Com promessa sustentável, Festival Turá não usará concha do Anfiteatro Pôr do Sol

Com promessa sustentável, Festival Turá não usará concha do Anfiteatro Pôr do Sol

Evento ocorre nos dias 18 e 19 com construção de palco temporário junto ao gramado

Felipe Faleiro

Local não recebe mais eventos desde 2019 e apresenta degradação

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O Festival Turá, pela primeira vez realizado em Porto Alegre, mudou seu local de realização do Parque Harmonia para o gramado do Anfiteatro Pôr do Sol, junto a orla 2 do Guaíba, no bairro Praia de Belas, nos próximos dias 18 e 19. Mantida pela Prefeitura, a ampla área plana do local de eventos contrasta com a estrutura degradada do palco do anfiteatro, que recebeu, por muitos anos, shows, eventos e atrações culturais de destaque, até não mais ser utilizado, a partir de 2019, acelerando a condenação do local, em meio à ideia de demolição aventada pelo governo do prefeito Sebastião Melo.

O Rap in Cena, outro festival de música recente em Porto Alegre, ocorreu de fato no Harmonia, porém movimentos ambientalistas chegaram a encaminhar uma carta pedindo a revisão do evento, nos mesmos moldes do que foi feito com o Turá, devido às polêmicas relacionadas a supressão e replantio de árvores no local, para as obras de revitalização, que estão em andamento, porém uma liminar chegou a suspender os trabalhos antes do Acampamento Farroupilha, no mesmo parque. O Rap in Cena não cedeu à mudança, enquanto a organização do Turá sim.

Com atrações confirmadas como Caetano Veloso, Alceu Valença, Papas da Língua e Marina Sena, o festival, que desembarcou também em São Paulo, terá um palco construído à frente da tradicional estrutura do anfiteatro, de acordo com a organização, além de outros estandes espalhados pelo complexo. A margem do trecho 2 da orla é também conhecida por concentrar certo volume de lixo trazido pelo Arroio Dilúvio, cuja foz fica próxima ao Pôr do Sol, representando um verdadeiro desafio permanente para o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU).

A organização do evento afirma que a alteração para o anfiteatro, cujo gramado é hoje mais utilizado por pessoas apreciadoras de bumerangues do que por quaisquer outros, seguiu uma “avaliação criteriosa, que mobilizou todos os envolvidos na organização e realização” do festival. “Estamos comprometidos em criar um ambiente acolhedor e confortável para o nosso público, os artistas e todos aqueles que fazem o Turá acontecer”, disse a diretora de marketing da Time for Fun, empresa idealizadora do festival, Francesca Alterio.

A mudança seguiu uma sugestão do Instituto Curicaca, cujo coordenador técnico, Alexandre Knob, afirma que o local tem uma conexão intrínseca com a natureza. “É um espaço público e democrático, associado à natureza da Orla do Guaíba e que é parte importante da memória cultural de Porto Alegre”, afirmou ele. A Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) aprovou a alteração, e, conforme o titular da pasta, o secretário Germano Bremm, a retomada será feita “com todo o cuidado necessário”.

Ainda é uma incógnita o que será feito com a concha do anfiteatro, em razão de sua já citada degradação. Certo é que o terreno onde está o complexo será cercado para receber o festival, que ocupará por volta de 6 mil metros quadrados, praticamente todo o espaço gramado do mesmo. Em setembro, membros das entidades em defesa do meio ambiente participaram de um ato em defesa do patrimônio ambiental e da construção, se manifestando contrários à ideia aventada de concessão da área pública.

Mais cedo neste ano, em maio, Melo reuniu a imprensa para apresentar o projeto de revitalização escolhido para a orla 2, da Cheetah Consultoria, somando 134 mil metros quadrados de área, novamente, por meio de uma parceria público-privada (PPP), em um contrato válido por 35 anos. Ali, está prevista a construção de um centro de eventos, de 24 mil metros quadrados e capacidade interna de até 10 mil pessoas, além de uma marina pública com 26 mil metros quadrados e 581 vagas, mais um novo anfiteatro, para receber até 2 mil pessoas.

Também estão previstos equipamentos como um farol mirante, caminhos, ciclovias, decks, passarelas, cachorródromo, estacionamento, hotel flutuante, museu aquário, caminho das flores, parque infantil e até uma instituição de ensino superior. Se tudo correr conforme o previsto pela Administração, a licitação, a assinatura do contrato e o começo da execução das obras ocorrem em 2024, ano eleitoral. A reportagem apurou que o consórcio GAM3 Parks, responsável tanto pela gestão do Parque Harmonia, quanto pelo trecho 1 da orla, não pretende, ao menos neste primeiro momento, participar da licitação para o trecho 2.

De volta ao Turá, ainda não se sabe se intenção é que o festival de música seja um grande teste para a realização de shows, bem como não está claro se novos eventos poderão ocorrer no local. No entanto, o prefeito Melo já disse que a demolição da antiga concha não deixaria de lado o “legado” do Pôr do Sol. Em 2014, o anfiteatro recebeu, por exemplo, a Fifa Fan Fest em Porto Alegre durante a Copa do Mundo, não apenas pela proximidade do Estádio Beira-Rio, sede dos jogos na Capital na ocasião, mas também pela infraestrutura disponível.

De qualquer forma, com alicerces na sustentabilidade e na valorização da cultura brasileira, o Turá deixa o espaço do Parque Harmonia e será agora sediado em uma das paisagens mais icônicas de Porto Alegre, nesta que é a primeira edição fora da capital paulista. Em São Paulo, a primeira edição do evento contou, em 2022, ano de sua estreia, com apresentações de artistas como Emicida e Paulinho da Viola, além dos encontros de Nando Reis com Jão e Baco Exu do Blues com Illy e Marina Sena, que também vem à capital gaúcha. 

Em junho deste ano, ocorreu a segunda edição do festival na Terra da Garoa, no Parque do Ibirapuera, com a participação de 30 mil pessoas e shows de Jorge Ben Jor, Zeca Pagodinho, Maria Rita convidando Sandra de Sá, Gilberto Gil & Família, Pitty convidando Marcelo D2 – que esteve no Rap in Cena, em Porto Alegre recentemente – & Céu e ainda Joelma convidando Mariana Aydar.


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