Ensino compartilha o protagonismo do agro

Ensino compartilha o protagonismo do agro

A Expointer se torna, cada vez mais, palco que traz novidades e aponta perspectivas que vão além do interesse voltado ao meio rural. Projetos, visitações e práticas diversas animam o ambiente, que vira uma sala de aula a céu aberto

Genecir Jacoboski, de Santa Rosa, desenvolveu aplicativo para auxiliar na gestão das lavouras

Por
Daiana Garcia e Ana Julia Zanotto*

O protagonismo é do agro, mas o palco da Expointer é, harmoniosamente, compartilhado com outros setores, como o educacional gaúcho. Representa mescla de rural e urbano, profissional e amador, tradicional e tecnológico, em reconhecida e importante feira que o Rio Grande do Sul sedia para além-fronteiras.

Com presença pelo 2º ano na Expointer, em Esteio, nesta 46º edição, a Associação Gaúcha de Professores Técnicos de Ensino Agrícola (AGPTEA) apresentou trabalhos de pesquisa desenvolvidos por estudantes do Ensino Técnico Agrícola no Estado. Nas mais diversas áreas, os alunos desenvolveram projetos inéditos sobre sustentabilidade, agricultura familiar, controle agroecológico, aquaponia, entre outros temas.

A Associação expôs em parceria com a Superintendência da Educação Profissional do Estado, da Secretaria da Educação. Neste ano, foram 28 trabalhos, 14 apresentados nos dias iniciais da feira, e os outros 14, de 30/8 a 2/9. Para o coordenador geral da área de pesquisa da AGPTEA e da mostra do Ensino Técnico Agropecuário do Estado do RS, Carlos Augusto Fontoura, em feiras como esta, o Ensino Técnico Agrícola reforça a sua qualidade e a busca por uma profissionalização ampla e globalizada. “O Ensino Técnico não pode ser dividido em caixinhas, tem que ser integrado, por isso as escolas técnicas do RS, principalmente as agrícolas, trabalham com a transdisciplinaridade, que é a metodologia que engloba diversas disciplinas.” Todos os trabalhos apresentados na Expointer foram desenvolvidos a partir de iniciativas dos próprios estudantes, com base em cientificidade. “Nosso aluno é um profissional, ele tem que sair da escola como um profissional”, pontua o coordenador. E acrescenta: “Essa metodologia também reforça a qualidade do grupo de professores que nós temos no ensino agrícola”. 

 

APP Agronômico

O estudante Genecir Jacoboski, do 3º ano do Ensino Médio Técnico da Escola Estadual Técnica Fronteira Noroeste, em Santa Rosa, desenvolveu um aplicativo (APP) para auxiliar produtores agrícolas na tomada de decisões para maior produtividade nas lavouras. Ele expôs o estudo na Feira da AGPTEA, na Expointer. Com informações sobre clima, notícias e cálculos agronômicos, que envolvem recomendações para adubagem, quantidade de uso de sementes, entre outras, a plataforma ainda está em fase de teste. A ideia surgiu da necessidade de agrupar informações sobre gestão agrícola, instigado pelos cálculos e teorias que aprendeu na Escola Técnica. Genecir conta que é o primeiro usuário e que a inovação está sendo muito útil para auxiliar na propriedade da família. Mas espera que o projeto cresça. “Quero continuar ampliando e melhorando o aplicativo, e também levar para outros estados do Brasil, pois as informações disponíveis são somente do RS”, acrescenta o jovem.

 

Valor das abelhas

Os estudantes do 1º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Técnica Celeste Gobbato, em Palmeira das Missões, Eduardo Pertile e João Pedro Aragonês Soares, divulgaram os resultados da sua pesquisa sobre a importância das abelhas para o mundo. Incentivados por aulas de metodologia, os alunos se interessaram pela possibilidade de desenvolver um projeto relacionado às aulas de apicultura (criação de abelhas). Com foco na preservação do ecossistema, a dupla propôs ações para conscientização e demonstração do processo de polinização. Em experimentos no canteiro da escola, viram resultados positivos e acreditam que o projeto terá ainda mais relevância no futuro. Sobre a estreia na Feira, os estudantes avaliam como experiência nova, com muita troca de conhecimentos entre alunos, professores e trabalhadores visitantes, revelando expectativas de voltar no próximo ano.

