Patrocínio

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Oscar Bessi

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É incrível ver como a vontade de direcionar uma visão sobre os fatos determina o tom do que se divulga nas redes sociais. Tudo bem, vivemos sob um caleidoscópio natural e infinito, onde tudo toma formas diferentes dependendo do lugar que se ocupa, do jeito de olhar e do momento em que se vê. As coisas humanas são assim. Múltiplas. “Olhe sob outro ângulo”, nos aconselham sempre os mais experientes. E ninguém pode ser considerado um criminoso se não tiver essa capacidade de se colocar no lugar do outro, ou se posicionar melhor para ver as coisas de jeito diferente. Também são humanos a nossa limitação e o nosso egocentrismo. Mas há determinadas situações que tiram a paciência. Uma delas, preciso citar, fala sobre o desaparecimento do soldado Patrocínio, em São Paulo. Na tarde de ontem, a Polícia prendeu um suspeito de envolvimento no seu desaparecimento. 

O jovem brasileiro Leandro Martins Patrocínio, homem negro, trabalhador e de origem humilde, trocou de estado para tentar melhorar de vida e ingressou como soldado na Polícia Militar de São Paulo. Porém, está desaparecido desde sábado, dia 29 de maio, quando, depois de visitar um amigo, se dirigia ao seu local de trabalho, a base operacional da Polícia Rodoviária Estadual paulista, em São Bernardo do Campo. Foi visto pela última vez no metrô, na zona Sul paulistana. Denúncias anônimas informaram aos agentes que o soldado fora reconhecido como policial militar durante um assalto e, logo depois, assassinado. Tudo indica um fim trágico para este jovem, mais uma agressão covarde contra a sociedade organizada e um novo atentado contra a liberdade.

Até o momento ele não foi localizado. Mas algumas vozes unilaterais já se apressaram em afirmar que o soldado estava em um baile funk, na zona Sul da capital paulista, porque houve compra com o seu cartão de crédito perto dali. Sem cogitar a hipótese de o cartão ter sido usado por assaltantes. Mas, se um cartão de traficante morto for usado perto de uma base policial, pronto, aí inverte a coisa e os policiais são os óbvios executores do indivíduo. Assim como já se apressou em questionar a ação de um grupo tático da Polícia Militar na localidade. Ora, se está buscando um policial desaparecido. Quem é para mandar, então? Scooby-doo e sua turma? Os Power Rangers? Chega a ser deprimente ler esse tipo de coisa sobre o fato nas redes sociais. Não é a vida do soldado que importa, nem haverá manifestações dizendo isto, mas a necessidade de moldar os fatos sob a única lógica do interesse próprio. Uma pena. Patrocínio, o brasileiro, não importa. Sua voz seguirá sufocada.


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