Chuvas acima da média até o mês de novembro

Chuvas acima da média até o mês de novembro

Conselho Permanente de Agrometeorologia Aplicada do Estado do Rio Grande do Sul destacou em seu boletim da última semana que características de El Niño “forte”, como tempestades e rajadas de vento, se manterão na primavera

Por
Patrícia Feiten

Depois de trazer um inverno atípico para os padrões gaúchos, com chuvas acima da média histórica e temperaturas mais amenas ao final da estação, o El Niño poderá ficar marcado no calendário de 2023 como o vilão da primavera na lavoura. Se confirmadas as previsões para os próximos três meses, o excesso de chuva tende a causar encharcamento do solo, atrasando a colheita da safra de inverno e o início da semeadura das culturas de verão. Um cenário que exigirá eficiência máxima dos produtores, resume a agrometeorologista Loana Cardoso, coordenadora do Conselho Permanente de Agrometeorologia Aplicada do Estado do Rio Grande do Sul (Copaaergs), vinculado à Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi).

Divulgado no início da semana, o último boletim trimestral do conselho destaca que há 90% ou mais de probabilidade de o fenômeno se manter – e forte – ao longo da primavera e no início do próximo verão. As chances de um El Niño de intensidade muito acentuada do final de novembro até dezembro são altas. “O prognóstico é de chuva acima da média para o Estado como um todo em outubro e novembro. E, em dezembro, chuvas acima da média na metade oeste e mais próximo do normal no restante”, explica Loana.

Além de grandes volumes de precipitação em curtos períodos de tempo, a primavera influenciada pelo El Niño terá tempestades, rajadas de vento fortes e quedas de granizo mais frequentes. “Até dezembro ou o início do verão, em janeiro, a tendência é que ele possa se arrefecer”, diz Loana. Diante dessas perspectivas, a agrometeorologista recomenda atenção redobrada às previsões climáticas de curto prazo, especialmente no caso dos agricultores que ainda não realizaram o preparo das áreas a serem cultivadas com os grãos de verão. “O produtor tem de se organizar para aproveitar as janelas de preparo e de semeadura quando a condição de umidade do solo estiver adequada para a entrada dos maquinários (no campo)”, alerta a coordenadora do Copaaergs.

Outra orientação da agrometeorologista para driblar o impacto negativo do El Niño é manter a cobertura de solo, o que previne a perda de nutrientes pela erosão decorrente das enxurradas. Na reta final da safra de inverno e na largada do plantio de verão, o bom desempenho da lavoura dependerá também de um controle rigoroso de doenças fúngicas. “É a maior preocupação que a gente vai ter, em função do alto molhamento, da alta umidade do ar”, ressalta Loana.

O ciclo 2023/2024 será a oitava safra brasileira de verão cultivada sob efeitos de El Niño desde 2001, segundo dados da Embrapa. O início do fenômeno, que se caracteriza pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico Equatorial, foi declarado oficialmente pela Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA) no dia 8 de junho. De acordo com o conceito definido pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), o El Niño só é confirmado quando a elevação da temperatura oceânica for igual ou superior a 0,5 °C por três trimestres consecutivos de análise – o primeiro abrangeu o período de junho a agosto, o segundo vai de julho a setembro, e o terceiro, de agosto a outubro. “Na primeira quinzena de setembro, a anomalia já estava em 1,6º C . Acima de 1,5º C, já é considerado El Niño forte”, explica Loana. 

Orientações ao produtor:

O boletim trimestral do Copaaergs alerta para a probabilidade de continuidade das condições do El Niño durante a primavera e o início do verão. Os prognósticos indicam chuvas mais frequentes e persistentes no trimestre. Por essa razão, o conselho listou recomendações técnicas para auxiliar os agricultores na implantação e no manejo das lavouras:

  • Culturas de inverno

Monitorar a ocorrência de doenças e pragas e se há necessidade de aplicações de defensivos. Colher tão logo seja possível.

Revisar as colhedoras e acompanhar a previsão do tempo para fazer colheita assim que possível.

  • Arroz

Intensificar o sistema de drenagem das áreas, desobstruindo drenos, bueiros e vertedouros de barragens.

