Olhos fechados para a realidade

Olhos fechados para a realidade

Por José Paulo Cairoli*

Correio do Povo

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No enfrentamento à pandemia há um descompasso sem fim entre o governo do Estado e as prefeituras. Falta um olhar mais próximo para a realidade dos municípios, com mais abertura e menos tecnicismo. No começo, o governador chamou a responsabilidade e criou o sistema de bandeiras. Mas as questões locais não eram observadas, gerando revolta em quem foi punido sem necessidade. Havia cidade com um ou dois casos onde o comércio todo estava fechado.

Por meses, prefeitos defenderam que, mais do que regulamentar o funcionamento do setor produtivo, o governo deveria ampliar a oferta de leitos e ajudar a conter aglomerações. Houve iniciativas, mas a maior parte financiadas pelo governo federal e muito aquém do necessário.

O sistema de bandeiras foi arquivado e entrou em vigor o dos tais 3As. Mas em vez de melhorar, piorou, pois o governo lavou as mãos. Diminuiu a intervenção nos protocolos, o que está certo, mas faz de conta que a crise hospitalar não é com ele. De novo, um método político de salvar-se sem mergulhar no problema.

Há aumento nos casos de Covid em diversas regiões do RS. Em algumas, faltam leitos clínicos. Já vimos que essa é a fase anterior ao colapso das UTIs. Tudo isso reflete nos números. Em 26 de maio, tínhamos média de 244 mortes por 100 mil habitantes — muito acima da média nacional, que é de 216. Nessa triste estatística, ficamos à frente de estados do Norte e Nordeste, onde reconhecidamente há menor estrutura.

O governo do Estado precisa trabalhar com mais afinco para prover atendimento onde precisa. Também deve ajudar os prefeitos na fiscalização de festas clandestinas. Claramente falta foco nesses aportes e numa parceria mais próxima com os municípios.

Governador, não deixe a situação piorar para gravar um vídeo dramático, fechar o comércio e punir, uma vez mais, quem não tem culpa. Aja enquanto ainda há tempo. 

*Produtor rural e ex-vice-governador


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DESDE 1º DE OUTUBRO 1895