Reforma avança em um símbolo de Porto Alegre
As obras do viaduto Otávio Rocha já foram motivo de polêmica com os comerciantes da região e, ainda que continuem gerando transtorno a quem passa, devem tornar o local mais atrativo e seguro para turistas e moradores
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As obras de revitalização do Viaduto Otávio Rocha, no Centro Histórico, estão avançando de maneira visível, ainda que gerando certo transtorno a quem passa pelo local, um dos principais pontos turísticos e de tráfego de Porto Alegre. Construído a partir do final da década de 1920, o Otávio Rocha recebeu desde então duas ações de recuperação, sendo que a última ocorreu em 2010 e a mais recente foi iniciada em novembro de 2022, com prazo de execução previsto de 18 meses. Depois da reforma, a intenção da Prefeitura é concedê-lo para a iniciativa privada. Estudos estão sendo contratados para analisar para quais usos haverá esta concessão.
O começo destes trabalhos foi marcado por alguns descompassos, já resolvidos, entre prefeitura e os comerciantes do térreo em relação ao fechamento dos estabelecimentos, ação necessária, segundo a administração municipal, para a execução do projeto. Ainda não se sabe se eles poderão voltar após o término. Parte do térreo, na avenida Borges de Medeiros, sentido Centro, atualmente abriga a base de operações da obra, executada pela construtora Concrejato, vencedora da licitação, e orçada em R$ 13,7 milhões na época.
Em 2008, uma lei municipal nomeou como Passeio das Quatro Estações os segmentos do passeio público acima do viaduto. Verão denomina o trecho da rua Jerônimo Coelho à Duque de Caxias, no lado direito, sentido norte-sul. Outono é no lado esquerdo, nas mesmas vias. Já Inverno é o caminho da Duque à Coronel Fernando Machado, lado direito do Viaduto, sentido norte-sul. E, finalmente, Primavera é nas mesmas ruas, no lado esquerdo.
Quem transita a pé pelo viaduto já percebe algumas diferenças, não apenas pelos espaços bloqueados à passagem dos pedestres, mas também ao próprio andamento das intervenções até o presente momento. Conforme o edital, além da substituição do cirex, revestimento padrão do viaduto, estão previstos o restauro das redes elétricas, telefônicas, lógicas, hidrossanitárias, de drenagem, bem como sistemas de segurança e iluminação pública, entre outros.
Conforme a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Smoi), a execução do projeto está concentrada no lado oposto ao da base, no sentido em direção à área central, enquanto no mesmo onde há os escritórios da construtora, já há trabalhos nas salas.
Ainda de acordo com o painel da secretaria, a revitalização na última semana estava 23% concluída. Para o titular da Smoi, André Flores, as obras estão “dentro do esperado”. “As chuvas acabaram prejudicando um pouco o andamento dos trabalhos, pois esta é uma obra na rua. Mas ela está muito dentro do cronograma e já vamos ter entregas parciais muito em breve”, pontuou.
Até há poucas semanas, a Smoi havia informado que as próximas etapas da execução da obra envolviam, entre outros, instalação de vidros nas escadas e do corrimão em inox. Eternizada em diversos cartões-postais e obras culturais, a construção foi tombada pelo patrimônio histórico desde 31 de outubro de 1988, em razão de sua relevância sociocultural. O viaduto tem espaço no imaginário porto-alegrense não somente por suas linhas bem definidas ou por sua estrutura de concreto armado, mas especialmente por suas conexões dentro da paisagem urbana.
O Otávio Rocha conecta especialmente a área central aos bairros Cidade Baixa e Praia de Belas, já no sentido da zona sul da Capital. Pelo local, passam dezenas de milhares de pessoas todos os dias, e suas linhas arquitetônicas são objeto de estudos até os dias atuais. Por ora, além do habitual barulho dos veículos, o som de britadeiras preenche o ambiente urbano.
A finalidade do projeto, conforme a prefeitura, é eliminar a degradação, vandalismo e depredação presentes há anos na estrutura, mesmo depois das mais recentes reformas, e no intuito de tornar o viaduto ainda mais atrativo para turistas e moradores. Em outubro, o Executivo, em conjunto com parceiros da iniciativa privada, a exemplo de Sebrae-RS, Sindilojas e CDL Porto Alegre, Convention Bureau, Sindicato de Hospedagem e Alimentação de POA e Região (Sindiha) e Pacto Alegre, lançaram a Aliança pelo Turismo, que visa ampliar o número de visitantes na Capital. Embora não citado diretamente na apresentação, o viaduto pode ser um dos potenciais beneficiários desta medida, por atrair a atenção de pessoas que vêm de fora a Porto Alegre.
O nome da construção homenageia o então intendente Otávio Rocha, que, em 1926, torna pública ao então presidente do Estado, Borges de Medeiros, a intenção de construir uma avenida a fim de conectar o Centro e a zona sul.
A fim de possibilitar a abertura da via, seu trecho mais alto precisou ser desaterrado, o que causou a descontinuidade da rua Duque de Caxias. O viaduto foi a solução proposta para restabelecer o tráfego da via. Em 1928, ocorrem as desapropriações, bem como são entregues os projetos dos engenheiros Manoel Itaquy e Duilio Bernardi. A vencedora da concorrência para a construção foi a alemã Companhia Construtora Dyckerhoff e Widmann, cujo contrato foi assinado em outubro daquele ano.
De acordo com o projeto original, o viaduto Otávio Rocha tem as laterais medindo 4,80 metros e o vão central com 19,20 metros. Já em seu centro, há dois pórticos transversais onde estão localizados dois grandes nichos, nos quais foram colocados dois grupos ornamentais. O viaduto sempre esteve como protagonista na promoção de Porto Alegre como local cosmopolita, sem perder as características que o tornaram uma marca da Capital. Por trás do fluxo constante de pedestres, o Otávio Rocha, deverá ter nova cara, com a ideia de ser conectado à modernidade, mantendo a ligação com o passado.