A face paisagística dos armazéns da Ceasa

A face paisagística dos armazéns da Ceasa

Central de Flores abriga produtores de plantas e lojistas que oferecem variedade de espécies vegetais

Por
itamar pelizzaro

Nas Centrais de Abastecimento do Rio Grande do Sul (Ceasa), no bairro Anchieta, zona norte de Porto Alegre, o cotidiano tem ritmo frenético. Caminhões e carrinheiros serpenteiam pelas ruas para entregar hortigranjeiros, enquanto o clima de feira, ruidoso e vibrante, reúne centenas de pessoas no pavilhão dos produtores. Em meio à correria, o complexo da Ceasa tem um pequeno oásis multicolorido pelas centenas de espécies de plantas e flores que atraem profissionais e diletantes de jardinagem e paisagismo. A Central de Flores concentra 30 permissionários, um viveiro de mudas e o sombrite, espaço para plantas protegido por uma tela que regula a entrada de luz solar. Neste canto da Ceasa, identificado como A-8 (Rua 8 com Avenida A), rosas, orquídeas, violetas, tulipas, suculentas, folhagens e arbustos propiciam negócios e um convite à contemplação.

O espaço é procurado por quem quer massagear a alma com os frutos de uma natureza diversa e aromática. No aniversário de Vilma Frizzo, em 28 de novembro, entre os presentes que recebeu das filhas, Magali e Maira, um deles foi um passeio para compras na Central de Flores da Ceasa. Maira é profissional de eventos e semanalmente visita o local para comprar as espécies vegetais que compõem os cenários. E a homenagem à mãe não poderia prescindir de plantas e flores. “Aqui temos qualidade, variedade e preço”, justificou. Em meio aos canteiros e bancas, Vilma abraçou exemplares de zamioculcas, uma planta nativa da Tanzânia que se adapta bem a ambientes internos.

Vilma, ao centro, que fez aniversário em novembro, recebeu plantas compradas pelas filhas direto nos armazéns da Ceasa | Foto: Itamar Pellizaro / Especial

No Sombrite, os diferentes tons de verde formam uma pequena floresta, com diversidade de vegetais e preços. Entre as espécies, a exótica Dracena draco (Dracaena Marginata) é nativa dos arquipélagos das Canárias, da Madeira e de Cabo Verde. Ostenta folhas verde-prateadas e diversos brotos pelo tronco. Em vasos ou jardins, isolada ou em grupos, a planta tem cerca de 1,20 metro de altura e é comercializada por R$ 2,5 mil. Menor e mais em conta, a Filodendro Pink Princess (Philodendron) tem folhagem que adquire tonalidades róseas de acordo com as condições de luminosidade. Originária das florestas tropicais das Américas Central e do Sul, a folhagem pode ser adquirida no vaso por R$ 120.

O produtor rural Germano Stefani Bettio está há décadas na Ceasa. Começou há 30 anos, com a venda de pêssegos que cultivava em sua propriedade de 8,5 hectares na Vila Nova, zona sul de Porto Alegre, onde se orgulha de preservar nascentes e mata nativa. Lá, tem se angustiado com a pressão da urbe que avança, às vezes sem infraestrutura e planejamento. Atualmente, dedica-se ao cultivo de plantas ornamentais e está tentando vender a maior parte de suas terras. Na produção, tem o auxílio da irmã, Elaine, para abastecer grandes construtoras e paisagistas.
 
Neste ano, as vendas não andam bem, despencando em torno de 35%. “Antes fornecíamos para plantões de venda de imóveis, mas hoje todos estão reaproveitando”, diz Bettio, que passa a semana na Ceasa e nos fins de semana cuida da lavoura. “A gente faz isso porque gosta.” Na comercialização, as espécies podocarpo e moreia se destacam, mas a Dracena marginata, também conhecida como tricolor, também tem boa procura.
 
Outro produtor que comercializa na Central de Flores é José Pretto. Ele dispõe de mais de 20 variedades de arbustos, produzidos na Zona Sul da Capital, em um pedaço de terra de 1,5 hectare no bairro Restinga e em outra área na Estrada das Quirinas, na Lomba do Pinheiro. Lá, Pretto tem ajuda do genro, Guilherme, e de dois funcionários. Sua clientela é formada por paisagistas, jardineiros e arquitetos.

Pretto diz que as vendas foram muito boas durante a pandemia e agora estão deprimidas. “O pessoal está comprando só alimentação, e temos uma queda de 60% este ano”, calcula. Para as festas de fim de ano, ele aposta na venda do buxo (Buxus sempervirens), um arbusto que pode ser decorado como árvore de Natal.
 
O setor florista é motivo de orgulho para o presidente da Ceasa, Carlos Siegle de Souza. “Além do potencial econômico, que vem crescendo ano a ano, é um setor agradável onde vale a pena a visita pela beleza do lugar e dos produtos que estão expostos ali”, afirma Souza.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895