Era uma vez o maior campeão

Era uma vez o maior campeão

Palmeiras, 11 vezes campeão. Parece que faz tão pouco tempo que o Internacional vencia o Vasco da Gama e se tornava o time mais vezes campeão brasileiro. Um gigantismo que parecia inabalável. Eu era um menino apaixonado pelo futebol - mas parei de acompanhar o nosso principal torneio em 1986, quando a CBF, sem qualquer explicação lógica, retirou o Grêmio Esportivo Brasil do brasileirão. No ano anterior, o Xavante havia sido terceiro colocado. Fosse hoje, era vaga na Libertadores. O que aconteceu? E o escândalo de 2005? O que fazem com os gaúchos?

publicidade

Parece que faz tão pouco tempo. O Internacional vencia o Vasco da Gama, pela segunda vez, e se tornava o time mais vezes campeão brasileiro. Um gigantismo que parecia inabalável. Criança, eu me enchia de orgulho, porque este time era daqui, era gaúcho, era de Porto Alegre, a gente podia passar ao lado do estádio dele todo dia, de ônibus, ou até entrar - o que meu pai não recomendava, pois naquele tempo já tinha muita briga em estádios.

Mas não faz pouco tempo, não. Foi em 1979. Eu era um menino apaixonado pelo futebol, já. Lia a Folha da Manhã com avidez para saber de resultados de todos os campeonatos possíveis. Fazia meus próprios torneios de futebol de botão. Aquele ano foi estranho, para mim. Meu pai se aposentou e decidiu se mudar, queria uma vida mais tranquila. Eu deixei de ser porto-alegrense e descobri Montenegro, uma cidade que eu conhecia só de breves visitas aos meus primos, e que me parecia estranha. Não tinha a vida vibrante da capital. Pelo menos, tinha uma biblioteca pública maravilhosa e um campinho pra peladas perto de casa, coisa que, onde eu morava antes, não tinha ou talvez fosse longe demais e inacessível para mim.

Aquela coisa de dizer que era o maior campeão brasileiro foi uma corneta dos guris colorados por muito tempo. Eu acompanhava todos os campeonatos na expectativa de que alguém pudesse passar o Inter, ou ele criar uma nova marca, com o tetra. Nunca aconteceu. E não sei bem onde eu me perdi de acompanhar os resultados e, quando me dei conta, o gigantismo colorado já havia sido atropelado pelos times do centro do país.

Acho que parei de acompanhar o brasileirão em 1986, quando a CBF, ou a FGF (não lembro), sem qualquer explicação lógica retirou o Grêmio Esportivo Brasil do brasileirão. Sendo que, no ano anterior, o Xavante havia sido terceiro colocado, semi-finalista. Fosse hoje, era inclusive vaga na Libertadores. O que aconteceu? Com essa sacanagem, não deixei de gostar de futebol, mas parei de acompanhar com a atenção de antes. Foram tempos de coisas inexplicáveis, aquele final de anos 80, no futebol brasileiro. Quando me dei conta, o “maior campeão do Brasil” já havia sido superado por outros tantos.

Será que fazem algo contra os gaúchos? E  campeonato de 2005, aquele escândalo? Porque não foi revertido? O que é essa coisa inexplicável que, mesmo quando temos um futebol competente e vistoso, no final perdemos para eles?

O pior é que não tem mais volta. Nunca mais os gaúchos serão os maiores campeões. Uma vez li o Hiltor Mombach afirmar que nenhum gaúcho seria campeão brasileiro por uns cem anos neste campeonato de pontos corridos. Não concordei. Torci para ele estar errado, sou bairrista. Mas, com a derrota de ontem do Inter, cada vez mais dou razão ao Mombach. Os campeonatos são deles e sempre serão, os caras do centro do país.

Hoje vejo os palmeirenses comemorarem o 11º título brasileiro. Caramba! Eu achava o máximo o Inter ter três. E Santos e Flamengo têm 08 títulos cada um, o Corínthians tem 07 e o São Paulo tem 06. Apenas cinco times têm, só entre eles, 38 campeonatos! Quase quatro décadas só deles! Se colocarmos o Vasco na roda, entre Rio e São Paulo são 42 títulos para meia dúzia de times.

Aí a gente espia um campeonato espanhol da vida e é pior ainda. Dois times ficam se revezando nas taças e um terceiro, vez ou outra, heroicamente, dá as caras. Mas eu não sou espanhol. Sou gaúcho. E quero ver Inter e Grêmio voltarem ao protagonismo. Quero ver esse campeonato ter graça.

Ah. Também ainda sonho com meu Xavante na série A, mas aí é outro problema.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895