Casos de esporotricose geram pesquisa no Rio Grande do Sul

Casos de esporotricose geram pesquisa no Rio Grande do Sul

Zoonose, que tem como principais transmissores os felinos, motiva estudo do Centro Estadual Desidério Finamor e da Universidade Federal de Pelotas sobre a possibilidade da doença avançar a espécies do meio rural

Por
Nereida vergara

Um fungo que infecta especialmente os gatos soltos na natureza e que causa sérios problemas de saúde a estes animais e aos seres humanos que com eles tiverem contato (seja direto ou pelo ambiente onde os felinos passam), o Sporothrix spp, agente da esporotricose, é agora objeto de pesquisa do Centro Estadual de Diagnóstico e Pesquisa em Saúde Animal Desidério Finamor (IPVDF), da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), em parceria com a Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). O pesquisador do IPVDF Flávio Silveira, coordenador do projeto, explica que os gatos mais sujeitos ao fungo são machos, não castrados e abandonados, que transmitem a doença uns para os outros por meio de ferimentos e arranhaduras provocadas por brigas. O fungo pode estar no solo ou em material orgânico, mas o principal vetor é o felino, podendo a doença acometer cães e roedores.

“No momento estamos realmente concentrando a atenção nos gatos infectados. É uma doença que se fala desde a década de 90, mas nos últimos tempos ela vem avançando com grande número de casos nos municípios de Rio Grande e Pelotas, que também têm grandes áreas rurais”, diz Silveira. De acordo com o pesquisador, existe não apenas falta de dados no Estado sobre a contaminação pelo fungo, mas também dificuldade de testagem. “Há apenas um teste sorológico desenvolvido para confirmação da esporotricose”, comenta. 

Flávio Silveira revela que já foram registrados casos na comunidade científica que apontam a infecção por Sporothrix spp em cavalos cujas baias foram visitadas por felinos. “Os gatos costumam não se intimidar pelo tamanho do inimigo e atacam, e o ferimento causa a doença. “Por isso, também pretendemos investigar mais o papel dos equinos nesta cadeia epidemiológica”, ressalta. 

O IPVDF se aliou ao município de Guaíba para caracterizar o perfil dos animais acometidos pela enfermidade, os bairros mais atingidos e a prevalência atual da doença. “É alarmante a quantidade de casos no Estado: na Região Metropolitana, os casos humanos aumentaram em 500% nos últimos três anos”, explica Flávio. 

Em publicação recente do Informativo Técnico do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA/Seapi), o grupo de pesquisadores do IPVDF e da Universidade Federal de Pelotas analisou a relação da esporotricose com a agropecuária e indicou que, embora não haja dados consolidados sobre a doença no setor, certos aspectos da atividade a tornam vulnerável ao fungo, como o contato com o solo e a presença de gatos soltos em propriedades rurais.

“É muito importante frisar que não é todo o gato que vai passar essa doença e ressaltar a necessidade de posse responsável desses animais por parte das pessoas”, pontua. O pesquisador também ressalta que a esporotricose tem tratamento, com medicamentos como o itraconazol, mas que este é longo (pode durar meses) e difícil de ser feito se o animal não estiver confinado. 

No próximo dia 17, segundo Flávio Silveira, haverá um treinamento teórico e prático com veterinários de Guaíba para prepará-los para o atendimento clínico e remessa de material para diagnóstico. Hoje, o IPVDF realiza exames laboratoriais para confirmação do agente. Basta entrar em contato com o setor de protocolo do centro para receber orientações sobre a coleta de amostras e a remessa ao laboratório.

A doença em humanos

O que é: A esporotricose humana é uma micose subcutânea que surge quando o fungo do gênero Sporothrix entra no organismo por meio de uma ferida na pele. A infecção ocorre, principalmente, pelo contato do fungo com a pele ou mucosa, por meio de trauma decorrente de acidentes com espinhos, palha ou lascas de madeira; contato com vegetais em decomposição; arranhadura ou mordedura de animais doentes, sendo o gato o mais comum.

Sintomas: Os sintomas da esporotricose aparecem após a contaminação do fungo na pele. O desenvolvimento da lesão inicial é bem similar a uma picada de inseto, podendo evoluir para cura espontânea. Em casos mais graves, por exemplo, quando o fungo afeta os pulmões, podem surgir tosse, falta de ar, dor ao respirar e febre. Na forma pulmonar, os sintomas se assemelham aos da tuberculose.

Tratamento: O tratamento deve ser realizado após a avaliação clínica, com orientação e acompanhamento médico. A duração do tratamento pode variar de três a seis meses, ou mesmo um ano, até a cura do indivíduo. Os antifúngicos utilizados para o tratamento da esporotricose humana são o itraconazol, o iodeto de potássio, a terbinafina e o complexo lipídico de anfotericina B, para as formas graves e disseminadas. O Sistema Único de Saúde, por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde, oferece gratuitamente o itraconazol e o complexo lipídico de anfotericina B para o tratamento da esporotricose humana.

Fonte: Ministério da Saúde


 

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