"Dog walkers" proporcionam felicidade para cães e alívio para tutores

"Dog walkers" proporcionam felicidade para cães e alívio para tutores

Passeadores cuidam da matilha e proporcionam aos cachorros a oportunidade de se socializar e se exercitar

Esses profissionais têm a missão de melhorar a vida dos cães e de seus tutores, promovendo a saúde

Por
Paula Maia

No bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre, uma cena cativante desperta a atenção de quem passa pelo local: cães de variadas raças caminhando harmoniosamente juntos, liderados por um experiente instrutor, conhecido como dog walker. Esta figura desempenha papel fundamental ao cuidar da matilha e proporcionar aos pets a oportunidade de socialização e exercício físico. Esses profissionais dedicados têm a missão de melhorar a vida dos cães e de seus tutores, promovendo a saúde e a felicidade canina, enquanto tornam os parques de Porto Alegre um lugar mais animado e harmonioso. 

De acordo com o dog walker Juliano Savino, o segredo para a matilha andar de forma coordenada e organizada está na análise minuciosa do perfil de cada cão. Savino tem mais de duas décadas de experiência e leva em consideração características como perfil, porte atlético e capacidade física para agrupar os cães. “O melhor método de treinamento consiste em montar um grupo que tenha em sua maioria cães saudáveis e felizes. Pelo menos um cão forte, dois jovens brincalhões e um idoso, como uma matilha em forma de família”, explica o profissional que confecciona as guias que seguram os cachorros e ficam presas em um engate de alpinismo. 

Savino afirma que todos são um grupo e até mesmo os cachorros veteranos ajudam na avaliação dos novos integrantes. O destemido pincher é um dos ajudantes na avaliação do perfil. De acordo com Savino “ele é o cachorro que testa emocionais”. “Não é admitido violência. O pincher é muito corajoso. Se funciona com ele, funciona com todos”, garante o dog walker.

Outro cão que ajuda colocar ordem na matilha é uma border collie, que dá cartão vermelho para os cachorros quando o contato deixa de esportivo. “Todos os cães ajudam a gente. A nossa crítica é emocional, não física. Não permitimos violência. Técnicas positivas são nossa meta. Então, obrigatoriamente, antes de criticar um cão lhe é ensinado o que se espera dele e ele recebe elogios, massagem, carinho e comida em alguns casos”, afirma. Ele destaca que o comportamento dos cães muitas vezes reflete a criação que receberam e que cães felizes frequentemente têm tutores que lhes proporcionam segurança emocional.

Para muitos, a profissão de dog walker é uma bênção, permitindo que pessoas com agendas ocupadas possam desfrutar de uma convivência saudável com seus cães sem os incômodos diários. O passeio ocorre quando o tutor deseja. “Nós viabilizamos as pessoas terem uma convivência super saudável com seu cachorro. Ela passeia somente quando está com vontade”, garante Savino. 

Com o tempo, os dog walkers estabelecem relações de amizade com os tutores e ganham o afeto dos pets. Embora possa haver ciúmes ocasionalmente, a maioria dos cães ainda ama mais seus tutores. Atualmente, Savino lidera uma equipe com outros sete passeadores, levando até 100 cães por dia para passear nos bairros Moinhos de Vento, Rio Branco e Auxiliadora. Todos da sua equipe são enfáticos em afirmar que o trabalho é transformador. Principalmente porque o resultado é um aumento na qualidade de vida. 

Savino é apaixonado por seu trabalho e, apesar de ter feito cursos de medicina veterinária, encontrou sua verdadeira vocação como dog walker. Ele se concentra em educar os cães, eliminando medos e agressividade, promovendo a obediência. A rotina é exigente, com uma extensa lista de parques a serem visitados diariamente. Colegas de trabalho também coletam cães de diferentes regiões para participar dos passeios, proporcionando uma hora e meia de diversão ao ar livre para os peludos.

“Eu saio do Auxiliadora, na 24 de Outubro, e venho em direção ao Moinhos, fazendo o eixo da Marquês do Herval. Tem colegas que vêm pela 24, outros pela Cristóvão, e a gente vai pegando cães de toda a região. Alguns cães as pessoas me trazem de carro, passam o dia comigo, porque o ideal é a gente levá-los a parque e eles ficarem uma hora e meia soltos”, resume. 

A história de Alexsander Ribeiro demonstra a transformação positiva que a profissão de dog walker pode trazer. Ele deixou uma carreira estressante como cientista de dados para trabalhar com Savino. Ele descreve como sua paciência e tolerância aumentaram desde que começou a trabalhar com cães, uma recompensa inestimável para ele. “Sou um cara mais calmo, completamente tolerante. Tudo o que entrego para eles eu recebo de volta. Toda a atenção e carinho que ofereço para eles eu recebo e volta. De uma forma muito elevada”, garante. 

