Malha de seis quilômetros conecta granjas

Malha de seis quilômetros conecta granjas

Gasoduto implantado pela Fazenda São José dos Jesuítas garante trânsito seguro aos dejetos, aos gases tóxicos gerados pela decomposição orgânica da biomassa e ao gás natural que a torna energeticamente independente

Correio do Povo

Custo de produção do metro cúbico de biometano na Fazenda São José para abastecimento do trator Meth

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Está em baixo da terra vermelha da fazenda São José dos Jesuítas uma “teia” capaz de unificar todo o ecossistema que a torna independente energeticamente. A tubulação, com extensão de seis quilômetros, conecta todas as granjas da propriedade aos biodigestores e ao bioposto, desde a coleta e o transporte dos dejetos até a chegada ao equipamento de purificação e compressão do biometano. 

O gasoduto, segundo o diretor da SF Agropecuária, Fábio Pimentel de Barros, pode ser a chave para que a tecnologia seja viabilizada nos empreendimentos suinícolas de menor porte, como os do Rio Grande do Sul. “Fui conhecer diversas cooperativas no Sul do Brasil. É possível unificar as unidades de produção e criar um centro de produção e distribuição. A união faz a força”, indica. 

A condição para sustentar a produção independente do biocombustível é dispor de uma quantidade mínima de biomassa orgânica. De acordo com o consultor da CNH Industrial para biogás e biometano, Antonello Moscatelli, um plantel de 5 mil suínos em ciclo completo já viabilizaria sua implementação. No caso da bovinocultura de corte e de leite, a necessidade é de 400 a 500 animais. E, aos que encontrarem dificuldade em compor a carga de biomassa necessária à geração do gás natural, Barros recomenda: “o produtor pode também jogar o chorume resultante da produção de biogás no pasto e integrá-lo à biomassa”.

O produtor tornou-se o primeiro a adquirir o T6.180 Methane Power. trator da New Holland que inaugura o uso de biometano para a finalidade no Brasil. “Esse trator custa em torno de 30% a mais que um movido a diesel”, revela o diretor de Mercado Brasil da New Holland, Cláudio Calaça. O acréscimo no valor de mercado deve-se à tecnologia especialmente desenvolvida para o trabalho no campo. “Só o abastecimento a diesel responde por 30% do valor operacional na máquina”, lembra Calaça. De acordo com ele, o veículo abre caminho para a exploração de um segmento com grande potencial no Brasil. “Segundo a Abiogás, o gás biometano tem capacidade de substituir 70% do diesel atualmente consumido no Brasil, que importa 25% do combustível”, argumenta. O avanço também deve colaborar para que o Brasil atinja a parte que lhe cabe no compromisso global de reduzir a emissão de metano na atmosfera em 30% até 2030. “O metano é um gás de efeito estufa 28 vezes mais danoso que o dióxido de carbono (CO2) e é capturado pelo biometano”, explica Moscatelli. 

A produção do biometano conta com o fomento da Política Nacional de Biocombustíveis (Renovabio) e do Programa Nacional de Redução de Emissões de Metano, do Ministério de Minas e Energia (MME). A iniciativa incluiu os investimentos em biometano no Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura (Reidi) e isenta os projetos da cobrança de PIS/Cofins para aquisição de máquinas, materiais de construção, equipamentos, dentre outros componentes.

O trator 

Lançado comercialmente no Brasil durante a Coopavel do ano passado, o primeiro trator movido a gás biometano do mundo, o T6.180 Methane Power inaugurou um novo segmento de máquinas agrícolas a partir do projeto realizado na Fazenda São José dos Jesuítas. Equipado com motor eletrônico FPT 100% a gás natural, desenvolvido pela FTP Industrial (Iveco Group), com 180 cavalos de potência e 740 Nm (Newton metro) de torque, o modelo conta com dez tanques para GNV e capacidade para armazenar 105 metros cúbicos de biometano. 

Sem a dependência do petróleo, cujo preço é balizado pelo mercado internacional, o trator sai da fábrica com a capacidade de reduzir de 30% a 35% o custo operacional do mesmo veículo movido a diesel. A comparação é realizada a partir da correspondência de um metro cúbico de gás para cada litro de diesel. Na São José, o custo de produção de cada metro cúbico do biometano ficou em torno de R$ 2,00. Em comparação ao preço do litro do diesel, que está na casa dos R$ 6,00, a alternativa oferece uma redução de R$ 4,00 por metro cúbicos, ou seja, algo como 33,3%, em valores atuais, com relação ao óleo diesel.

Conforme os experimentos e testes realizados em Brasilândia, para os trabalhos mais leves, a autonomia da máquina ficou entre 8 horas a 10 horas. “O consumo, o torque e a potência são iguais às de um motor movido a diesel”, assegura Calaça. Para utilização os trabalhos mais pesados, com 93% da carga do motor, a capacidade de trabalho ficou em 6h. 

O abastecimento leva em torno de dez minutos e deve ser feito por operadores treinados. Embora seja o simples de ser executado, o processo requer cuidados, já que o biometano é um gás altamente explosivo. 


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