Obrigado, heróis de Porto Alegre

Obrigado, heróis de Porto Alegre

Oscar Bessi

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Na noite em que um dos mais belos cartões postais do país se tingiu de luzes apocalípticas, jamais esqueceremos o amanhecer com o gosto amargo da dúvida: onde estão eles? O prédio da Secretaria de Segurança Pública ardeu em chamas neste inesquecível e trágico 14 de julho. O coração e o cérebro de boa parte das forças públicas que, pelo povo gaúcho, têm combatido e vencido o crime e a violência nas diversas paisagens urbanas ou rurais deste complexo pampa de hoje. Por sorte, a tecnologia de ponta está aí para preservar dados, sistemas, processos, ações e investigações. E quando nos preparávamos para dizer “menos mal que foram apenas prejuízos materiais”, a madrugada nos deu a notícia de que dois bombeiros não foram encontrados. Integrantes de equipes que ingressaram no coração das chamas para descobrir sua origem e enfraquecer o sinistro, eles não voltaram. E, com as paredes, ruiu nosso ânimo na incerteza sobre o destino de ambos.

Um tenente e um sargento. Homens experientes, com muitos anos de corporação, apaixonados pelo ofício, pela missão, pelo exercício diário e abnegado de salvar vidas. Um deles estava de folga, em casa, preparando-se para dormir quando descobriu que havia um grande incêndio em andamento. Ele não pensou duas vezes e avisou a família que precisava ajudar os colegas de serviço. Horas depois, seu nome era chamado por todas as vozes da esperança de colegas, amigos, familiares, desconhecidos. De toda uma população ávida pela notícia de que ele e seu parceiro seriam encontrados. Enquanto, agoniado, eu sabia por amigos das buscas, lembrei do soldado Anderson Scherer, ano passado. O bombeiro estava de moto, indo para o serviço, quando viu sinais de um incêndio numa comunidade do bairro Cristal, em Porto Alegre. Sem equipamentos, sem roupa adequada, ele só ouviu alguém dizer “minha irmã está lá” e entrou, antes que seus colegas pudessem chegar, no meio das chamas e salvou uma mulher. Parou no hospital, de tanta fumaça que inalou. Mas um bebê hoje não é órfão de mãe graças a sua coragem. E ele disse que faria tudo de novo.

Quem são esses homens e mulheres que, por ideal, pela convicção de que fazem o que precisa ser feito, encaram a morte, o perigo e desafiam a lógica? Quem são esses seres humanos fantásticos que oferecem sua vida todos os dias para salvar quem nem conhecem, sem perguntar se merecem, se as convicções combinam com as suas, sem conceitos ou preconceitos, apenas entendendo que são vidas e precisam ser salvas? Certamente, não estão entre os “privilegiados” do sistema público. Ou estão. Porque alguém que deixa sua família para ir ao encontro do perigo e se tornar um herói sem capa ou poderes especiais, certamente tem um privilégio: é uma alma especial e faz a diferença neste mundo. Obrigado, heróis de Porto Alegre, de hoje e de sempre! 


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