Choques relacionados à falência da FTX atingem outras plataformas de criptomoedas

Choques relacionados à falência da FTX atingem outras plataformas de criptomoedas

Efeito dominó que afeta todo o setor

AFP

FTX entrou com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos há uma semana.

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Diversas plataformas de criptomoedas suspenderam os saques nos últimos dias, vítimas da quebra de sua concorrente FTX. A última a tomar medidas, na quinta-feira (17), foi a francesa Coinhouse, que confirmou à AFP ter bloqueado os saques de seu produto de poupança em criptomoedas.

Em uma série de tuítes, a empresa explicou que outras plataformas associadas, às quais emprestou recursos, também interromperam os saques de seus clientes.

É um efeito dominó que afeta todo o setor. Entre os associados da Coinhouse, figuram, por exemplo, a Genesis, que entregou criptomoedas para Alameda, um fundo da FTX, a empresa que entrou com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos há uma semana.

A Coinhouse relatou "tensões globais no mercado de criptomoedas e uma pressão sobre a liquidez". A Gemini, carro-chefe dos irmãos Winklevoss, que ficaram conhecidos por seus vínculos com a criação do Facebook no filme "A Rede Social", está em uma posição semelhante.

O grupo teve que congelar seu programa Gemini Earn, que permite colocar criptomoedas em créditos para terceiros para obter lucro. "A semana que passou marcou uma sequência difícil e estressante para a nossa indústria", escreveu a Gemini no Twitter.

Segundo o site CoinDesk, antes de fechar a torneira, a Gemini registrou em apenas 24 horas saques de aproximadamente 600 milhões de dólares e depósitos inferiores a 100 milhões. Um grave desequilíbrio resultante do nervosismo dos usuários, que temem um contágio em todo o setor.

A BlockFi, outro ator de peso do universo cripto, suspendeu os saques de toda a sua plataforma. Ela gerenciava, no fim de junho, cerca 3,9 bilhões de dólares em mais de 650.000 contas.

"Temos uma exposição significativa à FTX", reconheceu a BlockFi. Vários meios de comunicação americanos indicaram que esta empresa também poderia entrar em falência. "É muito perturbador, porque ainda não vimos a dimensão do contágio", resumiu Francesco Melpignano, diretor-geral de Kadena Eco, especializada em blockchain, o sistema que permite registrar todas as transações de uma plataforma.

Para Melpignano, o terremoto na FTX e suas réplicas superam o colapso criado há alguns meses pela implosão da moeda digital Terra, que arrastou para o abismo várias plataformas de câmbio, em particular a Celsius.

Além disso, o especialista compara a quebra da FTX com o colapso do Lehman Brothers em 2008, que semeou pânico nos mercados das bolsas de valores e contagiou outros bancos. Por outro lado, em uma entrevista ao Wall Street Journal, a diretora financeira da Coinbase, uma das gigantes do setor de criptomoedas, considerou que o negócio, em sua totalidade, não corre perigo.

"Mas levará vários dias ou semanas para dimensionar o contágio que este evento provocou e compreender quem estava exposto", explicou Alesia Haas.

Apesar do setor de criptomoedas ter sido afetado, o ocorrido com a FTX mostra, em contrapartida, até que ponto os mercados financeiros tradicionais são herméticos às flutuações das moedas virtuais. "Algumas ações [de empresas do setor] se viram afetadas [...], mas isso não comprometeu a estabilidade do sistema financeiro", opina Sylvia Jablonski, de Defiance ETFs, para quem a crise evidencia que os investidores preferem os mercados regulados diante de uma indústria de criptomoedas sem supervisão.


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