Especialistas defendem ensino médio em turno integral no Estado
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Especialistas defendem ensino médio em turno integral no Estado

Fórum que ocorreu em Marau tratou de temas como alfabetização no tempo certo, ensino médio em tempo integral, fortalecimento da carreira docente e a expansão do uso da tecnologia em sala de aula

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Para discutir os problemas enfrentados pelo sistema de educação e os desafios para qualificar o ensino no Rio Grande do Sul, especialistas participaram nesta sexta-feira, em Marau, na região Norte, do primeiro encontro do Movimento pela Educação. Promovido pela Assembleia Legislativa, o fórum tratou de temas como alfabetização no tempo certo, ensino médio em tempo integral com introdução à profissionalização, fortalecimento da carreira docente e a expansão do uso da tecnologia em sala de aula.

Durante o painel ‘Educação para o Desenvolvimento’, realizado no auditório da Casa da Cultura de Marau, cinco educadores destacaram a importância de trazer o tema para o centro dos debates e a necessidade de atualizar os métodos de ensino. Na avaliação da reitora da Universidade de Passo Fundo (UPF), Bernadete Dal Molin, é preciso mobilizar a sociedade para discutir políticas públicas para o segmento. “Educação é prioridade quando todos conseguimos debater, discutir, aprofundar os gargalos que nós temos, os desafios que nós temos, fazer um diagnóstico profundo dessa realidade, olhar para experiências exitosas, e que são muitas, existentes nos mais diferentes lugares”, observa.

Bernadete alerta que “vivemos uma crise de aprendizagem” e defende mais acesso e permanência dos estudantes nas instituições de ensino. “Precisamos de processos educativos coletivos que façam com que as crianças e os jovens se encantem com a escola e com o aprendizado”, justifica. A secretária de Educação de Erechim, Verenice Teresinha Lipsch, explica que a educação é um desafio para gestores e professores. E por conta do estresse diário, muitos professores estão doentes.

“Há uma carga muito grande para o professor no que diz respeito a responsabilidades. Às vezes a família joga toda a responsabilidade para a escola. Temos que trazer as famílias para dentro das escolas para a gente discutir essas responsabilidades”, observa. Ela diz que é necessário definir estratégias para a implementação da aula em turno integral. “É complexo pensar na educação integral. Num cálculo de um gestor vamos imaginar o seguinte: se coloco 500 crianças em tempo integral, em tempo parcial poderia colocar 1000. E atinjo as metas mais facilmente disponibilizando vagas em tempo parcial”, compara.

CEO da plataforma Elefante Letrado e membro do Pacto pela Educação, a professora Mônica Timm ressalta a importância de falar de temas como salário de professores e infraestrutura das escolas. “Para gente oferecer bom ensino profissionalizante a gente tem que garantir bases de sustentação. Não podemos mais conviver com analfabetismo funcional tão forte no nosso Estado. Não podemos mais conviver com esse analfabetismo chegando ao meio universitário. Antes da pandemia, 23% dos estudantes universitários eram considerados analfabetos funcionais”, destaca.

Ela explica que o movimento Pacto pela Educação tem por objetivo dar visibilidade a boas práticas e discutir alternativas para melhorar a qualidade de ensino, principalmente após a pandemia, que acentuou os problemas de ensino. “Ao invés de ficarmos chorando sobre o leite derramado ou falando sobre os problemas, que sabemos que são muitos, há iniciativas exitosas”, completa. “Não estamos sob guarda-chuva de instituição alguma, somos um movimento da sociedade civil organizada. Conseguimos mobilizar muitas pessoas a tal ponto de já termos a primeira cidade do RS candidata a ser cidade laboratório pelo pacto pela educação, que é Encantado”, afirma.

O secretário de Educação de Passo Fundo, Adriano Canabarro, defende a revisão do conceito de educação. Ele avalia que o verdadeiro papel da educação é oferecer condições para que os estudantes sejam capazes de fazer e criar coisas novas. “O pior erro que podemos cometer é pensar que o modelo de educação legal é aquilo que eu tive e que me trouxe até aqui. Educação se faz para o outro, não se faz para mim”, destaca. Para Canabarro, isso envolve a experiência do dia a dia das pessoas. “Não precisamos mais do modelo educacional que nós tínhamos”, sustenta.

Ele observa ainda que muitos alunos universitários têm dificuldade para a escrita e pensamento lógico de matemática. “Estou cada vez mais convencido que ou a gente abraça a educação básica com toda força, no sentido de que é lá que a gente tem que começar a construir as bases, para que nós possamos ter pessoas que entendam a importância do ensino técnico”, afirma. “Temos que colocar as cartas na mesa e olhar com muito pragmatismo para ver como vamos dar os próximos passos”, completa.

