Quatro tons de crueldade

Quatro tons de crueldade

Oscar Bessi

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Os sorrisos deles eram como pequenas luzes coloridas. O Natal estava tão perto. As decorações iluminadas já eram vistas por toda a cidade, em todos os lugares, espalhando tons de amor, fraternidade e alegria, mesmo onde a realidade é mais dura e difícil de encarar. As músicas com sinos já embalavam, há dias, os sonhos de tantas crianças, e tão é lindo quando isto acontece, podem chamar de apelo consumista, podem criticar o quanto quiserem, mas é apenas mágico por ser maravilhoso sonhar. Suspirar esperanças. E quando ainda se é criança, nossa, é permitido sonhar com todas as forças. É permitido sorrir por nada e ignorar as adversidades da vida. Bah. Faltava tão pouco. E eram tão lindos os sorrisos de Yasmin, Donavan, Gyovanna e Kimberlly. Na foto mostrada pela Record TV RS, eles sorriam intensos, plenos, puros, agarrados à mãe. Talvez recém tivessem trocado eufóricos palpites sobre o que ganhariam do Papai Noel. E parecia que nada abalaria aquela felicidade por estarem juntos. 

Só parecia. Havia um monstro terrível por perto. Um monstro disfarçado de ser humano e essa crueldade sem limite, que jamais conseguiremos entender como pode existir no coração de alguém. Yasmin, apenas 11 anos. Donavan, 8. Gyovanna, 6 aninhos. E a caçula Kimberlly, 3 anos, tão pequenina, tão feliz. Eles não tiveram a chance de ver qual surpresa o bom velhinho lhes traria este ano. Porque o monstro, por motivos que não podem ser aceitos como normais, que não podem servir como explicação para justificar tamanha brutalidade, acabou com a vida deles. De todos os quatro pequenos. Num gesto cruel. Feroz. Absurdamente covarde.

Inaceitavelmente macabro. Asfixia, mais de dez facadas violentas nos pequenos corpos dos agora anjos de um céu entristecido de dor. O ódio na sua face humana mais asquerosa possível. Os quatro sorrisos se apagaram. O breu do mal e da morte levou essas quatro luzinhas de Natal que iluminavam os rostos de Yasmin, Donavan. Gyovanna e Kimberlly.

A crueldade tem tantos tons humanos que fica difícil, exaustivo, repugnante até pensar sobre isso. E sobre o quanto somos surpreendidos todos os dias pelo mal. Então prefiro o tom colorido da esperança. Vamos pensar que essas quatro luzinhas não se apagaram, apenas mudaram o local de brilhar. Talvez no céu. Talvez ao nosso redor. Talvez brilhem para sempre apenas como um sopro necessário e insistente que transforme o bem numa vontade irrefreável, forte, determinada. Vamos torcer para que a Justiça cuide desse monstro como precisa cuidar. E que seja justa de fato. Mas não vamos mais nem pensar nele, não merece o pé de nossa lembrança. Já esses anjos, sim. Yasmin, Donavan, Gyovanna e Kimberly. Vamos repetir seus nomes quantas vezes forem possíveis. Como um mantra. Com orações. Para que nunca se apague a força iluminada dos seus sorrisos e sonhos mais puros. Pois, onde quer que estejam em luz, esses quatro anjos, e todos os anjos por aí neste mundo louco, merecem só os nossos melhores pensamentos.


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