José Pereira, o estagiário do grupo, de 17 anos, compartilha o entusiasmo. Ele afirma que o trabalho proporciona uma experiência única e gratificante, muito diferente dos empregos tradicionais de escritório. “É um trabalho ótimo. Diferente de muitos trabalhos. Eu posso sair nas ruas, com os bichos. Eu adoro”. 

Exercícios recomendados

De acordo com o presidente do Sindicato dos Médicos Veterinários do RS (Simvet/RS), João Batista Junior, as atividades físicas proporcionam abundantes benefícios para os animais, especialmente para aqueles que têm pouco espaço em casa ou cujos tutores têm agendas lotadas.

Ele afirma que a atividade de dog walker vem crescendo no mundo justamente pela diminuição do espaço físico das moradias, da jornada grande de trabalho e do desejo que as pessoas têm em ter um cãozinho. “A grande maioria das raças não se adaptariam com atenção ou passeio apenas no final do dia, por exemplo, por esse motivo o passeador se torna tão necessário”, afirma o presidente. Ele ainda destaca a importância da socialização e ressalta que compreender a raça e a genética do animal ajuda a adequar o nível de atividade, evitando problemas comportamentais.

O trabalho dos passeadores encanta não apenas os observadores nos parques, mas principalmente os tutores. Karin Hillman, orgulhosa dona da labradora Dakota, é uma cliente fiel do serviço de dog walker há sete anos. Ela afirma que a presença do dog walker foi fundamental nos primeiros anos de sua jornada na maternidade, quando ela passou a ter menos tempo livre para os passeios. Karin ainda destaca que os passeios, de duas vezes por semana, ajudaram a Dakota no alívio da ansiedade e na interação com os outros peludos. 

Juliana Bassani Lamachia, tutora do jovem Joka, um jack russell terrier de 10 meses, afirma que a sua primeira experiência está sendo maravilhosa. Ela declara que esse tempo de socialização, onde os cachorros brincam livremente, trouxe mudanças positivas no comportamento agitado de Joka, que ficou muito mais calmo. 

O passar das horas em experiência que se assemelha ao aconchego do lar

Adriane Soares de Almeida é a orgulhosa proprietária de um hotel para cachorros localizado no bairro Navegantes, em Porto Alegre. Seu compromisso é proporcionar aos seus clientes de quatro patas uma experiência que se assemelhe ao aconchego do lar. Dentro das instalações repletas de brinquedos, bolas e camas confortáveis, cães de diversas raças desfrutam do espaço da maneira mais alegre possível.

Anteriormente, Adriane atuava como bancária, mas tomou a ousada decisão de mudar completamente de rumo profissional. Após cinco anos como passeadora de cães, cuidando dos peludos até o último suspiro de seu último cliente canino, ela viu sua casa, ainda no bairro Azenha, se transformar em refúgio para cães e o negócio crescer organicamente. Desta forma ela teve que procurar um espaço substancialmente maior. 

Diariamente Adriane recebe novos hóspedes e eles se juntam aos clientes fiéis que estão sob os seus cuidados há mais de uma década. A empreendedora se orgulha em dizer que alguns dos seus hóspedes chegam a ficar 12 horas em sua companhia. A empreendedora acredita que a busca contínua por excelência é um fator determinante neste mercado que está em constante crescimento. E, como forma de se manter sempre atualizada, ela busca novidades, cursos e mentorias. 

Além de administrar sua empresa, Adriane também exerce a função de pet sitter desde 2008. Ela se desloca até as casas dos clientes para cuidar de uma variedade de animais, incluindo gatos, cães de grande porte, peixes e pássaros. O diferencial dessa amante dos peludos está na variedade de métodos que ela utiliza para garantir o conforto, a saúde e o bem-estar de seus queridos clientes. Além das abordagens tradicionais, ela possui habilidades em terapias holísticas que são aplicadas com a autorização dos tutores.

Adriane tem um profundo respeito pelas expectativas dos tutores e considera isso um dos segredos do sucesso de seu negócio. A comunicação constante com os clientes é essencial para oferecer serviços sob medida para cada um. Além disso, ela conta com o apoio de sua mãe, Maria de Lourdes, carinhosamente conhecida como a "vovó pet", além de dois funcionários e uma veterinária que atua como responsável técnica. De acordo com Adriane, uma estadia regular de duas ou três vezes por semana, tem um impacto significativo no comportamento dos animais quando voltam para casa, tornando-os mais felizes e equilibrados. 

