Turismo Urbano de Negócios e Eventos dos EUA ao Brasil

Turismo Urbano de Negócios e Eventos dos EUA ao Brasil

Por Abdon Barretto Filho*

Correio do Povo

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No dia 6 de fevereiro de 1896, na cidade de Detroit, Michigan – EUA, o jornalista Milton Carmichael, recém chegado de Indiana, ligado ao Partido Republicano, foi trabalhar no Detroit Journal, veículo de comunicação com grande influência no mundo dos negócios da cidade. Ao analisar o comportamento e o perfil dos empresários locais, o jornalista percebeu a existência de um clima de salve-se quem puder entre os principais setores da economia. A competição entre algumas atividades era predatória, quase suicida com guerras de preços e falta de diálogos. O setor de hotelaria, era o mais individualista possível. Cada empresário insistia em olhar para o seu próprio interesse, sem gestão profissional, ignorando os desafios do ambiente negócios em que estava inserido. A estratégia de comercialização, por exemplo, incluía um dono de hotel ou seu representante visitando potenciais clientes, para divulgar seu empreendimento em Nova York, Chicago ou Washington, ação copiada pelos concorrentes diretos e indiretos. Ações de varejo que não aumentava o mercado e nem aumentava os fluxos de visitantes, com baixa rentabilidade e antecipando o fim do ciclo de vida do produto.

Convém salientar que Detroit, sempre foi uma cidade com apelo turístico e de economia fortalecida pelas indústrias metalúrgicas e automotoras. Já em 1896, muitos homens de negócios chegavam para participar de convenções, congressos e reuniões de trabalho, gerando aumentos das ocupações dos hotéis, consumos nos restaurantes, bares, boates, táxis, entre outras atividades. A cidade estava iniciando o turismo de negócios e eventos no século XIX, como uma nova atividade econômica. Não existia estratégia conjunta e a cidade deixaria de receber milhões de dólares por não ser capaz de atrair fluxos de visitantes e gerenciar a vinda de convenções, congressos, entre outros tipos de eventos. Não possuíam o reconhecimento que juntos teriam mais forças no mercado. Não se vislumbrava a possibilidade de ação integrada de forma coletiva, promovendo o destino/cidade e nãoos interesses individuais.

Ao fazer a leitura inédita do ambiente de negócios, o jornalista Milton Carmichael apontou aos empresários locais a necessidade de rever estratégias “burras e individualistas“ para discutir e analisar o problema de atrair visitantes, com ações planejadas e gestão profissional. A visão estratégica demonstrada pelo jornalista, falecido em 1948, influenciou a criação do primeiro escritório de captação de eventos do mundo, algo inédito para o final do século XIX. Para ele, cabia à comunidade empresarial se unir e não ficar esperando a iniciativa do setor público. Assim surgia o The Detroit Convention Businessmen´s League, primeiro nome da entidade que em 1907 passou adotar a denominação de Detroit Convention Tourist Bureau.

Desde então, houve uma série de mudanças no fenômeno turístico que ganhou importância estratégica para muitos países. Transformou-se em produto de exportação, gerador de emprego, renda e melhoria da autoestima da população. Atualmente, existem mais de 1.000 convention no mundo e cerca de 100 em nosso País, que continuam com as suas árduas tarefas, muitas
vezes incompreendidos pelos neófitos que ocupam cargos oficiais, geralmente apadrinhados políticos. Além disso, o Turismo no Brasil, depende do humor político de plantão para enfrentar omissões governamentais, sem prazos de validades. Será? São reflexões. Respeitam-se todas as opiniões contrárias. Podem ser úteis. Pensem nisso.

*Economista e Mestre em Comunicação Social


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895