Caminhos

Caminhos

No exato instante em que você lê esta coluna. Alguém, em algum lugar, beija o seu amor intensamente. Uma criança sorri ao brincar com suas fantasias. E, também neste mesmo momento, alguém agride o seu próximo. Com socos ou armas, gestos ou palavras, gritadas na saliva ensandecida ou digitadas no mundo virtual. Em algum momento, poderemos escolher. E se pudermos escolher, é o que nos torna humanos.

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Neste exato momento, bem perto você, o amor se concretiza. E o ódio também. Talvez no mesmo lugar, talvez um ao lado do outro, quem sabe distantes. Mas em gestos humanos. Ou desumanos. E, se o que chamamos de desumano também é parte de nossa essência, é muito humano ser bom e ser mau, ser doce e ser amargo, ser nobre e ser vil. Se achar dono ou servir.
Considere o momento em que escrevo, ou o exato instante em que você lê esta coluna. Alguém, em algum lugar, beija o seu amor intensamente. Alguém ama. Alguém, por aí, recebe um abraço, um carinho, repousa sua cabeça no ombro de outro cuja alma e energia e presença física lhe confortam, lhe fazem bem, lhe protegem e apoiam. Um bebê nasce, cercado de alegrias. Uma criança sorri ao brincar com suas fantasias. Um cachorrinho abana seu rabo, feliz, um casal de sabiás namora num afago da brisa. E um raio de sol ilumina a flor perdida entre as pedras enquanto o maratonista, vitorioso, recebe o aplauso de seus colegas. Alguém vence uma etapa difícil, supera outra prova, vence o próprio destino.
E, também neste mesmo momento, alguém agride o seu próximo. Com socos ou armas, gestos ou palavras, gritadas na saliva ensandecida ou digitadas no mundo virtual. Alguém inventa uma mentira. Invade uma casa para roubar, invade uma vida para estuprar, vilipendia pelo prazer de causar dor. Alguém, neste exato momento, escolhe fazer uma pose para mascarar a própria vida, ignora um filho ou os que realmente lhe querem bem. Alguém se entrega ao glamour do poder. E alguém passa fome, muita fome, até mesmo a fome de ser alguém. Alguém mata. Outro, logo ali, desiste da vida.
Ser amor e ser ódio. Ser paz ou ser violência. Conciliação ou rivalidade. Confraternização ou intriga.
Em algum momento, poderemos escolher. E se pudermos escolher, é o que nos torna humanos. A racionalidade é o poder de pensar, essa condição única de avaliar e optar pelo melhor caminho. De não precisar agir apenas por instinto. De não seguir sem saber o motivo. Porque as dores são desconfortáveis sempre, para todos.E nos pedem resposta. Há momentos em que a tristeza e a decepção são tão grandes que nos pedem para virar ódio. Mas há momentos em que tudo é uma questão de escolha. O que responder e repercutir, o que copiar e colar, como responder. Se nós seremos espelhos de violência, desrespeito e intolerância, ou se seremos multiplicadores do que há de melhor em nossa natureza fantástica. Amor e ódio, muitas vezes, são apenas dois caminhos. Basta saber escolher.


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