O diretor da Escola Técnica Estadual Celeste Gobbato, de Palmeira das Missões, Luiz Carlos Cosmam, ressalta a importância do ensino profissionalizante. “Tudo é urgente, a educação infantil é urgente, a educação básica é urgente, mas a educação profissional é emergente”, avalia. “Se formos ver números de países desenvolvidos, em torno de 42% dos jovens fazem curso técnico. Se formos ver os números do Brasil, gira em torno de 11% e no RS em torno de 12%. E apenas 20% dos jovens estão ingressando na universidade”, alerta.

“Educação é essencial para o desenvolvimento econômico e social”, diz presidente da Assembleia

Com o objetivo de ampliar as discussões sobre a qualidade do sistema de ensino, a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul realizou o primeiro dos nove encontros previstos do Movimento pela Educação. Ao liderar e lançar luz sobre o assunto, o presidente do Parlamento, deputado estadual Vilmar Zanchin (MDB), destaca que o Movimento pela Educação surge em um momento em que existe uma “sinergia no Rio Grande do Sul em defesa da melhoria da qualidade da educação”.

O objetivo é observar experiências que deram certo em diferentes locais do Brasil, como Ceará, Pernambuco e São Paulo, e reproduzilas no Estado. Conforme Zanchin, os principais eixos do debate envolvem questões como qualidade das estruturas físicas, recuperação dos profissionais da educação e aprendizagem na idade certa dos alunos. “Precisamos debater a matriz curricular das nossas escolas, ampliação, por exemplo, das escolas em turno integral, os indicadores da evasão escolar no Rio Grande do Sul e a formação continuada dos nossos professores”, afirma.

Ele destaca que algumas medidas têm resultado a curto prazo, como consertar uma escola, e outros demandam tempo maior. “Tudo isso passa pelo financiamento, mas o Brasil destina um percentual do seu PIB para a educação que não é muito diferente dos demais países. O que precisamos debater também é gestão e governança. E isso faremos nesses encontros regionais com esses debates”, sustenta.

O objetivo é envolver os parlamentares nas discussões sobre o futuro do ensino no Estado. “Educação é essencial para o desenvolvimento econômico e social sustentável, que perdura ao longo do tempo. Não se promove desenvolvimento sem conhecimento. E conhecimento se adquire principalmente na escola. O RS, que no passado já figurou como um dos estados referência na área da educação, acabou perdendo posições para outros estados em vários indicadores educacionais”, compara. Zanchin reforça ainda que a ideia é conversar com especialistas na área da educação e replicar boas práticas. “Pernambuco hoje é referência de escolas em tempo integral”, finaliza.

“A gente tem que avançar muito em termos de infraestrutura escolar”, afirma Leite

O governador Eduardo Leite (PSDB) se reuniu nesta sexta-feira, em Marau, com prefeitos dos municípios da região Norte e recebeu deles um documento com um resumo das discussões no âmbito do Movimento pela Educação e ouviu ainda as principais reivindicações das prefeituras. Após o encontro, Leite reconheceu os problemas de infraestrutura enfrentados pelas instituições de ensino. Ele rebateu a avaliação de que a educação seria “o calcanhar de Aquiles do governo” e afirmou que o Estado deve aumentar os investimentos.

“Tem uma série de investimentos acontecendo, os resultados não vêm da noite para o dia. A gente tem que avançar muito em termos de infraestrutura escolar. A gente reorganizou a Secretaria de Obras, e de Educação, e com os recursos que estamos disponibilizando, estamos acertando o passo para que o governo volte a ter capacidade de fazer obras com mais agilidade”, afirmou. Entre as medidas adotadas durante seu governo, Leite ressaltou o aumento do valor da merenda e o repasse de recursos para as escolas para investimentos voltados à infraestrutura. 

Ele explicou que os repasses para os municípios para a área da educação devem crescer nos próximos anos por conta do aumento de percentual de recursos oriundos do ICMS. O governador alerta, no entanto, que o valor adicional será destinado aos municípios após avaliação do desempenho da educação. Isso é uma forma de poder reforçar o olhar para educação, porque vai pesar no bolso. A avaliação das crianças, dos nossos jovens estudantes, vai interferir na arrecadação dos prefeitos”, adverte.

Sobre as demandas por mais investimentos do Estado nos municípios, Leite afirmou que a privatização da Corsa, realizada no final de 2022, vai injetar mais R$ 4 bilhões aos cofres públicos, o que vai viabilizar novos convênios.


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