Não há rotina em abordagens policiais

Não há rotina em abordagens policiais

Oscar Bessi

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Confesso que muitas vezes me soou estranho o termo “abordagem de rotina”, utilizado para explicar ao cidadão o motivo de ele, ou seu veículo, ter sido parado para verificação ou fiscalização. É que a palavra rotina, em seu significado mais comum, remete a “caminho já conhecido”, ou “hábito de fazer as coisas sempre da mesma maneira”. E, numa abordagem policial, nunca se sabe o que pode acontecer. É preciso contar com toda e qualquer reação possível por parte de quem será abordado. Uma tentativa de fuga por bobagem, um susto, indignação, incompreensão e até (raríssimas vezes, mas acontece) o agradecimento por se estar fazendo o trabalho preventivo para segurança de todos. Mas também se espera o confronto. E os policiais precisam estar prontos para o pior. Foi o que aconteceu na noite de terça-feira, na zona Norte de Porto Alegre.

O patrulhamento que a Força Tática do 11º BPM realizava, este sim, era de rotina. Então veio a denúncia de que criminosos levavam em um determinado veículo armas para uma região conflagrada. Com perspicácia, atitude e inteligência, os integrantes da BM esperaram o carro certo. No lugar certo. Mas os criminosos não aceitaram a abordagem e iniciaram o confronto. Um PM foi ferido. Dois homens foram mortos. O confronto foi tão rápido quanto intenso. Lembrei de certa feita, também na zona Norte, quando após horas exaustivas num cerco a assaltantes de banco, decidimos, eu e meu companheiro daquele turno, almoçar lá pelas 16h. Encomendamos lanches rápidos. No caminho para o intervalo, ao dobrar uma esquina, um tiro estilhaçou o para-brisa da nossa viatura. Era um assalto em andamento e os bandidos estavam no local no exato momento em que dobramos a esquina. Adeus fome. Felizmente estávamos atentos e nossa reação também só foi ruim para os criminosos.

Não há rotina no front da atividade policial. A maior calmaria pode desabar numa hecatombe violenta em frações de segundo. E o policial militar, fardado, sinaliza a presença do Estado, enquanto o criminoso se disfarça em roupas e carros comuns em meio a todos. Volta e meia vejo alguém reclamar do rigor de uma abordagem policial. Da voz enérgica que mandou parar, dos cuidados de segurança do policial “achando que era bandido”, da necessidade de verificar tudo mesmo onde não há coisa alguma. É porque fatos como os da noite de terça acontecem todos os dias. E a abordagem precisa resguardar o policial, preparado para o pior, sempre. Sobrevivência. E para preservar os inocentes ao redor. Com educação, tudo será explicado depois, em caso de engano, e é comum uma denúncia ter tão poucos dados que seja preciso verificar quem nada tenha a ver até chegar ao alvo. Normal. Mas prefira uma abordagem policial do que a abordagem cruel de um criminoso. 


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