de ser, não na totalidade, bélicas e sangrentas, mas políticas.

A paz foi selada com a assinatura do Tratado de Pedras Altas, em 14 de dezembro de 1923

 

Após o sangue, o movimento para a construção da paz

O processo de construção da pacificação do conflito no RS foi acompanhado com expectativa de todos os lados e pela sociedade. “A população acompanha com anciedade as noticias referentes às demarches para a pacificação do Estado”, trazia trecho de um telegrama vindo de Encruzilhada do Sul no início de dezembro e publicada no Correio do Povo. 

Nos primeiros dias do mês, as informações incluíam muitos boatos e falas descontextualizadas de integrantes das forças militares, gerando desencontros. Assim, alguns citavam incertezas sobre o aguardado acordo, uma vez que isso vinculava diretamente à renúncia de Borges de Medeiros, que não se mostrava disposto a aceitar. Além disso, após meses de guerra, os revolucionários também não esperavam recuar e, segundo escrito, “recusam a esmola insultuosa de postos offerecidos a sua abnegação e insistem no pleito capital”. Assim, apesar da trégua, os conflitos permaneciam, com correrias e tiroteios, deixando feridos. 

Independente da posição, os olhos estavam voltados para Bagé, de onde o ministro da guerra, Fernando Setembrino de Carvalho, fazia as articulações. 

Foi na noite de 14 de dezembro de 1923, com a assinatura do tratado de Pedras Altas, residência de Assis Brasil, no então município de Pinheiro Machado, região sul do Estado, que ambos os lados, borgistas e assisistas, cederam e chegaram a um acerto. Ele foi sacramentado no dia seguinte por Borges de Medeiros, no Palácio do Governo, em Porto Alegre. Nas ruas, a assinatura era celebrada por uma multidão em frente ao prédio do governo. 

O tratado era formado por dez itens que foram discutidos por meio telegramas. Na prática, o ponto alto foi uma mudança na Constituição Estadual que previa o fim da reeleição. Assim, Borges poderia concluir o seu mandato, que seguiria até 1928, e depois não poderia mais concorrer. Desfecho esse que veio a ser considerado uma espécie de maldição na política gaúcha, que veio a ser quebrada apenas em novembro de 2022 (exatamente um século depois da eleição que iniciou a revolução), quando Eduardo Leite (PSDB) conquistou a reeleição. 

A paz foi comemorada nos dias seguinte e obteve grande destaque

A notícia do acordo percorreu, como fogo, todos os cantos do Estado e ultrapassou as fronteiras, celebrando o de uma luta que “há mais de dez meses, vinha ensanguentado o nosso Estado”, como registrou o Correio do Povo, de 16 de dezembro. A festa foi tamanha que nas repartições públicas estaduais manteve-se o ponto facultativo e grande parte do comércio permaneceu fechado. 

Os dois personagens, adversários, celebraram com seus apoiadores a conquista da paz. Mas foi na figura de Setembrino que concentraram-se as glórias pela habilidade em conseguir dar fim ao sangrento conflito. Na sua chegada a Porto Alegre, dias após o tratado assinado, foi recebido com festa, para coroar seu trabalho em solo gaúcho e com a peregrinação de políticos ao Grande Hotel, no centro da Capital, onde ele estava hospedado a fim de agradecê-lo. Ao celebrar, proclamou: “Graças a esse acordo honroso inaugura-se uma nova era de paz e concórdia da família riograndense”. E assim a guerra evaporou-se do RS, mas não sem deixar marcas e consequências presentes até os dias de hoje. 

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