As vozes do bem e do mal

As vozes do bem e do mal

Oscar Bessi

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Como outras 15 milhões de pessoas espalhadas pelo planeta, Idina Menzel, a dubladora original da personagem Elsa na animação Frozen, da Disney, compartilhou nas suas redes sociais o vídeo da pequena Amelia Anisovych. A menina ucraniana, de 7 anos, cantou com sua voz doce e pura a música cheia de otimismo “Let it go” (em português, "deixe ir") e conquistou o silêncio e os aplausos emocionados de uma gente que se amontoava num barulhento sofrer. Ela estava com a família e outras dezenas de pessoas num bunker subterrâneo ucraniano, desses que abrigam quem tenta se proteger da insanidade assassina da guerra. A criança desenhava e cantava entre tantas mulheres que, no seu mês, tentavam apenas manter a esperança de sobreviver, sem ao menos pensar na indignidade que fez o infeliz youtuber, que, por um desses descasos que temos com a responsabilidade do nosso voto, virou deputado, falou, fiel ao estilo que o consagrou e consagra tantos outros, ou seja, falar bobagens sem qualquer limite ou pudor.


E a ausência de limite e respeito levou nosso país, que vive suas guerras de sempre, às notícias com uma sequência de atos tão tristes quanto absurdos logo onde já fomos referência mundial de alegria e talento: o futebol. Fomos, no passado, pois não somos mais há um bom tempo. O que hoje nos leva à repercussão mundial é a violência. Em Salvador, uma bomba e mais dois artefatos explosivos atingem o ônibus do Bahia. Terrorismo. E, inexplicavelmente, o jogo saiu mesmo assim. Por aqui, um delinquente esperou o momento adequado para atacar o ônibus do Grêmio, num fato menos grave que o baiano, mas suficiente para causar o cancelamento da partida. Em Curitiba, torcedores do Paraná Clube invadiram o campo para agredir os jogadores de seu time por conta do rebaixamento da equipe no estadual. Nesses três episódios, separados entre si por poucos dias, não se pode dizer que as ações tiveram algo a ver com esporte. Muito menos com paixão. É apenas violência gratuita, praticada por uma parcela da sociedade adoecida que, dia após dia, transforma atos isolados de loucos em temores coletivos.


Sim, creio na teoria dos atos isolados. Estes aumentam, por certo, porque cresce o número de habitantes, e seres humanos são assim. Volta e meia violentos. Irracionais. Mas há que se considerar que uma infinidade de partidas de futebol ocorrem todos os dias e acabam sem brigas. Ao contrário, em confraternização entre amigos. Por serem amadoras e não terem fortunas envolvidas? Acho que não, afinal quem promove a violência nem participa do lucro do futebol. Quem ganha de verdade hoje está num time, amanhã no outro, e dá de ombros para o fanatismo. E creio na força de vozes como a de Amelia. A morte ameaça com bombas, mesmo que sua família não quisesse briga com ninguém. E ela canta. Encanta. E se multiplica na emoção de milhões que estão ao seu lado. Fanáticos violentos não conseguem isto. É um sinal. Há esperança!


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