Os anjos de Isabely

Os anjos de Isabely

Oscar Bessi

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A noite quente de quarta-feira, nesta semana de Natal, prometia ser agitada para os policiais militares de serviço em Montenegro. A viatura conduzida pela jovem soldado Isabel, com apenas dois meses no front da Brigada Militar, levava como patrulheiro o sempre atento e experiente sargento Romani, mais de 15 anos de serviço. Verificavam denúncias de tráfico de drogas, quando um acidente de trânsito grave os fez abandonar as buscas e ir para o centro da cidade. Porém, minutos depois, outro chamado desesperado ao fone 190 tornaria, definitivamente, aquela uma noite especial para ambos. E para tantas vidas ao redor da recém-nascida Isabely. De apenas um dia. E já quase partindo, engasgada, para agonia e aflição dos pais que, sem saber o que fazer, e inspirados pela confiança em outros casos noticiados sobre o preparo e heroísmo dos policiais militares, ligaram para a Brigada Militar.

Minutos antes, ao chegar em casa, vindo do mercado, o pai abriu a porta e se deparou com os gritos da esposa. Seu bebê estava morrendo. É tudo muito rápido nestas horas. Mas, mais rápido foi o atendimento, desde o momento em que a soldado Scheren atendeu à ligação no 190 ao deslocamento imediato da guarnição da BM. Que, além de atravessar a cidade, precisou subir quatro lances de escada para chegar ao apartamento da ocorrência. Nada demais para a jovem soldado Isabel, medalhista em corridas e quase xará (pelo detalhe de uma letra) da bebê. Ela teve calma suficiente para lembrar das lições aprendidas no curso feito na EsFES Montenegro e, imediatamente tomou a criança nos braços, aplicando a Manobra de Heimlich. Os sinais vitais demoraram a voltar. Ela e o sargento Romani não perderam tempo. Voaram para o hospital público da cidade, levando consigo um pai em lágrimas, aflito. Graças à iniciativa da soldado Scheren, telefonista, a equipe de saúde já estava na porta da entrada de emergência esperando a chegada da bebê. Nesse ínterim, a menina reagiu nos braços da policial militar. Estava salva.

Romani e Isabel não tiveram tempo para se emocionar, nem para acompanhar o desfecho do atendimento, apenas sabendo, mais tarde, que a pequena estava bem e já estava em casa. Foi uma noite corrida, com ocorrências que não pararam até o amanhecer. Porém, no final de semana veio a surpresa. Os pais da pequena Isabely os receberam para mostrar a menina, agora saudável, e fizeram um convite especial: que os dois PMs aceitassem ser padrinhos de batismo da menina. Claro que aceitaram. Claro que se emocionaram. E eu também me emocionei. Pois, a soldado Isabel é aquela menina sobre a qual falei aqui na coluna, dois meses atrás. Minha enteada. Ela mal começou sua vida profissional e já salvou uma vida. Uma bebê que terá a chance de crescer, ser criança, brincar, estudar, envelhecer. Que terá a chance de passar as festas de final de ano ao lado dos pais. Graças a três anjos de farda que foram diretamente responsáveis por ela não ter nos deixado. Como sempre diz o coronel Cláudio Feoli, a Brigada é assim, uma instituição vocacionada a salvar vidas. É Natal, caros leitores. É tempo de luz, de gestos de amor, de celebrar o bem. A vida? Ah, a vida será sempre o nosso maior patrimônio. E Isabely ganhou de seus anjos fardados o maior presente de Natal que alguém poderia receber: sua vida.


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