As expectativas para o Pan de Santiago

As expectativas para o Pan de Santiago

Entre estreantes e veteranos na competição, atletas gaúchos relatam os preparativos finais para os Jogos deste ano. A disputa acontece pela primeira vez no Chile, entre os dias 20 de outubro e 5 de novembro, e reúne mais de 20 modalidades esportivas com múltiplos atletas de todo o continente

Alexia Castilhos (de azul) na reta final de treinos antes da viagem para Santiago

Por
Victória Rodrigues*

O maior evento esportivo do continente está prestes a começar. Os Jogos Pan-Americanos, que ocorrem desde 1951, acontecerão em Santiago, marcando assim a primeira sede em solo chileno. O Brasil está na lista de países que participam dos Jogos Pan-Americanos desde a primeira edição e ocupa a quarta posição no ranking geral de medalhas, atrás apenas dos Estados Unidos, Cuba e Canadá.

Sediado pela primeira vez na Argentina, o Pan de 1951 teve mais de 20 países disputaram em 18 modalidades esportivas no evento, além de reunir ao todo mais de 2.500 atletas. Desde então, os Jogos foram acontecendo regularmente de quatro em quatro anos, alterando apenas os países-sede do evento. Ao todo, 11 países já sediaram a competição, sendo México e Canadá os principais anfitriões, tendo recebido o torneio três vezes cada. A disputa mais recente, realizada em Lima, no Peru, envolveu 6.668 competidores de 41 países, o maior número até aqui.

Entre os atletas que irão defender o Brasil no Pan de Santiago está a judoca da Sogipa, Alexia Castilhos. A atleta de 28 anos começou no esporte aos quatro na Sociedade Gondoleiros em Porto Alegre e recebeu o convite do técnico Antônio Carlos Pereira, o Kiko, para integrar a equipe sogipana de judô aos nove. Desde então, a evolução de Alexia no judô foi constante.

Logo depois, eu passei a fazer parte da seleção brasileira de base, desde a primeira que teve e com 14 anos eu já estava viajando para a Europa para competir. Desde ali eu nunca mais saí da seleção”, conta a judoca. Alexia já participou de competições importantes como campeonatos Pan-Americanos de base e Mundiais da classe adulta e, o mais recente, os Jogos Pan-Americanos de 2019. Na primeira participação no Pan de Lima, a judoca conquistou o pódio com o bronze na categoria 63kg.

Apesar da medalha em Lima, a atleta sofria muitas lesões na categoria que competia e decidiu, junto de sua equipe, que seria melhor subir para os 70kg. Com isso, Alexia começou um processo para entrar de novo na seleção através das seletivas. “Além disso, comecei a fazer competições para conseguir a pontuação, ficar melhor no ranking olímpico, porque isso também vale vaga para os Jogos Pan-Americanos”, relata. “E aí depois de tudo eu consegui me classificar para essa competição.”

A preparação para os Jogos é um pouco diferente de outras competições, de acordo com Alexia. Por ser extensa, a disputa requer um preparo psicológico mais intenso para o atleta até o dia da prova. A judoca viaja no dia 23 e compete cinco dias depois, no dia 28 e, nesses dias, é necessário focar o máximo na competição. “Por já ter participado em 2019, eu já compreendo o que eu posso ou não fazer e o que eu posso ou não vivenciar. Como é em uma Vila Olímpica, há diversas atrações que fazem com que tu percas um pouco o foco”, completa.

 Em novembro, é a vez do Parapan-Americano

Os Jogos Parapan-Americanos também já têm data marcada: acontecem entre os dias 17 e 26 de novembro, em Santiago, no Chile. Como tem acontecido nas últimas edições, o Brasil entra como franco favorito a liderar o quadro geral de medalhas. Além de um bom desempenho no atletismo, é da natação que vêm grande parte dos ouros conquistados na competição pelo pais.

Neste aspecto, a grande estrela brasileira é Maria Carolina Santiago, do Grêmio Náutico União. Aos 38 anos, a pernambucana tem uma coleção de medalhas: cinco paralímpicas, sendo três de ouro; 18 em Mundiais, sendo 13 de ouro; e quatro parapan-americanas, todas de ouro. Depois da experiência no Pan de Lima-2019, Carol acredita estar ainda melhor preparada. “Aquela foi minha primeira competição fora do país. Acabou sendo um marco para mim, no sentido de levar mais a sério a preparação, o lado psicológico. Agora chego mais tranquila, me sinto em casa na piscina”, afirma a nadadora, que também já projeta as seletivas para os Jogos de 2024 em Paris, no próximo ano.