Dar continuidade à adequação das áreas para a próxima safra, principalmente às atividades de preparo e sistematização do solo e drenagem, para semear na época recomendada, para aproveitar melhor a radiação solar e evitar as temperaturas baixas no período reprodutivo.

Evitar semeaduras em áreas sujeitas à inundação persistente.
Semeadura dentro do período recomendado pelo Zoneamento Agroclimático, semeando primeiro as cultivares de ciclo médio e depois as de ciclo precoce. Nas semeaduras após meados de novembro, dar preferência para cultivares de ciclo precoce.

Ficar atento à drenagem após o estabelecimento da lavoura.

Iniciar a irrigação definitiva quando as plantas estiverem no estádio de 3 a 4 folhas, fazendo a aplicação da adubação nitrogenada em cobertura, preferencialmente em solo seco, antes da entrada de água.

Atentar para a possível ocorrência de baixa luminosidade, que reduz a resposta da cultura à adubação nitrogenada.

Ter cuidados especiais com o possível aumento na incidência de doenças.

  • Culturas de primavera-verão

Agilizar o preparo e a implantação das culturas, para aproveitar as janelas de possibilidades de semeadura e aplicação de produtos fitossanitários.

Escalonar a semeadura e utilizar genótipos de diferentes ciclos ou diferentes grupos de maturação.

Para culturas de milho e feijão, iniciar a semeadura quando a temperatura do solo, a 5 cm de profundidade, estiver acima de 16°C e houver umidade adequada do solo.

No plantio direto, manejar culturas de inverno para a proteção do solo e a manutenção da umidade no solo.

Monitorar a lavoura quanto à ocorrência de doenças.

Fazer o controle de pragas no milho, especialmente a cigarrinha.

Para semeaduras em áreas de terras baixas, utilizar cultivares precoces, com cuidados em relação à drenagem, considerando a possibilidade de ocorrência de chuvas acima do normal.

  • Pastagens

No manejo de forrageiras, promover a manutenção da cobertura de solo e de boa disponibilidade de forragem, com cargas animais adequadas.

Escalonar os períodos de plantio/semeadura utilizando mudas/sementes de alto vigor, para reduzir perdas ou atrasos de implantação que podem ocorrer devido à umidade elevada no início da primavera.

Reduzir a carga animal na pastagem após a ocorrência de grande volume de chuva, para evitar danos pelo excesso de pisoteio.

Fazer silagem/feno para garantir maior disponibilidade de alimento no verão para as categorias de rebanhos mais exigentes.

Atentar para as instalações e o entorno para evitar formação de barro, o que pode ocasionar problemas de casco, especialmente em vacas de leite.

  • Hortaliças

Foto: Zineb Benchekcho / Embrapa / Divulgação / CP.

Cuidado com o excesso de umidade do solo.

Quando necessário, irrigar pela manhã e dar preferência à irrigação por gotejamento.

Para cultivos em ambiente protegido, fechar ao final do dia e abrir pela manhã, evitando aumento da umidade relativa e da temperatura do ar no ambiente interno dos abrigos.

Monitorar doenças, principalmente as favorecidas pelo molhamento da parte aérea ou excesso de umidade no ar e/ou no solo.

Atentar para a possibilidade de baixa disponibilidade de radiação, especialmente em ambientes protegidos.

  • Fruticultura

Foto: Fabio dos Santos / Embrapa / Divulgação / CP.

Atenção ao manejo fitossanitário, com o monitoramento de doenças.

Preservar a cobertura verde nos pomares, seja por meio de espécies cultivadas ou espontâneas, especialmente para proteção do solo, evitando a erosão e perdas de solo e nutrientes. Se possível, investir em sistemas de proteção antigranizo e/ou seguro agrícola.

Em pomares em que houver eventual perda de estruturas de frutificação e frutos em função de granizo, adotar o manejo usual do dossel vegetativo em relação a podas e aplicações de defensivos químicos. Recomenda-se o raleio para ajuste da carga de frutos quando necessário, conforme orientações técnicas de cada região/cultivar, para garantir desenvolvimento e maturação adequados dos frutos.

 

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895