Frio, neve, gelo...ué!! Cadê o aquecimento global?

Frio, neve, gelo...ué!! Cadê o aquecimento global?

Por Daniel Bayer da Silva *

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Nesta quarta-feira, dia 28/07/2021, presenciamos uma onda de frio histórica, que trouxe neve a diversas regiões do RS. Diferentemente de outros anos, a quantidade de neve chega a assustar. Ok... não chegou a bloquear as casas e congelar os lagos, mas, para o nosso estado, esta quantidade é muito incomum. Na verdade, esta é a segunda grande onda de frio a afetar o sul do Brasil neste inverno. Isto só pode significar uma coisa: o tal do aquecimento global é uma balela!

Calma lá caro leitor. Sim e não. Existe uma certa confusão com este nome, principalmente devido à complexidade do clima e das escalas envolvidas. Bom, vamos lá. Poderíamos rebater a exclamação simplesmente mencionando as altas temperaturas na Europa e principalmente no Canadá, que chegaram próximo dos 50 graus. Porém, cometeríamos o mesmo erro: pensar em escala climática nos baseando em eventos esporádicos e isolados. Precisamos observar a frequência e a velocidade dos eventos...o que, claramente, nos indica alguma alteração climática. Este é o ponto. Estamos presenciando uma Mudança Climática Global, nem aquecendo, nem esfriando (em uma escala maior), simplesmente mudando. Isto sempre ocorreu e sempre ocorrerá na história da Terra, independente dos seres humanos.

Tá, agora que não entendi nada, qual o problema então? Você deve estar pensando...
Como mencionei há pouco, o que diferencia a situação atual de outras alterações climáticas reconhecidas no registro geológico é a velocidade da mudança. Mudanças no sistema climático global, que alteram "permanentemente" o padrão de temperaturas, levam milhares de anos para ocorrer. A exceção são eventos catastróficos que alteram o clima por um relativo curto período de tempo, mas que depois é retomado.

O que as medições globais nos indicam, e que estamos observando anualmente, é a frequência maior de altas e baixas temperaturas, inundações, tempestades, tornados, entre outros. Tudo ocorrendo em poucas dezenas de anos. Não há nenhum fator natural que explique isso. Nem alterações nas explosões solares, nem vulcanismo, nem alterações no campo magnético terrestre. No entanto, quando sobrepomos os gráficos obtidos do histórico de atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis, desmatamentos, queimadas e emissões de gases de efeito estufa, eles se encaixam muito bem com o do aumento de temperatura ao longo dos últimos 50 anos, por exemplo.

Quando mencionei que o correto seria "mudança", ao invés de "aquecimento" é simplesmente porque não sabemos o que esta elevação repentina pode acarretar no planeta, pois, em algumas situações, um aquecimento poderia, em tese, causar um resfriamento, mas isso é algo mais complexo e dependente de modelos computacionais.

De qualquer forma, esta questão nos afeta diretamente e afetará mais ainda as futuras gerações se não tivermos uma visão crítica e aberta sobre nossa relação com a natureza. Fazer um boneco de neve na Serra Gaúcha é divertido e devemos curtir o momento ao máximo, mas sem esquecer que amanhã o boneco já não estará mais lá. A velocidade da transformação pode surpreender. É tudo uma questão de escala.

*Doutor em Filosofia da Geologia - daniel.bayer.silva@gmail.com


Correio do Povo
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