Matadores em massa

Matadores em massa

Oscar Bessi

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A tragédia que aconteceu no Espírito Santo, onde um jovem invadiu duas escolas e matou a tiros uma criança e três professoras, infelizmente não é um episódio imprevisível. Muito menos explicável de forma simplista. É natural que todos nós, abalados com esse tipo de tragédia, busquemos explicações imediatas. Queremos entender o que aconteceu. Queremos que alguém faça algo. Ou talvez amanhã sejamos nós, ou os nossos filhos, as vítimas. Casos assim têm se repetido no Brasil e no mundo. Como evitar? Por que acontece? Há teorias imediatistas, onde se coloca a culpa em jogos eletrônicos, ou em bandeiras partidárias, ou no imediatismo frenético dos dias modernos que torna tudo raso, impaciente e intolerante. Particularmente, só levo fé neste último argumento. Os outros dois colaboram circunstancialmente.

Um estudo sobre atiradores e assassinos em massa da Universidade de Oxford, Inglaterra, descarta a influência do videogame. Há um número gigantesco de crianças e adolescentes que gosta de jogos de luta, de guerra, de tiro e elas não se tornam violentas por isso. O videogame nem existia e essas coisas já aconteciam. Não é opinião, é pesquisa científica. Opinião (minha) é que líderes políticos e influenciadores de toda sorte, virtuais, cantores ou artistas, precisam ter discernimento de que o seu desequilíbrio instiga comportamentos nocivos. Então, tenham mais responsabilidade e respeito antes de abrirem a boca só para ganhar mais audiência. É tipo estádio de futebol, onde uma postura inadequada dos jogadores em campo pode resultar numa tragédia nas arquibancadas. Instigar é tão criminoso quanto violentar. E há mil maneiras de fomentar violências. Não há um “bem” quando se usa o mal como instrumento. Quem perde a razão e o equilíbrio com quem discorda não acrescenta nada, apenas fomenta ódios.

Mas há algo que a ciência também afirma: a esmagadora maioria desses assassinos em massa não é simplesmente um psicopata. Mas todos eles têm traumas severos, como abusos na infância, bulliyng, violência em casa, abandono afetivo, humilhações etc. E, aí sim, acredito na entrada desse ritmo frenético dos dias de hoje, movido a tecnologia e imediatismo, como um fator de agravo num quadro que já é feio por natureza. O ser humano é complexo. Mas existem necessidades que precisam ser atendidas desde criança. Uma delas é a atenção. Considero o celular e esta necessidade de estar sempre conectado, tão pregada por alguns profissionais, dois dos maiores venenos existente. Incentiva a falta de humanidade que nos cerca. Abduzidos e escravizados pela tela retangular menor que a palma da mão, não se usa com inteligência e equilíbrio esta maravilha que a tecnologia proporciona. Abusamos, criamos impaciência, imediatismo, raiva e estresse. Faltamos na atenção física, no olhar atento no olho do outro, na afetividade real. Descartamos a humanidade real e nos isolamos no mundo virtual. Como não é a arma, mas quem a usa que define o caos, e como não é o carro, mas quem o dirige que mata no trânsito, também não é a tecnologia que oprime, deprime e com isto instiga a violência. Mas o modo como lidamos com ela.


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