Da Lomba do Pinheiro a Vegas

Da Lomba do Pinheiro a Vegas

Lutador porto-alegrense se destaca em reality de televisão nos Estados Unidos e assina contrato com o milionário mundo do UFC

O lutador porto-alegrense Vinícius LokDog conquistou o tão sonhado contrato no maior evento de MMA

Por
Victória Rodrigues*

Nascido e criado no bairro da Lomba do Pinheiro, zona leste de Porto Alegre, Vinicius “LokDog” de Oliveira, de 27 anos, conseguiu o que soa impossível à maioria dos lutadores. Assinar um contrato com o UFC e fechar com o Ultimate tornou o sonho realidade no dia 26 de setembro deste ano, em Las Vegas, quando o gaúcho participou do programa de televisão norte-americano Dana White’s Contender Series. A atração, que leva o nome do presidente do UFC, tem como objetivo encontrar novos talentos para o evento. Para isso, lutadores se enfrentam em busca de um contrato com a maior organização de Artes Marciais do planeta.

Naquele dia, LokDog fez a primeira luta da noite contra o mexicano Victor Hugo "Periquito" Madrigal, na categoria até 61kg. Considerado uma das maiores promessas a ter surgido no MMA gaúcho nos últimos anos, dono de um combate irreverente e imprevisível, Vinicius não precisou de mais de três minutos para nocautear o adversário. Apesar de ter conseguido bloquear uma tentativa de queda, Madrigal foi surpreendido com um cruzado de esquerda que o deixou estirado no octógono. Na tribuna do UFC Apex, em Las Vegas, o todo poderoso Dana White, ficou tão atônito com o desfecho do combate que as imagens viralizaram nas redes sociais, enquanto LokDog comemorava a vitória com seus treinadores Rafael “Sombra” e Anderson Segatto. Frente ao desempenho do atleta, a única alternativa de Dana foi oferecer um contrato ao porto-alegrense. 

A maioria dos lutadores tem um começo difícil e com Vinícius não foi diferente. O atleta iniciou nas artes marciais aos 16 anos, depois de não conseguir dar andamento na tentativa de ser jogador de futebol. LokDog começou no Boxe, depois se arriscou no Muay Thai e, por último, no Jiu-Jitsu. “Fiz minha primeira luta de MMA amador, mas perdi, porque não treinava Jiu-Jitsu, só Boxe e Muay Thai”, recorda o lutador. “Foi aí que conheci a academia Sombra Team, que eu estou até hoje. Faz dez anos que eu treino nessa equipe e de lá para cá foram muitas vitórias, e apenas duas derrotas”, completa. 

No começo, Vinícius tinha condições precárias para praticar o esporte. Caminhava, entre ida e volta, 34km por dia até a academia para conseguir treinar. Depois de um período dessa forma, o técnico Rafael “Sombra” financiou a compra uma bicicleta para facilitar a ida aos treinos. O lutador foi persistente e, como ele mesmo relembra, nessa época já previa se tornar campeão. “Eu consegui provar que tudo é possível”, afirma. “Sou um cara que veio do nada, não tinha esperança, não tinha luz no meu sonho, não tinha quase ninguém que me apoiava. Meu mestre Rafael Sombra foi quem me apoiou, quem me deu luz, quem me fez acreditar que o meu sonho é possível. Nós estamos juntos há 10 anos e eu tenho certeza que nós vamos daqui até além do fim”, conclui.

Reconhecimento mundial

Apesar da primeira luta de LokDog no tradicional evento gaúcho X-Fest MMA ter terminado em derrota, ele não desanimou. O episódio incentivou o atleta a crescer e construir uma carreira sólida ao lado de Rafael Sombra. “Com muita luta ele começou a ser reconhecido a nível regional, depois a nível nacional e agora no mundo”, afirma o treinador.

No Rio Grande do Sul, Vinicius lutou nos principais eventos do estado como JVT Championship, o Taura MMA e retornou ao X-Fest MMA, dessa vez com vitória. A partir daí, nunca mais perdeu no estado lutando MMA profissional. Ao longo desses dez anos, também passou por eventos internacionais como o Combate Américas e nacionais como o Future FC, até chegar no UAE Warriors e ter uma história de sucesso dentro do maior evento de MMA dos Emirados Árabes. “Foi no início da pandemia e lá ele fez história. Foi onde o mundo conheceu ele. “A última luta dele lá foi com um oponente muito bom e foi lá que ele assinou para o Dana White’s Contender Series, então foi muito marcante”, relembra Rafael.

Vinícius fechou um contrato de quatro lutas com o UFC, mas ainda não sabe quando vai estrear. O lutador irá disputar em três categorias diferentes: 61kg, 66kg e 70kg. A expectativa é que LokDog faça sua estreia no UFC Las Vegas, dia 16 de novembro. “Tenho certeza que independente do cara que eu vou lutar, é bom ele ficar bem preparado porque se ele ficar parado na minha frente ele vai cair”, afirma o lutador.


Vinícius “LokDog” aprendeu tudo que sabe com os treinadores Rafael “Sombra” (D) e Anderson Segatto (E). Ambos acompanharam o atleta na luta decisiva de classificação em Las Vegas  | Foto: Rafael Sombra / Divulgação / CP

Inspirações e legado

Todo o lutador tem suas referências quando inicia na modalidade e com LokDog não foi diferente. Estilos como o de Anderson Silva e Mike Tyson fazem parte do repertório de inspirações do lutador. Além desses, McGregor e José Aldo também compõem o leque de motivações de atleta. “São caras que eu gosto do estilo. “Eu suguei um pouquinho de cada um, chacoalhei, botei tudo no liquidificador, absorvi tudo, tomei e me fez o cara que sou hoje”, brinca o lutador. A motivação mais recente de Vinícius é a espera da primeira filha, a pequena Maitê que, segundo ele, é a maior que já teve até então.

A autoconfiança de LokDog também é algo que chama atenção dos adversários e do público. Em razão dos percalços que enfrentou até chegar ao UFC, o atleta revela costumar sempre emanar uma energia positiva para que isso reflita na sua vida e, consequentemente, nas lutas: “Eu costumo me olhar no espelho praticamente todos os dias e falar que eu sou melhor, que eu sou mais forte, eu sou mais rápido, eu sou mais bonito, eu sou o melhor de tudo. E eu falo isso não para menosprezar ou para insultar meus adversários, costumo falar isso para me sentir bem. Eu preciso ter essa autoconfiança para fazer as coisas que eu faço”. 

Com o sonho de ser campeão, Vinícius pensa no legado que quer construir daqui para frente. A luta ajudou na construção de uma personalidade que ele usa no ringue. “É só o que eu faço, eu não sei fazer nada a não ser lutar. Se um dia tirar a luta de mim, eu prefiro não estar mais vivo”, encerra. 
*Sob supervisão de João Paulo Fontoura


A trajetória difícil de LokDog incentivou o atleta a buscar consolidação na carreira de lutador ao lado de seu treinador, Rafael “Sombra” | Foto: Otavio Burigo / Divulgação / CP

 

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895