Reduzir quantidade de açúcar em produtos industrializados é o desafio das empresas brasileiras

Reduzir quantidade de açúcar em produtos industrializados é o desafio das empresas brasileiras

Tema voltou ao centro do debate nessa semana, após a assinatura de um importante acordo entre o governo brasileiro e grandes indústrias

Anália Köhler

Meta é reduzir o consumo per capita de açúcar de 80 gramas por dia para 50 gramas por dia

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O conceito de alimento e o papel dos industrializados na alimentação atual voltou ao centro do debate nessa semana, após a assinatura de um importante acordo entre o governo brasileiro e grandes empresas. O desafio assumido é a redução em 144 mil toneladas do açúcar presente em alimentos industrializados e altamente consumidos no Brasil até 2022.

Este açúcar é um dos principais motores do comércio global e seus efeitos negativos tornam-se cada vez mais evidentes aos consumidores. “Estamos gradativamente melhorando a saúde da nossa população”, diz o ministro da Saúde, Gilberto Occhi. “Dentro do que a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda, vamos buscar sempre que o cidadão tenha informação e, gradativamente, com a redução do nível de açúcar desses alimentos, eles se tornarão mais saudáveis.”

Assinaram o acordo o Ministério da Saúde, a Anvisa – que fará o monitoramento –, a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), a Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas não Alcoólicas, a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães e Bolos Industrializados e a Associação Brasileira de Laticínios.

“O real interesse das entidades é demonstrar publicamente seu compromisso de endereçar as demandas dos consumidores. É evidente que a indústria está ciente da crescente preocupação de seu público com temas relacionados à saúde e à alimentação saudável”, destaca o endocrinologista Rodrigo Bomeny.

“Cada vez mais, discute-se na mídia que açúcar em excesso está associado a doenças crônicas. Nesse sentido, é natural que as pessoas comecem a buscar produtos com redução de açúcar e que as empresas se comprometam com essa entrega, associando sua imagem à promoção de saúde e bem-estar”, reforça.

De acordo com o Ministério da Saúde, os brasileiros consomem, em média, 80 gramas de açúcar por dia – 18 colheres de chá. A maior parte (64%) é de açúcar adicionado ao alimento. Os outros 36% são de açúcares presentes nos industrializados. A meta é reduzir o consumo para 50 gramas por dia, o equivalente a 12 colheres de chá de açúcar.

Porcentagens de redução 

O acordo firmado com a indústria brasileira engloba cinco categorias de produtos que têm a maior quantidade de açúcar consumida pela população: bebidas açucaradas, biscoitos, bolos e misturas, achocolatados e produtos lácteos. As metas serão monitoradas a cada dois anos.

Até 2022, os bolos reduzirão até 32,4%; as misturas para bolos, 46,1%; as bebidas açucaradas, 33,8%; os produtos lácteos, 53,9%; os achocolatados, 10,5%; e os biscoitos, 62,4%. “Como a adesão é voluntária, o descumprimento não acarreta medidas punitivas às empresas. Parece ser mais uma redução de danos do que uma promoção à alimentação saudável. É uma medida que de fato não contribui para a mudança de hábitos”, critica Bomeny.

Desde o ano de 2007, vários acordos com a indústria foram firmados para tornar os alimentos mais saudáveis. Primeiro, a redução de gordura trans, depois, do sal. “Levando-se em consideração que a recomendação vigente na década de 1990 pela Associação Americana de Cardiologia era que as pessoas deveriam consumir mais açúcar (inclusive doces e refrigerantes), com a finalidade de diminuir o consumo de gordura saturada, podemos considerar que essa mudança de pensamento, mesmo que parcial, é positiva.

Entretanto, é importante ressaltar que o acordo estabelece que o açúcar seja retirado sem substituição por adoçante ou gordura. Ou seja, a redução de açúcares totais não significa, necessariamente, redução de carboidratos. Assim, pode haver substituição por outro carboidrato, desde que não seja adoçante, como maltodextrina e amido.

Além disso, diversos dos produtos mais vendidos no país, inclusive os mais consumidos por crianças, não sofrerão alterações”, explica o endocrinologista, que também é diretor científico da Associação Brasileira Low Carb (ABLC). Segundo ele, a ABLC é uma instituição sem fins lucrativos que visa à disseminação do conhecimento científico sobre uma alimentação saudável e baixa em carboidratos.

“A Associação já estabeleceu parâmetros de uma alimentação baixa em carboidratos para produtos alimentícios. Isso é fundamental para a proteção dos que restringem carboidratos por doenças relacionadas à resistência à insulina e à síndrome metabólica (diabetes, obesidade, esteatose hepática). A principal medida seria desestimular, por exemplo, o consumo de biscoitos recheados, sucos adoçados e refrigerantes, que são produtos que, segundo o Guia Alimentar para a População Brasileira, não deveriam fazer parte de uma alimentação adequada e saudável. Cabe ao consumidor ficar atento à lista de ingredientes e tabela nutricional, avaliando quais produtos cabem em sua dieta, de acordo com seus objetivos”, alerta o médico.

 


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