A infinita máquina de perversidades

A infinita máquina de perversidades

Oscar Bessi

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Há quem diga que o brasileiro é um povo problemático. Realmente, de quinhentos e poucos anos para cá, a coisa tem sido meio insana. A pilhagem chegou de caravelas, ganhou o apelido de descobrimento – para se justificar na história oficial dos vencedores – e se instalou por séculos, matando inocentes, ditando regras e fazendo escola. Mas nem tudo é ruim, em nosso país, nem somos todos parte desse mal afamado conjunto de adoradores da má conduta. Apenas somos humanos. Multifacetados. O que há de mais inteligente e idiota na natureza. Na Escócia, alguns leitores vão recordar, furtaram o Bob. Lembram do Bob? Nunca mais devolveram. Bob era um policial feito de cartolina, em tamanho real, que ficava parado na rua apontando um radar (também de papelão) para os veículos que transitavam na avenida. O objetivo da Polícia era fazer com que os condutores diminuíssem a velocidade. Vejam só, falta de efetivo e condutores desrespeitosos não são problemas exclusivos do terceiro mundo. Nem a raiva pelo simples e, lógico, para qualquer sociedade organizada, fato de sofrer uma fiscalização. Nem o furto de um bem público. Talvez tenham picotado o Bob. Talvez ele esteja na parede do quarto de um fã. Vá saber.

Esta semana ganhou notoriedade, no Piauí, a investigação que a Polícia Civil daquele estado do Norte brasileiro faz para tentar descobrir o(s) dono(s) de um perfil criado nas redes sociais apenas para postar fofocas. Mas não são aquelas fofocas sobre a vida de famosos, que muitos (e eu não entendo como) conseguem gostar e seguem com fidelidade e sede. Era fofoca mesmo, sobre os habitantes da cidade, com revelações íntimas. A maioria acusando pessoas, com todos os nomes e letras, de traição. Uma maquiadora da cidade liderou o movimento de denúncia: fez “print” da publicação, levou ao cartório onde fez a ata notarial para que tenha validade como prova e registrou ocorrência na delegacia. Seu exemplo foi seguido por outras vítimas.

Em tempos de guerra em redes sociais, é preciso se dar conta de que essa infinita máquina de perversidades chamada mente humana já recebeu seus mecanismos de controle. Necessários. Isto que acontece no Piauí é o chamado crime de difamação. E, se praticado na rede mundial de computadores (Internet), a pena pode ser triplicada. Ou seja, dá cadeia. Afora, claro, a justa indenização que deverá também ser exigida por quem foi difamado. Infelizmente, nosso lado mais obscuro dá audiência para esse tipo de coisa. Então falar mal, esculachar com a honra de alguém e até mesmo acusar levianamente qualquer um de qualquer coisa repercute. O recomendável é nunca deixar por menos. Tomar a atitude que tomou a maquiadora do Norte. Leis existem. Estão aí. São diversas, acreditem ou não, com o fulcro de proteger o cidadão. E, no fundo, o “não dá nada” é muito mais culpa de quem cruza os braços e fica só na lamentação, que não sai do lugar, do que quem vai atrás e exige o cumprimento das leis. E a justa reparação dos crimes.

 


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