Para quem está procurando um peludo de quatro patas, Adriane lembra que é bom levar em consideração as características das famílias antes de levar um pet para casa. “Pois requer tempo para dar atenção, alimentação, veterinário, hotel nas viagens ou alguém para cuidar, creche para complementar o gasto de energia”. Ela ainda lembra que a prática de exercícios dos membros da família devem ser levadas em consideração e ressalta que as pessoas que não têm o hábito de caminhar devem procurar um cão de companhia que não vá exigir tantos passeios. O mesmo acontece para aqueles que têm a corrida como um hábito, se quiserem a companhia do amigo de quatro patas, devem levar em consideração o perfil para corrida dos dogs. 

A empresária afirma que notou um aumento na adoção de cães. Embora não seja contra a compra, acredita na conscientização das pessoas em adotar. Outra observação que a empresária faz é em relação a conduta de alguns criadores que “não são corretos no manejo, não respeitam o tempo de uma nova gestação com a mesma fêmea, não têm cuidados iniciais com os filhotes, com veterinário responsável”. Por isso, ela destaca a importância de tentar obter o máximo de informação possível sobre a origem dos peludos de quatro patas.

O amor pelos pets é o segredo

A vida de Juliana Bifano, aos seus 33 anos, é uma incrível jornada permeada pelo amor aos peludos que a conquistaram há 15 anos, quando começou os passeios com cães. Os passeios foram ficando mais frequentes, os clientes, aumentando, e logo a atividade se tornou um negócio próspero e uma profissão que lhe roubou o coração.

Hoje, Juliana não está sozinha nessa empreitada, ela compartilha a aventura com uma sócia e juntas conduzem o negócio com uma dedicação incansável. Além dos passeios pelos bairros Moinhos de Vento e Floresta, elas também oferecem hospedagem para os clientes caninos que já fazem parte do grupo. “Mas no geral acabamos atuando como uma rede de apoio mesmo, participamos do dia a dia dos pets dos nossos clientes”, complementa.

A empreendedora chegou a cursar veterinária, mas logo percebeu que, além do retorno financeiro, a sua verdadeira paixão estava nas ruas, acompanhada por patas e focinhos. Ela deixou para trás os livros da faculdade em prol do prazer de caminhar com os cães. Agora, aos olhos brilhantes de Juliana, o verdadeiro tesouro do seu trabalho é a conexão que ela estabelece com cada um dos seus clientes de quatro patas e a relação com as suas famílias. 

Juliana ressalta a importância do trabalho de dog walker para os tutores que não têm muito tempo livre para os passeios regulares. E garante que administrar as diferentes raças de cães é a parte mais simples do processo, pois o que realmente faz a diferença é a capacidade de respeitar a individualidade de cada peludo. “Por natureza, eles adoram estar em matilha e acabam indo no ritmo dela independente da raça ou porte, não fazemos distinção, hoje temos no grupo do cane corso ao maltês e adoramos um bom vira-lata”, declara. 

Assistência ganha mercado

Consultas, cirurgias e exames de emergência, implantação de chip identificador, assistência funeral ou cremação, são serviços para pets cuja demanda vem crescendo. As mudanças sociais, com o inevitável isolamento durante a pandemia, foram alguns dos motivos que movimentaram o mercado de pets nos últimos anos. Entretanto, além dos benefícios de se ter um pet em casa, outros fatores exigem preocupação. Um deles é o custo financeiro com a alimentação e, principalmente, com a saúde dos animais.

É neste sentido que o seguro-saúde para pets começa a ser percebido. Ainda pouco utilizado no Brasil, pois segundo dados recentes apenas 0,05% dos donos de animais de estimação possuem seguros, a modalidade vem crescendo diante de um grande potencial de mercado. “Este crescimento não ocorre sem razão”, avalia o diretor da Guarida Corretora de Seguros, Weslley Aguiar. “Os valores de dispêndios com a manutenção dos pets são robustos e podem diminuir com a contratação desta assistência veterinária”, afirma. Os seguros podem contar com serviços como consultas, cirurgias e exames de emergência, implantação de chip identificador, assistência funeral ou cremação.

A odontóloga Fernanda Di Diego concorda que manter os cães da raça staffordshire bull terrier, chamados carinhosamente de Rocky Balboa e Mike Tyson, cheios de energia e disposição, exige muito mais que amor. “Estou constantemente atenta à saúde das crianças, o mesmo acontece com os pets, sempre observando suas necessidades. Por isso, e para termos mais tranquilidade com as finanças, contratamos o seguro-saúde pet, uma alternativa mais econômica, que garante o atendimento de possíveis demandas do Rocky e do Mike, principalmente nos casos de urgência”, ressalta.

Fotos de Maria Eduarda Fortes

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895