Não vivo sem café

Não vivo sem café

Eu preciso café para escrever. Ou não sai nada. Vez ou outra, mas não com frequência e sim conforme a noite, troco por um vinho. Falando nisso, sabiam que o café surgiu sendo chamado de vinho? Seu nome original, qahwah, deriva de um palavra iemenita que remetia o seu sginificado para o vinho. Aliás, diz a lenda que o café foi descoberto por cabras, no século 9. Foi quando um pastor de cabras etíope, chamado Kaldi, percebeu que o seu rebanho comia frutos de uma árvore estranha e ficavam cheios de energia.

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Não vivo sem café

 

Eu amo o café desde que me entendo por gente. Menino, meu sonho era tomar café preto. E eu o fazia escondido. Meu pai não permitia que tomássemos puro, mandava colocar pelo menos dois terços de leite na xícara, com explicações sobre saúde, equilíbrio, necessidades do corpo e etc. Ele era um apaixonado por este tema. Lembro que, na sua estante, havia um livro que ele seguidamente lia e me chamava para comentar alguns trechos. “A cura pela comida”, era o título. Acho que escrito por um médico. Até que veio o câncer de intestino e ele, sem muita explicação, passou a ignorar aquele livro, chateado. Nunca admitiu que, na verdade, ele não seguia as recomendações do autor. E fazia com que eu e minha irmão seguíssemos, sem que ele mesmo o fizesse.

A questão do vício em café é psicológica. Pelo menos no meu caso. Só o cheiro do café já me provoca sensações tão agradáveis, tão confortantes, quanto aquele frescor suave na alma que só o perfume de um certo alguém, quando estamos apaixonados, é capaz de provocar. Já entrei em cafeteria, mesmo na pressa de compromissos, apenas para sentir o cheiro por alguns instantes e sair. O cheiro de café alivia a tensão. Instiga a mente. Faz o dia valer a pena.

Não sou muito de ir a shopping. Mas quando vou, preciso visitar uma livraria e uma cafeteria, no mínimo.

Eu preciso café para escrever. Ou não sai nada. Vez ou outra, mas não com frequência e sim conforme a noite, troco por um vinho. Falando nisso, sabiam que o café surgiu sendo chamado de vinho? Seu nome original, qahwah, deriva de um palavra iemenita que remetia o seu sginificado para o vinho. Aliás, diz a lenda que o café foi descoberto por cabras, no século 9. Foi quando um pastor de cabras etíope, chamado Kaldi, percebeu que o seu rebanho comia frutos de uma árvore estranha e ficavam cheios de energia. Eu, particularmente, até crio mais disposição com o café. Mas o bem que ele me faz trasncende isto.

Eu preciso doses regulares de café em meio ao trabalho. Eu preciso dar bom dia a uma xícara de café antes de ingerir qualquer outra coisa todos os dias. Se eu não conseguir tomar um café, ao acordar, meu dia começa torto. E tudo dá errado.

Já saí madrugada afora, nos horários e trajetos mais improváveis, e até pouco recomendáveis, atrás de qualquer boteco aberto que me vendesse um pouco de café solúvel ou em pó. Só por chegar em casa do trabalho sonhando com uma xícara de pretinho e descobrir que, por qualquer bocabertice inexplicável da minha parte, ele havia acabado sem que eu me desse conta.

Uma vez escrevi uma pequena novela, sob encomenda, em três dias. Devo ter tomado o café de um mês, enquanto escrevia.

E gosto do café preto, puro, sem açúcar. E não tenho essa de preferir espresso, coado ou solúvel. É café? Bora! É como amar alguém mesmo que ele esteja arrumado para festa ou escabelado arrumando o encanamento. Café é café. E se me aparece trufa com café, bala de café, qualquer coisa com sabor ou cheiro de café, lá estou eu, liberando meu lado consumista. Que só libero em doses quase tão generosas quando se trata de livros e gibis do Tex. Mas quem leva a maior parte do meu salário (fora os impostos, claro) é o café. Ainda não fiz a conta se gasto mais com café ou livros, por mês. Nem quero fazer. Posso me assustar.

Eu sempre precisei tomar um café antes de fazer uma atividade física. Mas só recentemente descobri que isso é bom mesmo, não era só uma mania minha.

E, acreditem ou não, café não me dá insônia. Tá, eu durmo pouco. Mas não é culpa dele. Já expliquei para o médico. Que não acreditou muito, mas entendeu que não adiantaria nada pedir que eu tomasse menos café. E nem vou falar em quantidades diárias, aqui. Não podemos resumir nossa vida em números. Sou contra.

Pode o meu Xavante não subir de divisão no campeonato brasileiro. Pode até não publicarem mais um novo livro do Padura ou de Galbraith. Pode o Tex sumir das bancas. Pode minha meia dúzia de leitores me ignorar totalmente em protesto pelas minhas crônicas. Só não pode faltar café. Nunca! Nenhum dia!

Nem no próximo minuto após encerrar este texto.


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