Agosto Dourado: nutrição além do leite materno

Agosto Dourado: nutrição além do leite materno

Por Cassiane Amaral*

Correio do Povo

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Com o mês de agosto, é reforçada a discussão acerca da amamentação e os seus desdobramentos para mãe e bebê. Categorizado como Agosto Dourado, este período do ano é preenchido com debates e campanhas de conscientização que reforçam a preocupação sobre o tema. Entretanto, pouco se discute a respeito dos cuidados envolvendo a saúde mental das mulheres que não conseguem amamentar e o impacto negativo por trás desta realidade. 

A psicologia indica que a relação do amamentar vai muito além do que suprir uma necessidade puramente biológica ao criar os primeiros contatos entre genitoras e filhos. Contudo, existem mães que não conseguem amamentar, por insuficiência do leite materno ou outros fatores e isso pode causar um forte impacto na sua saúde mental. Isso se dá pelo sentimento de culpa vinculado à falsa sensação de incapacidade ao não produzir o alimento necessário ao seu filho ou suprir suas necessidades. 

Porém, o vínculo mãe-bebê vai muito além da nutrição biológica. Esta relação é muito mais sobre uma nutrição simbólica, de amor, de significado, de afeto. A amamentação não é a única forma de construir este vínculo e tampouco a mais importante. 

É necessário olharmos para a maternidade de forma real e concreta. Entendo que ela pode trazer muitas alegrias mas também muitos desafios para estas mulheres. Mudanças no corpo, hormônios, novas responsabilidades, fragilidade emocional, medos e angústias são fatores naturais e pouco mencionados quando falamos em maternidade. Porém, esse diálogo é urgente, inclusive, para construirmos relações mais saudáveis entre mães e bebês. Porque quando uma mãe está em sofrimento, ela não irá conseguir se conectar plenamente com o seu bebê. Ainda que o leite materno não falte, a ausência da conexão, do olhar e do afeto deixa marcas muito profundas, tanto no ser que recém chegou ao mundo quanto àquela mulher que está passando por um dos momentos mais desafiadores de sua vida. 

Então, no mês do Agosto Dourado, precisamos sim incentivar a amamentação como algo importante para a nutrição física e emocional do bebê. Porém, precisamos também acolher estas mães que não conseguem efetivar este ato. A amamentação não é a única forma de conexão. A relação mãe-bebê vai muito além do amamentar. É sobre nutrir com o olhar, com a atenção e com o afeto, construindo relações reais e saudáveis para ambos. 

*Psicóloga e Coordenadora Acadêmica da Estácio-RS


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DESDE 1º DE OUTUBRO 1895