Maior estrela atual da natação paralímpica brasileira, Maria Carolina Santiago vai para Lima como favorita | Foto: Guilherme Almeida

Estreia na disputa

O remo integra o programa dos Jogos Pan-Americanos desde a primeira edição, quando foram disputadas sete provas. Desde então, os remadores brasileiros só não subiram no pódio em apenas uma edição do torneio. Com o sonho de conquistar sua primeira medalha no torneio competindo na categoria double skiff pesado, Piedro Tuchtenhagen, de 22 anos, é o remador gaúcho que irá disputar o Pan de Santiago pelo Grêmio Náutico Uniçao (GNU). Natural de Pelotas, foi nas margens do arroio da cidade que o atleta descobriu a paixão pelo remo, aos 14 anos. A partir daí, nunca mais largou a modalidade. 

Piedro saiu de Pelotas em direção ao Rio de Janeiro em 2019 quando assinou contrato com o Flamengo, onde ficou até o início deste ano. Jovem, o atleta visava novos desafios e grandes resultados, por isso, decidiu voltar para o Estado e integrar a equipe de remo do GNU. “A maior diferença que eu senti daqui para o Rio foi a paz de poder treinar”, conta. “Aqui na Ilha do Pavão é um ambiente muito mais isolado, então poder remar 40km contínuos sem preocupação nenhuma é fantástico”, conta.

Apesar de jovem, Piedro coleciona na carreira títulos no Campeonato Sul-Americano, além de ter sido tetracampeão no Campeonato Brasileiro e 9 vezes campeão estadual. Estreante no Pan, a expectativa do atleta para a disputa é alta. “Acho que o Pan é uma boa oportunidade de ver como eu estou a nível continental”, relata. “Então é uma expectativa boa, estou bem entusiasmado”, completa. 


Após sofrer uma lesão na costela na reta final da preparação para o Pan, Macedo teve que adaptar novos treinamentos | Foto: Mauro Schaefer

Experiência na bagagem

Além de Alexia, a Sogipa levará mais um atleta para defender a equipe de judô, desta vez no masculino. Com a experiência dos Jogos de Lima na bagagem, Rafael Macedo, de 29 anos, irá disputar a categoria até 90kg. Nascido em São José dos Campos, interior de São Paulo, o atleta começou cedo na modalidade, com apenas cinco anos, por incentivo do pai, também é faixa preta de judô. A partir daí nunca mais parou. 

Em 2013, apenas um ano depois de integrar a equipe sogipana, foi campeão mundial sub-21, título que deu a ele a oportunidade de integrar a seleção. “Depois disso fui conquistando medalhas em Pan-Americanos, Circuito Mundial, Campeonato Sul-Americano, Grand Slam e Grand Prix”, relembra Rafael. Em 2019, o judoca teve sua primeira experiência nos Jogos Pan-Americanos, mas não foi tão positiva. O atleta ficou doente ao chegar ao Peru, lutou mesmo assim, porém não conseguiu entregar tudo que gostaria. 
Esse é um dos motivos que faz Rafael estar com a expectativa alta para a viagem à Santiago nesta semana. Apesar de não valer pontuação na corrida por uma vaga olímpica no judô, o Pan é uma competição de prestígio com muita pressão para o atleta. “O que me ajuda a lidar com isso é que sempre penso que comecei a fazer judô porque gosto do esporte. Então, tento sempre carregar essa essência comigo, de amar a praticar o esporte, além de amar resultados que eu vou tendo”, relata Rafael. 

Nesta reta final para a competição, o atleta sofreu uma lesão na costela e precisou adaptar os treinos. Reforçou o condicionamento físico na academia com musculação, além da fisioterapia. “Mesmo assim estou com uma expectativa boa porque é uma competição no formato olímpico, o que é uma grande experiência”, conclui. 

*Sob supervisão de Carlos Corrêa

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895