Gato Paulinho é xodó de delegacia de Bagé

Gato Paulinho é xodó de delegacia de Bagé

Disposto a atender a todas as pessoas de forma igualitária, sejam eles detidos, testemunhas ou colegas, o bichano leva tranquilidade a um lugar onde normalmente ocorrem situações carregadas de tensão

Por
Angélica Silveira

As pessoas que vão até à 1ª Delegacia de Polícia, em Bagé, na região da Campanha, encontram um “servidor” para lá de especial no local, disposto a atender a todos de forma igualitária, sejam eles detidos, testemunhas ou colegas. O Paulinho leva tranquilidade para um lugar onde normalmente são tratadas situações problemáticas. O gato, sem raça definida, levemente estrábico e extremamente amoroso, mora há aproximadamente seis meses no local. Segundo o delegado Guilherme Fagundes Nunes, o bichano não faz distinção entre as pessoas. “Até os presos, quando vêm para o interrogatório, ele trata bem, indo para o colo. Do jeito que é, não separa testemunha, policial, vítima, vai com todo mundo”, comenta. O felino, que tem em torno de três anos, apareceu em um condomínio da cidade. “Era um gato sem dono, mas as pessoas do local começaram a se incomodar com o miado. Uma policial que sentiu que poderia ocorrer algo de ruim levou o gato para a delegacia e desde então ele é nosso”, relatou. Agora, o peludo não tem somente um dono, mas sim dez tutores. “Ele faz parte da equipe”, confirma. 

A 1ª DP é considerada amiga dos animais, selo que ganhou em 2021. “Antes, em 2017 foi instalado aqui o primeiro cartório de crimes ambientais da Polícia Civil do Estado”, recorda Nunes. O delegado lembra que o felino foi conquistando todo mundo, participando inclusive das reuniões de trabalho, ficando onde consegue, no escaninho, nas mesas, próximo aos computadores e na cadeira do delegado, que utiliza como uma boa cama para uma soneca (como se ele fosse o titular da DP). “Todos gostaram da ideia de ter um animal na delegacia e ficam se dividindo, um comprou roupa, outro alimentação. Hoje o Paulinho tem seu próprio banheiro”, confirma. Isto ocorreu, após nos primeiros dias o gato fazer xixi na mochila de um colega da delegacia. “Eu disse que tinha chovido em cima da mochila, mas ele disse que não podia, pois não tinha chovido e também sentiu o cheiro do xixi do gato”, lembra. 

O delegado diz que isto ocorreu porque Paulinho não estava acostumado com o ambiente da delegacia. “Ele poderia ser preso, mas conversamos e ficou sem punição pelo episódio. Foi absolvido e nunca mais tivemos uma situação dessa natureza”, brinca o delegado. 

O gato também se relaciona com outros animais, como o galo Maurício, que seria morto e está de forma provisória na delegacia. Ele interage muito com Paulinho. “O galo está de passagem, se recuperando de maus-tratos e eles são amigos”, afirma o delegado. 

O felino adora dormir na cadeira do delegado e também andar pelas estruturas aéreas usadas para colocar a fiação entre outros locais. Um dia se trancou na sala de um comissário que tinha ido embora. “Teve uma vez que um policial precisou pular uma divisória para dentro de um espaço de um colega, pois o Paulinho tinha pulado para lá, não saia e tínhamos que fechar a delegacia”, relata a inspetora de polícia Patrícia Coradini. Como a delegacia não funciona em regime de plantão, ela fica fechada nos finais de semana, mas sempre tem algum policial que vai ao local nestes dias para fazer carinho e dar comida para o gato. 

Um comissário comprou pela Internet uma roupa de policial para o felino com direito a distintivo. Policiais de outras delegacias acabam indo até a 1ª DP por causa do gato. No mesmo endereço, mas no segundo andar, está instalada a Delegacia da Mulher e o comissário de polícia Henrique Gonçalves, intitulado padrinho do Paulinho, sempre desce até a 1ª DP, onde são registrados crimes gerais e ambientais, para visitá-lo. “Quando ele demora, o gato vai para a janela miar, chamando”, conta o delegado. Ele confirma que Gonçalves então leva o gato para a outra DP para passear. “Ficamos sabendo que ele liga o computador e o Paulinho fica assistindo vídeos com ratinhos passando. O gato acabou gerando interação entre os órgãos policiais. As vezes estamos tensos por alguma situação, mas ele sobe na mesa e a gente por alguns instantes esquece dos problemas, dando um carinho ou brincando com o gato”, admite o delegado. 

A delegacia possui uma parceria com o Núcleo de Proteção aos Animais, que presta atendimento gratuito ao Paulinho. A história do gato policial mais famoso da região da Campanha ganhou o mundo pela Internet, na página do Instagram @delegatopaulinho. “Nossa ideia é utilizar a figura dele para campanhas de doação de alimentos e rações para os animais. Quem quiser doar pode vir na DP, na rua Sete de Setembro, 634, que é repassado.” O gato tem uma coleira com o seu nome e o número da delegacia. Em uma oportunidade, muito curioso, foi até uma loja localizada na mesma quadra e os funcionários ligaram para que Paulinho fosse resgatado. Sobre o nome Patrícia, diz que foi quase uma inspiração. “Achamos que ele tem cara de Paulinho”, relata. Ela, que também é presidente da ONG Núcleo de Proteção aos Animais de Bagé, garante que o dia que ela ou sua colega Eliane Hidalgo saírem da delegacia, vão levar Paulinho junto. “Mas enquanto isto, ele fica lá divertindo e melhorando o ambiente”, finaliza.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895