Os policiais poliglotas

Os policiais poliglotas

Oscar Bessi

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Talvez a maior agonia de um ser humano em terras estrangeiras seja não conseguir se comunicar. Principalmente numa situação de necessidade de socorro, orientação ou encaminhamento. Que ninguém está livre de passar por uma emergência. Tenho um amigo que conta as dificuldades que passou num badalado ponto turístico da Europa, ao ser vítima de furto. Ele, que fala inglês mas não falava o idioma local afora algumas palavras básicas, e não treinara nenhuma para uma situação daquelas, de repente se viu num estado de extrema aflição. Porque um larápio havia levado sua carteira e passaporte. E aí tudo se complicava. A polícia local não demonstrou muito interesse em entender o problema que se passava, e a gente fala mal da nossa, em nosso clássico complexo de inferioridade, mas aqui temos algo chamado Polícia Comunitária, coisa que em certos países de “primeiro mundo” não parece importante ou talvez não o seja para turistas de terceiro mundo. Demorou muito até que meu amigo encontrasse alguém que lhe amparasse e conduzisse aos devidos encaminhamentos legais. Demorou muito mesmo. Uma decepção. Pois fazer foto em cartões postais, qualquer um faz. Quando se precisa do lado B dos lugares é que conhecemos como as coisas são de verdade.

Pois neste evento internacional que ocorreu em Porto Alegre, o South Summit, a segurança pública gaúcha deu um show de acolhimento. Numa reunião preparatória para o evento, muito antes de seu início, ao estudarem as estratégias e pontos cruciais para a segurança de todos os que à Capital dos gaúchos viessem, os coronéis Douglas e Nunes, da Brigada Militar, respectivamente sub-comandante geral e titular do Comando de Policiamento da Capital, definiram: vamos repetir o que foi feito em outros eventos de grande porte, como a Copa do Mundo, e colocar policiais militares poliglotas em todos os turnos do evento, nos locais de principal movimentação do público que comparecesse. E não só no nosso belíssimo Cais, mas também no aeroporto, rodoviária e pontos turísticos. Assim, integrantes da BM que falam fluentemente inglês, espanhol, italiano, francês, alemão, entre outros idiomas, estavam prontos para atender os milhares de visitantes de Porto Alegre nos três dias de evento. Tudo isto sem gerar qualquer custo extra para o Estado. E sem prejudicar em nada a estratégia de policiamento para os demais cidadãos que moram ou trabalham na cidade. Uma aula de excelência.

No evento, o RS teve oportunidade de mostrar como utiliza, atualmente, a tecnologia para redução de seus índices de criminalidade e violência. A conexão dá o tom do encontro e a tecnologia mostra suas novas armas para um mundo cada vez mais ágil, inteligente e preciso. Mas não há robô ou programa ou inovação que funcione sem seres humanos por trás. Seres humanos que precisam de segurança. De conforto, de amparo. Um jovem empresário estrangeiro, preferiu que seu nome não fosse divulgado na coluna, receoso pela piada dos colegas que porventura lessem o jornal, perdeu a carteira. Não foi furto, foi vacilo mesmo. Enamorou-se no evento (e não por uma startup) e se distraiu. Foi salvo por um policial militar que falava inglês. “Eu me senti acolhido”, ele nos disse. E melhor ainda: encontrou a carteira. Aqui sabemos receber pessoas. E sua tecnologias.


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