Cultura em chamas

Cultura em chamas

Por Patrícia Trunfo Carpes*

Correio do Povo

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O Brasil foi eleito, em 14.11.2017, com o maior número de votos, para integrar uma das 12 vagas do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco, responsável por aplicar a Convenção da ONU para a Proteção do Patrimônio Mundial e Natural, comprometendo-se a cumprir suas determinações, entre as quais, as constantes da Declaração sobre as Responsabilidades das Gerações Presentes em Relação às Gerações Futuras. No entanto, comemoramos mais um 17 de agosto sob cinzas, agora, da Cinemateca Brasileira, que teve queimada grande parte da história do cinema brasileiro, por coincidência, duas semanas antes de perdermos dois de seus inigualáveis expoentes, Paulo José e Tarcísio Meira.

O fogo que atingiu o Museu da Língua Portuguesa em 2015, o Nacional em 2018, e a Cinemateca em 2021 mostra que a “democracia”, com sua diversidade de siglas e ideologias, atinge também a cultura, mas de modo lamentável – três ícones da nossa memória sucumbiram durante os governos de três partidos diversos, fato que demonstra o que há muito defendo – cultura é questão de Estado e não de governo e, portanto, não pode ser submetida a ocupantes de cargos temporários, “bandeirolas” de políticos, sem um plano permanente de manutenção e preservação. Mudam os grupos, as siglas, mas o descaso permanece o mesmo, a renovação política na área cultural não importa, necessariamente, em inovação.

Por fim, cumpre lembrar que a proteção da memória é responsabilidade conjunta da sociedade que, segundo o art. 216, § 1º, da CF, deve colaborar com o poder público para a sua proteção. Assim, enquanto não assumirmos nosso papel como atores de proteção, continuaremos a patrocinar as “festinhas” e as viagens dos nossos representantes à ONU, fantasiando-se lá fora de personagens cujos papéis não assumem aqui dentro, num eterno demonstrar que Macunaíma ainda não amadureceu e a nossa Cultura permanece em chamas. 

*Advogada da União. presidente da Associação Victorino Fabião Vieira


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