Um último esforço pela sua segurança

Um último esforço pela sua segurança

As pessoas, cansadas do isolamento, ou de restrições, aproveitaram a onda de normalização que parecia chegar e largaram de vez os cuidados

Oscar Bessi

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A noite de segunda-feira mal havia chegado quando precisei procurar um hospital. Uma de minhas filhas havia sido diagnosticada com Covid-19. As recomendações médicas pediam que nós, familiares, nos mantivéssemos em isolamento por dez dias. E monitorando possíveis sintomas. Pois no mesmo dia tive diarreia, tosse, garganta incomodando, dores pelo corpo, um pouco de dificuldade respiratória, fadiga e vômitos. Não havia febre, sequer eu perdera olfato e paladar. Eu não considerava algo preocupante, podia apenas casar com a tal virose, que, a meu ver, tem ligação com certas condições desfavoráveis, descartáveis e artificiais, que cercam nosso jeito moderno de viver, ou uma simples soma do entra e sai das salas de ar condicionado com o calor da rua. Mas fui atrás, por insistência da família, que não quer saber de brincar com o tal vírus. Fiz alguns exames. Só que as respostas não são imediatas, sigo aguardando. E me cuidando. Isolado. O que me assustou, porém, foi o que me relataram as equipes de saúde do hospital.

A auxiliar de enfermagem que verificou meus sinais vitais confessou, um tanto emocionada, que se sentia cansada. E assustada. Ela já teve Covid-19 – quase todos os que me atenderam naquele hospital já haviam sido infectados pelo coronavírus – mas ela não se sentia imune. Nem segura. Por mais que os esforços de todas as equipes médicas tentassem garantir aos seus profissionais o máximo de segurança possível. “Estou neste setor desde o início da pandemia. E é o nosso pior momento, nunca tivemos tantos casos e tanta procura”, relatou a auxiliar de enfermagem. Fato. As pessoas, cansadas do isolamento, ou de restrições, aproveitaram a onda de normalização que parecia chegar e largaram de vez os cuidados. Jogaram as máscaras fora, se aglomeraram sem restrições, foram na conversa desastrosa, irresponsável e equivocada de que o problema “estava no finzinho”. Não estava e não está. Falta pouco para termos a vacina, mas o problema nunca esteve perto do fim.
O efeito da ignorância é o que vemos agora. Hospitais lotados, UTIs numa loteria entre vidas para sobreviver ou não. Equipes médicas esgotadas. E a ameaça de tudo fechar outra vez, por conta de uma atitude coletiva absurda. Há que se fazer um apelo: com muitos sacrifícios, superamos o inverno, e mesmo assim perdemos milhares de entes queridos na luta contra o vírus. Porém, o grande mal nunca foi o frio. Foi o comportamento. O respeito, por nós mesmos e pelos outros. Estamos, em pleno tempo de festas e comemoração do amor e da fraternidade, voltando ao medo. Quando seria tão simples mantermos os cuidados básicos.

Não ouçam quem dá de ombros ao seu povo e nem se importa com as mortes. Ouçam quem nos quer vivos. Mais um esforço pela segurança para todos, pela vitória da vida. 


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