Educação Museal é ensino além da escola

Educação Museal é ensino além da escola

Há quase 100 anos, museu já passava a ser considerado um espaço educativo.

Museus escolares foram utilizados no Ensino durante o século XIX e nas primeiras décadas do século

Por
Ana Julia Zanotto

Muito mais que um espaço de visitação, o museu é uma sala de aula. Não é de hoje, que professores fazem uso de acervos de arte, história e ciência para educar. No Brasil, as ações educativas realizadas em museus remontam ao ano de 1927, quando foi criado o então Serviço de Assistência ao Ensino do Museu Nacional. E a missão desta iniciativa era aprimorar o aprendizado escolar através da Educação Museal.

Em 2010, o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) promoveu o 1º Encontro de Educadores do Ibram, do qual resultou um documento que oferecia recursos para o desenvolvimento de uma Política Nacional de Educação Museal (Pnem). Trata-se de proposta que fortalece o campo profissional e possibilita práticas educacionais nos museus. Na Pnem, estão reunidas metas e diretrizes, que foram definidas de maneira colaborativa em consultas públicas e encontros regionais. Mais informes sobre esta iniciativa governamental podem ser conferidos no Caderno da Pnem, acesso em tinyurl.com/449sjrmw.

Educação Museal

No Brasil, a Educação Museal virou uma política relativamente recente. Mas se consolida, cada vez mais, ao redor do mundo. De acordo com os professores Sarah Lloyd e Christopher Jarvis, do Museu de História Natural de Oxford (Reino Unido), as diferentes formas de se abordar o currículo escolar podem facilitar o processo de aprendizagem dos estudantes. Livros, áudios, filmes, músicas, saídas de campo, tudo isso pode complementar e fortalecer o que é aprendido em sala de aula. “Habilidades científicas não são somente uma disciplina, mas uma forma de pensar, pois elas ensinam os estudantes a serem confiantes sobre o mundo e terem acesso e melhor entendimento sobre ele”, reforça Sarah.

O Museu de Oxford, além de reunir um rico acervo de 4,5 milhões de espécimes, também incentiva a pesquisa e estimula o ensino da ciência na sociedade. Segundo Christopher, para desenvolver o senso crítico e científico dos estudantes, é preciso que eles sejam instigados a questionar a partir de sua própria curiosidade e do seu interesse.

E, nos museus, isso acaba acontecendo naturalmente.

Para a professora de Museologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Ana Carolina Gelmini de Faria, a educação ultrapassa os setores de ensino, e deve ser a principal característica de qualquer museu. “Criar um museu é pensar em uma construção educativa”, destaca.

No próprio curso de Museologia, a educação já é pensada como algo intrínseco ao ofício. “A disciplina ‘Educação em Museus’, que integra o Curso de Museologia da Ufrgs, se propõe a estudar a relação entre Museologia e Educação, em uma perspectiva diacrônica e sincrônica, propondo experiências educativas com museus parceiros”, comenta a professora. 

Já Zita Possamai, também professora de Museologia da Ufrgs, acrescenta que a proposta da disciplina é, justamente, educar – para além dos alunos da graduação. “Já trabalhamos com diversos museus de Porto Alegre e estudantes criaram as mais variadas atividades educativas, com múltiplas audiências, a exemplo de ações com crianças, pais acompanhados com seus filhos, estudantes secundaristas, grupos de oração, professores e professoras ou, ainda, servidores terceirizados do museu.” Entre outros projetos e disciplinas, a Educação Museal destaca-se como agente formador de indivíduos críticos e conscientes.

Museus Escolares

No Museu da Ufrgs, localizado no Campus Centro da Universidade (av. Osvaldo Aranha, 277), em Porto Alegre, foi lançada, neste mês (em 7/11), a exposição “Imagens para Educar”, que reúne parte de uma coleção de 278 quadros e caixas tridimensionais do Colégio Anchieta, em Porto Alegre. 

O acervo fazia parte, originariamente, de museus escolares produzidos na Europa e no Brasil. E esta exposição é inspirada no trabalho de mestrado de Alana Cioato, com curadoria realizada pela equipe do Museu da Ufrgs, em conjunto com Gabriela Leindecker.

Os museus escolares foram coleções de imagens e objetos que se constituíam como materiais educacionais. No final do século XIX e no início do XX, os quadros e demais objetos eram produzidos e utilizados como utensílios da modernização pedagógica. E serviam como material didático, que era exposto nas salas de aula. Assim, os alunos eram protagonistas no aprendizado, sendo estimulados por meio de sentidos (visão, olfato, tato e audição) e saindo das formas tradicionais de aprendizado. 

A exposição resulta da parceria entre o Museu da Ufrgs, o Museu Anchieta de Ciências Naturais, na Capital, e o Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio da Ufrgs. A visitação fica aberta até 29/3/2024, de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h. Agendamento e mais informações em ufrgs.br/museu.

Porto Alegre dos Museus

Na Capital, a Rede Educativa de Museus e Instituições Culturais de Porto Alegre (Remic-POA) é uma das iniciativas pensadas para fortalecer instituições, promover conscientização sobre educação patrimonial e permitir o acesso de todos os públicos à cultura. 

A criadora da iniciativa, Julia Burger, conta que a ação estimula a formação cultural dos cidadãos, fomenta o diálogo e a reflexão e fortalece a identidade da cidade. “Essa experiência é crucial para tornar a educação e a cultura acessíveis a todas as pessoas, cultivando uma sociedade mais informada, consciente e participativa”, argumenta.

Em 2023, a Rede desenvolveu três programas. Em fevereiro, foi lançado o “Férias no Museu”, envolvendo 12 instituições em atividades integradas para jovens de 4 a 18 anos. A 2º edição, em julho, teve 19 instituições, incluindo aquelas em áreas periféricas parcerias com escolas privadas. Em março, foi inaugurado o “Inclusão Pela Cultura”, integrando educadores sociais e museais, para alcançar pessoas em situação de rua e pessoas com deficiência intelectual. E, ainda em desenvolvimento, o “Professor Parceiro” visa focar na criação de materiais e ações educativas direcionadas a professores da rede pública de ensino. “Acreditamos no potencial do professor para a parceria museu/escola, porque ele consegue, com projetos, fazer com que o museu seja uma extensão da sala de aula e acolha saberes que, muitas vezes, não cabem na escola”, frisa Julia. 

No Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), em Porto Alegre, por exemplo, as atividades educativas são constantes. De terças a sextas-feiras, recebe grupos escolares para visitas mediadas. Dados e agendamentos em margs.rs.gov.br/faq. E há também o programa “Mediação em Libras”, que apoia a visita de maneira inclusiva a pessoas com deficiência auditiva. 

Desde a sua criação, o Margs desenvolve projetos para aproximar as escolas com o Museu de Arte. O Núcleo Educativo e de Programa Público do Museu, responsável pelas visitas mediadas, realiza atividades que buscam despertar a construção colaborativa dos saberes através da integração entre o acervo, as exposições e o público.

A Rede Educativa de Museus e Instituições Culturais de Porto Alegre agregam entidades em projetos colaborativos e buscam ampliar o acesso a espaços culturais através de uma atuação estratégica entre diversos museus e centros de cultura da Capital.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895