Aos meus afilhados sargentos

Aos meus afilhados sargentos

Oscar Bessi

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Foi uma semana difícil. E talvez houvesse um leque imenso de notícias ruins para, como sempre fizemos estes anos todos, convidar o leitor ao debate e reflexão. Que de tudo podemos, e até devemos, tirar lições. Ainda mais das notícias que ocupam a nossa página policial. Para nos entendermos melhor, em causas e consequências, e tentarmos transformar positivamente nossas perspectivas, seja enquanto indivíduo ou coletivo. Tudo pela esperança de que certas tragédias não se repitam. Houve a selvageria lá no Distrito Federal. A criança morta por um amigo a facadas após discutirem em meio à brincadeira na rua. O bebê estuprado e assassinado por um monstro. O jovem colega da Brigada Militar assassinado por criminosos em Porto Alegre. Há horas que a indignação pede que tantas coisas sejam ditas outra vez, porque os idealistas, como os loucos e os poetas, são assim. Insistentes. O preço de acreditar. Embora este seja um verbo cada vez mais difícil de ser conjugado.

Mas eu acredito, por exemplo, e com todas as forças, nos novos sargentos da Brigada Militar que estão se formando neste sábado. Homens e mulheres que se qualificam, após um período de experiência como soldados do front, para liderar, gerenciar, fiscalizar, apoiar. Para combater o bom combate, agora como líderes. E, particularmente, de um jeito muito especial e afetivo, eu acredito nos 69 sargentos formados na Escola da BM em Montenegro. Num gesto de extrema generosidade, amizade e carinho, esses guerreiros e guerreiras me escolheram como paraninfo da turma. Uma honraria que eu nem sei se mereço, tamanha a envergadura. Mas, nos últimos meses, dividimos histórias de vida, conhecimento, visões, debates e sonhos. Marchamos decididos entre ideais e promessas de servir e proteger. Dividimos angústias, apreensões, dúvidas. Resolvemos problemas inesperados e construimos. Sempre lado a lado, como fazem aqueles que se irmanam numa missão. Conquistamos belas vitórias. A maior delas, sem dúvida, foi chegarmos todos juntos nesta formatura, pisando firme o novo degrau de suas vidas.

Se cada um desses homens e mulheres contasse tudo o que passaram, desde o primeiro dia em que ingressaram na Brigada Militar, como soldados, há tanto tempo, nós passaríamos horas intermináveis oscilando entre o riso e a lágrima. Nunca é fácil a estrada de um policial militar. Muitos não conseguiram chegar aqui. E talvez muitos tenham trilhado caminhos bem diferentes do que sonhavam lá naqueles dias. Mas hoje, especialmente hoje, ganham a grande oportunidade de renovar seus sonhos e seu juramento. De reafirmar suas convicções e realçar uma vocação. De escrever um novo capítulo no fantástico livro de suas vidas. Ali, na Escola, juntos na construção desta nova fase, éramos quase todos veteranos. Ainda que eu fosse o mais velho, em idade e em tempo de serviço. Mas chegamos ao final com a alegria de uma garotada feliz, determinada, quem sabe resgatando sonhos lá do passado. Sonhos agora ainda melhores, temperados pela experiência. Meus queridos amigos, irmãos, sargentos da Brigada. Foi um grande presente divino ter a chance de conviver com vocês. Que a felicidade seja sua melhor parceira.       


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