A missão humanitária brasileira na Turquia

A missão humanitária brasileira na Turquia

Oscar Bessi

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Retornaram ao Brasil, no último final de semana, as equipes militares que ficaram por cerca de duas semanas na missão humanitária brasileira na Turquia. A tragédia imposta pelos terremotos ceifou mais de 50 mil vidas, quase 45 mil delas só em território turco. Um drama que abalou o mundo e ainda nos emociona, mesmo que nossas próprias tragédias se repitam, como o caos vivido há poucos dias no Litoral de São Paulo. Que pode ser encarado como outra catástrofe natural, mas se olharmos na origem, com o mesmo olhar crítico com que encaramos o ocorrido em Brumadinho, vemos o dedo irresponsável do ser humano e sua velha ganância inescrupulosa como o cerne de tudo o que houve, e de tudo que poderia ser evitado se houvesse mais preocupação com o outro. Lá, o dedo humano não está no fato em si, que é o terremoto, mas no descaso com as regras de segurança para construções onde tantas famílias viviam e trabalhavam. E tudo, também, poderia ser diferente.

Nossos bravos guerreiros brasileiros, numa operação comandada pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, embarcaram num avião cargueiro da Força Aérea Brasileira (FAB) e rumaram para uma missão tão histórica e importanto quanto nossos pracinhas da Força Expedicionária na II Guerra Mundial. A missão era salvar vidas. Era lutar contra o caos. Integraram a missão militares especialistas do Corpo de Bombeiros de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, além de integrantes da Defesa Civil paulista, médicos, além de um grupo de cães farejadores. Os brasileiros foram responsáveis por 46 operações de busca e salvamento e 74 atendimentos médicos nas duas semanas em que permaneceram na Turquia. Uma missão nada fácil. Bombeiros de Minas relataram o drama de trabalhar de forma incansável e ininterrupta por sete horas seguidas em um conjunto residencial totalmente destruído pelo terremoto, num prédio de vários andares do moradias sobre lojas, onde nossos heróis tentaram exaustivamente, mas com toda técnica e cuidado, retirar uma criança de 4 anos que estava em pé entre os escombros. Infelizmente, assim  como toda a família dela, este anjo não sobreviveu.

Este é apenas um novo exemplo tão brasileiro de renúncia e heroísmo protagonizado por homens e mulheres que decidem deixar as próprias famílias de lado, sem saber quando voltam, para se dedicar, seja lá onde for, ao salvamento das vidas de outros. Pessoas que sequer conhecem. Mas que são vidas, e todas as vidas importam aos que escolhem, por vocação, a renúncia em prol do outro. Um bombeiro, um militar ou um médico, nessas missões, não perguntam o passado da quem precisa socorro, não querem saber qual a sua religião ou ideologia. Querem saber apenas que são vidas, que são seres humanos, e que são importantes apenas por isto. No caos vivido nas praias paulistas, vimos bombeiros lá, isolados, encarando a possibilidade de uma nova tragédia, focados apenas em persistir nas buscas pelos desaparecidos. E com a incrível colaboração de gente simples, de gente que perdeu praticamente tudo, mas que simplesmente fez da solidariedade a sua principal razão de estar ali. É uma pena que a ganância humana tenha tantos adeptos, cause tanta dor e siga gerando notícias ruins. Porque, por outro lado, esses seres humanos do bem, ah. Estes justificam toda fé que ainda nos resta!  
 


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