 Eduardo Pertile e João Pedro Aragonês Soares, de Palmeira das Missões, expuseram pesquisa sobre as abelhas | Foto: Ana Julia Zanotto / Especial / CP

 

Visitação

Para além da mostra de projetos, estudantes aproveitaram a Expointer para estimular, aprofundar e expandir estudos. Com objetivo de agregar conhecimentos, alunos do 9º ano do Ensino Fundamental do Colégio Monteiro Lobato, em Porto Alegre, puderam ter a experiência de conhecer uma das maiores feiras do agro da América Latina no dia 29/8. Eles acompanharam e conheceram conceitos de agronegócio, Agricultura Familiar e mecanização agrícola. De acordo com o professor de Geografia, Felipe Costa, “uma parte importante da visita também é a socialização deles com a sociedade”. Após o passeio, o docente explica que a turma irá relatar essa vivência para levar às próximas turmas. O objetivo, segundo o professor, é também despertar o interesse dos demais alunos.

 

Economia e sustentabilidade

Os estudantes da Escola Estadual de Ensino Médio São José do Maratá, em São José do Sul, apresentaram, na Expointer, o projeto de Carneiro Hidráulico. O trabalho propõe economia de luz e água para pequenos agricultores. Conforme a professora e orientadora Thuani Flores, a ideia surgiu durante a mostra escolar e, apesar de a prática já ser conhecida por alguns, os benefícios são pouco disseminados.

O projeto consiste na criação de um sistema de bombeamento e irrigação sustentável, sem utilização de energia elétrica. De acordo com o grupo, a seca causa prejuízos para os agricultores, portanto, é necessário ter “uma alternativa de irrigação mais acessível, para que o produtor rural possa armazenar água”, explica a professora. 

O aluno do 3º ano do Ensino Médio, Pedro Schweig, de 18 anos, que está no comando projeto, contou que se trata de um sistema antigo, porém pouco conhecido. “Achei interessante trazer à tona, para se tornar de maior conhecimento do público, principalmente do pequeno produtor.”

 Alunos do Ensino Médio em São José do Sul desenvolveram projeto do Carneiro Hidráulico | Foto: Daiana Garcia / Especial / CP

 

Alunos garantem cobertura 

Para testar conhecimentos práticos da área jornalística, como cobertura fotográfica e audiovisual, acadêmicos da Faculdade de Comunicação Social da Uniritter realizaram diversas atividades na 46º edição da Expointer, em Esteio. E a Casa do Cooperativismo contou, ainda, com um miniestúdio de videocast, usado como laboratório para os universitários treinarem habilidades. Foram 15 estudantes, dos campi Zona Sul e Fapa, envolvidos na cobertura. A iniciativa é fruto de parceria com o Sistema Ocergs (Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do RS). 

A aluna Kristhine Knaak, de 22 anos, conta que essa foi a primeira atividade que teve fora da universidade. “Foi uma experiência bem de vida real. Gostei bastante e o pessoal me ajudou muito. Tive oportunidade de trabalhar com outros jornalistas, então consegui ter um gostinho do que talvez eu encontre no mercado de trabalho.” A produção da equipe foi transmitida pelo canal do Sistema Ocergs no Youtube, com acesso em tinyurl.com/bv263s98.


  Acadêmicas de Comunicação da Uniritter, na Capital, atuaram na cobertura da Expointer | Foto: Marcelo Tavares / UniRitter / CP

 

* Sob supervisão de Maria José Vasconcelos

 

 

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895