Reforma avança em um símbolo de Porto Alegre

Reforma avança em um símbolo de Porto Alegre

As obras do viaduto Otávio Rocha já foram motivo de polêmica com os comerciantes da região e, ainda que continuem gerando transtorno a quem passa, devem tornar o local mais atrativo e seguro para turistas e moradores

Felipe Falero

A obra, executada pela construtora Concrejato, vencedora da licitação, é orçada em R$ 13,7 milhões

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As obras de revitalização do Viaduto Otávio Rocha, no Centro Histórico, estão avançando de maneira visível, ainda que gerando certo transtorno a quem passa pelo local, um dos principais pontos turísticos e de tráfego de Porto Alegre. Construído a partir do final da década de 1920, o Otávio Rocha recebeu desde então duas ações de recuperação, sendo que a última ocorreu em 2010 e a mais recente foi iniciada em novembro de 2022, com prazo de execução previsto de 18 meses. Depois da reforma, a intenção da Prefeitura é concedê-lo para a iniciativa privada. Estudos estão sendo contratados para analisar para quais usos haverá esta concessão.

O começo destes trabalhos foi marcado por alguns descompassos, já resolvidos, entre prefeitura e os comerciantes do térreo em relação ao fechamento dos estabelecimentos, ação necessária, segundo a administração municipal, para a execução do projeto. Ainda não se sabe se eles poderão voltar após o término. Parte do térreo, na avenida Borges de Medeiros, sentido Centro, atualmente abriga a base de operações da obra, executada pela construtora Concrejato, vencedora da licitação, e orçada em R$ 13,7 milhões na época.

Em 2008, uma lei municipal nomeou como Passeio das Quatro Estações os segmentos do passeio público acima do viaduto. Verão denomina o trecho da rua Jerônimo Coelho à Duque de Caxias, no lado direito, sentido norte-sul. Outono é no lado esquerdo, nas mesmas vias. Já Inverno é o caminho da Duque à Coronel Fernando Machado, lado direito do Viaduto, sentido norte-sul. E, finalmente, Primavera é nas mesmas ruas, no lado esquerdo.

Quem transita a pé pelo viaduto já percebe algumas diferenças, não apenas pelos espaços bloqueados à passagem dos pedestres, mas também ao próprio andamento das intervenções até o presente momento. Conforme o edital, além da substituição do cirex, revestimento padrão do viaduto, estão previstos o restauro das redes elétricas, telefônicas, lógicas, hidrossanitárias, de drenagem, bem como sistemas de segurança e iluminação pública, entre outros.

Conforme a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Smoi), a execução do projeto está concentrada no lado oposto ao da base, no sentido em direção à área central, enquanto no mesmo onde há os escritórios da construtora, já há trabalhos nas salas.

Ainda de acordo com o painel da secretaria, a revitalização na última semana estava 23% concluída. Para o titular da Smoi, André Flores, as obras estão “dentro do esperado”. “As chuvas acabaram prejudicando um pouco o andamento dos trabalhos, pois esta é uma obra na rua. Mas ela está muito dentro do cronograma e já vamos ter entregas parciais muito em breve”, pontuou. 

Até há poucas semanas, a Smoi havia informado que as próximas etapas da execução da obra envolviam, entre outros, instalação de vidros nas escadas e do corrimão em inox. Eternizada em diversos cartões-postais e obras culturais, a construção foi tombada pelo patrimônio histórico desde 31 de outubro de 1988, em razão de sua relevância sociocultural. O viaduto tem espaço no imaginário porto-alegrense não somente por suas linhas bem definidas ou por sua estrutura de concreto armado, mas especialmente por suas conexões dentro da paisagem urbana. 

O Otávio Rocha conecta especialmente a área central aos bairros Cidade Baixa e Praia de Belas, já no sentido da zona sul da Capital. Pelo local, passam dezenas de milhares de pessoas todos os dias, e suas linhas arquitetônicas são objeto de estudos até os dias atuais. Por ora, além do habitual barulho dos veículos, o som de britadeiras preenche o ambiente urbano.

A finalidade do projeto, conforme a prefeitura, é eliminar a degradação, vandalismo e depredação presentes há anos na estrutura, mesmo depois das mais recentes reformas, e no intuito de tornar o viaduto ainda mais atrativo para turistas e moradores. Em outubro, o Executivo, em conjunto com parceiros da iniciativa privada, a exemplo de Sebrae-RS, Sindilojas e CDL Porto Alegre, Convention Bureau, Sindicato de Hospedagem e Alimentação de POA e Região (Sindiha) e Pacto Alegre, lançaram a Aliança pelo Turismo, que visa ampliar o número de visitantes na Capital. Embora não citado diretamente na apresentação, o viaduto pode ser um dos potenciais beneficiários desta medida, por atrair a atenção de pessoas que vêm de fora a Porto Alegre. 

O nome da construção homenageia o então intendente Otávio Rocha, que, em 1926, torna pública ao então presidente do Estado, Borges de Medeiros, a intenção de construir uma avenida a fim de conectar o Centro e a zona sul.

A fim de possibilitar a abertura da via, seu trecho mais alto precisou ser desaterrado, o que causou a descontinuidade da rua Duque de Caxias. O viaduto foi a solução proposta para restabelecer o tráfego da via. Em 1928, ocorrem as desapropriações, bem como são entregues os projetos dos engenheiros Manoel Itaquy e Duilio Bernardi. A vencedora da concorrência para a construção foi a alemã Companhia Construtora Dyckerhoff e Widmann, cujo contrato foi assinado em outubro daquele ano. 

De acordo com o projeto original, o viaduto Otávio Rocha tem as laterais medindo 4,80 metros e o vão central com 19,20 metros. Já em seu centro, há dois pórticos transversais onde estão localizados dois grandes nichos, nos quais foram colocados dois grupos ornamentais. O viaduto sempre esteve como protagonista na promoção de Porto Alegre como local cosmopolita, sem perder as características que o tornaram uma marca da Capital. Por trás do fluxo constante de pedestres, o Otávio Rocha, deverá ter nova cara, com a ideia de ser conectado à modernidade, mantendo a ligação com o passado.


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