O composto químico metanol entrou na conversa do brasileiro de maneira literalmente tóxica e gerando consequências graves para dezenas de pessoas nos últimos dias. Uma curiosidade escancara o absurdo de contaminar bebidas alcoólicas com a substância: o metanol já foi utilizado como combustível da Fórmula Indy, entre outras categorias de alta performance.
Ninguém bebe gasolina ou querosene, para citar alguns compostos utilizados em automóveis. Para Indy, o metanol surgiu como opção após um gravíssimo acidente nas 500 Milhas de Indianápolis de 1964. Dave Mcdonald bateu seu carro no muro, rodou na pista e foi atingido por Eddie Sachs. Os tanques eram bolsas de gasolina, que se romperam e espalharam por toda a reta, criando um verdadeiro inferno de fumaças e chamas.
Para competição, o metanol oferece vantagens de segurança, em comparação. Primeiramente, a chance de detonação (do combustível incendiar) com impacto é bem menor que da gasolina, reduzindo os casos de acidentes com pilotos presos em ferragens incendiadas. Além disso, as chamas e fumaça da queima do metanol são quase invisíveis à luz do dia, melhorando a visibilidade, caso um incêndio ocorra, e evitando que mais carros se envolvam na batida.
 Gasolina vazou e criou muro de fogo em acidente de 1964CP Memória
Gasolina vazou e criou muro de fogo em acidente de 1964CP Memória 
Mesmo para a o ambiente de competição da Fórmula Indy, contudo, os riscos do metanol eram claros: intoxicação por inalação ou absorção pela pele. Os mecânicos e até os pilotos usavam roupas e máscaras especiais quando os reabastecimentos eram realizados, para minimizar qualquer contato com a substância, que pode causar cegueira, inconsciência, danos neurológicos e até a morte.
Até os carros eram "intoxicados" pelo metanol, já que o combustível é extremamente corrosivo. Conexões, vedações e metais precisavam ter tratamento especial ou serem feitos de materiais resistentes para evitar quebras e vazamentos. Por fim, incêndios nos boxes eram um risco maior, durante abastecimento. A substância vazada podia intoxicar e o fogo invisível gerou cenas de desespero. A mais famosa delas nas 500 Milhas de 1981, quando o carro de Rick Mears começou a pegar fogo sem piloto ou time notarem. Até o piloto e os mecânicos começarem a notar o calor e a ardência das queimaduras avançando.
Sem uma solução imediata para o problema dos incêndios e com vantagens para a potência e refrigeração dos motores (até 20% de ganho de potência), a Indy usou o metanol de 1965 até 2007. A partir de então, o etanol convencional se tornou o combustível da categoria.

