'Tudo isso é tão temporário'

'Tudo isso é tão temporário'

Oscar Bessi

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Quando o prefeito de uma cidade gaúcha decidiu que na sua cidade os servidores da segurança pública teriam prioridade na vacinação contra a Covid-19, muitos anunciaram que ele estava errado e iria  se incomodar. De fato. Até seus erros cometidos anteriormente apareceram, a fim de desmerecer seu gesto. Porém, o pronunciamento do prefeito viralizou nas redes sociais, principalmente entre os profissionais de segurança pública. Porque, dando o devido desconto ao que é enfático em todo discurso político, para aos servidores desta área foi um alento. Que desde o início da pandemia, e principalmente agora, no seu período mais crítico, os servidores estão no front, nas ruas, contra este mal. Contaminando-se todos os dias, adoecendo, morrendo. Em contrapartida, seus descontos de previdência aumentam e suas carreiras congelam sem promoções, sacrifícios não partilhados por outros entes públicos. Com tanta paulada contra,  não podem gostar de uma voz que, finalmente, os defenda?
Nosso vizinho Uruguai, tão criticado por políticas públicas visionárias, deu aula. Lá, a prioridade na vacinação contra a Covid-19 foram os servidores da Educação e da Segurança, além da Saúde. Ah, são países diferentes, tamanhos diferentes. Não, as atitudes públicas  são bem diferentes. E atitudes podem ser adotadas em qualquer lugar. Chega a ser triste, para não dizer bizarro, saber que um país manda todos os dias seus agentes para o foco de uma guerra, mas não os protege. Ao contrário, os valoriza cada vez menos. Então vem alguém e diz o óbvio. Vai responder judicialmente por isto, ok. Mas sempre é bom lembrar que esse negócio de dizer o óbvio já mudou destinos de povos inteiros, mesmo que a prática, depois, não tenha sido assim tão próxima daquilo tudo que se dizia defender.
Perdi amigos e familiares nesta pandemia. Perdi um primo querido. Adoeci, tive medo, me curei, sigo com medo. Mas quando a emoção ainda nos tirava a graça, esta semana, com a partida do colega e amigo soldado Vanderlei, do 5<SC120,176> BPM, li o depoimento emocionado da esposa do soldado. Um casal na flor da idade e cheio de planos. Um homem íntegro, apaixonado pela família e pelo trabalho na Brigada Militar, sempre voluntário. E ela, que podia se permitir apenas o ódio à injustiça que o destino pregou, ofereceu um texto tão lindo quanto emocionante e sereno ao mundo. Um desabafo, um alerta, um apelo. O texto está nas minhas redes sociais. Ao narrar com emoção tudo que vivera naquele momento tão triste, suas palavras plenas de dor, mas com sua força gigantesca de mulher, mãe e cidadã, oferecem uma declaração de amor infinito ao marido e, além disso, aos seus semelhantes. “Olhe ao redor, respeite a dor dos outros”, ela escreveu.  “Tudo isso é tão temporário, vale a pena esperar”. E termina com um “Cuidem-se”. Por favor, abram o coração e a mente. E a escutem. É por todos nós. 

 


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